FT-CI

Mobilizações na Argélia e Tunísia

As revoltas se estendem no Magrebe

09/01/2011

A REBELIÃO JUVENIL NA ARGÉLIA E NA TUNÍSIA

A tensão social no Magrebe está crescendo rapidamente. Tudo teve início com a dramática situação de Mohamed Bouazizi, um técnico de informática da Tunísia desempregado de 26 anos, que se imolou depois de uns policiais terem virado seu carrinho de vendedor ambulante por não ter licença. A partir daí centenas de protestos se estenderam por todo o país. Alguns dias depois, os protestos já haviam se estendido ã Argélia. Munidos de paus e barras de ferro, uma rebelião, sobretudo de jovens, se apoderou do centro de Oran e de ao menos quatro bairros da Argélia, incluindo o centro de Bab el Oued. Os manifestantes apedrejaram e lançaram coquetéis “molotov” contra edifícios públicos, começando por algumas delegacias como a de Bab el Oued.

Em ambos os casos coloca-se em evidência o desespero da juventude majoritariamente desempregada, que se considera sem futuro e oprimida por regimes pro-imperialista reacionários. Isso tem se expressado nas diferentes palavras de ordem que ecoavam nas manifestações: “ladrões, devolvam o dinheiro do povo!”, “Fora os ladrões de Cartago! (a sede do palácio presidencial que Ben Ali ocupa desde a 23 anos”.

Na Tunísia, pequeno país do Magrebe, “segundo um estudo oficial realizado pelo ministério do trabalho tunisiano em colaboração com o Banco Mundial, se a taxa de desemprego global era de 14% em 2008, entre os jovens de 18 e 29 anos era quase 3 vezes superior a dos adultos”(Le Monde, 7/1). Nesse sentido, não surpreende que o desemprego entre os jovens seja “a faísca que provocou esta revolta” como explica uma jovem tunisiana de 27 anos ao diário El País, “mas os manifestantes criticam também o poder”. “Os Tunisianos estão fartos dos 23 anos de ditadura, corrupção e de falta de liberdade de expressão”. Tunez (a capital) já completa 3 semanas de protestos e distúrbios. Após a morte deste jovem realizou-se uma manifestação na localidade de Menzel Buzayane que finalizou com o assassinato, com dois disparos no peito, de Mohamed Amri (um estudante de 25 anos). Chawki Hidri de 43 anos foi ferido ã bala e faleceu poucos dias depois.

A estes protestos se somam os advogados que protestam contra a repressão lançada pelo governo, dos 8000 advogados da Tunísia 95% fizeram greve. Tambem em París se realizou uma manifestação em apoio ao povo tenecino, com a participação 250 pessoas. Um dos manifestantes declara que estavam ali “em solidariedade com nossos irmãos na Tunísia (...) O que está acontecendo é um mal por um bem (…) um dia a raiva teve que se expressar” (Le monde, 6/7). Esta situação de mobilização crescente , que abarca questões sociais mas que incorpora cada vez mais reivindicações claramente políticas, obrigou a cúpula do sindicato único, a UGTT (União Geral dos Trabalhadores Tunisianos), a declarar seu apoio aos manifestantes: “Nós apoiamos as reivindicações da população de Sidi Bouzid (cidade de onde era originário o vendedor ambulante que se imolou) e das regiões interiores, a UGTT não podia fazer outra coisa que apoiar este movimento, por trás dos que estão na necessidade e que pedem postos de trabalho, declarou o secretário adjunto da UGTT, se dirigindo a uma multidão reagrupada em frente ao local da central, na praça Mohamed Ali” (Le monde, 8/1).

Na Argélia a rebelião é mais juvenil, menos massiva, e mais violenta que na Tunísia. Mas a explosão social pode permitir que se extenda ao resto dos países do Magrebe. É necessário considerar que 75% dos argelinos são menores de 30 e desses 20% estão desempregados. É uma explosão que expressa o mal-estar contra o aumentos dos preços dos alimentos (pão, leite, açucar e azeite) e o crescimento do desemprego. Além do mais, nesta nova e jovem geração há um crescente descontentamento contra o regime.

Na Argelia passou-se quase uma semana com centenas de jovens enfrentando-se com a polícia em combates de rua. Segundo os indices, “O custo da farinha e do óleo dobrou nos ultimos meses, até atingir preços recordes, quando o quilograma de açúcar, que até poucos meses apenas custava 70 dinares, uns 0,7 euros, aumentou para 150 dinares, uns 1,5 euros”1. Segundo fontes oficiais o desemprego se situa em 10%, mas organizações independentes o situam em 25%. Segundo dados oficiais, na Argélia já há 3 mortos e 400 feridos (dos quais 300 seriam policiais). Um dos mortos é um jovem de 18 anos Azzedine Lebza, da provincia de Msila, outro é um homem de 32 anos assassinado em Bou Smail ao receber um tiro de gás lacrimogenio na cara, segundo a AFP. Os enfrentamentos alcançaram as cidades de Oran e Blida. O diário “El Matan” comenta que os protestos chegaram na capital e também nas localidades de Dejlfa, Ouargla e outras regiões do país. Um argelino de 55 anos que vive no distrito de Bab el Oued explicava que “ A juventude está louca contra o regime. Não entendem por que um país rico é incapaz de oferecer trabalho, casas e uma vida decente a sua gente”. Miloud Aziz, de 47 anos dizia que “os preços são altos de mais para gente como nós. Demais é demais”.

A UE E OS EUA, CÚMPLICES DA DRAMÁTICA SITUAÇÃO DO MAGREBE

Como não podia ser de outra forma, nenhum membro da União Europeia pronunciou uma única palavra, nem mesmo contra os assassinatos de vários jovens que são protagonistas desta rebelião. É que aos distintos países imperialistas, principalmente os que mantem mais volume de negócios e expoliações como os EUA, França, o Estado Espanhol e Itália, não lhes interessa minimamente a vida dos trabalhadores do Magrebe. As informações do Wikileaks publicadas em jornais “confirmam que Bouteflika (presidente atual da Argélia) é apoiado pela França e pela UE e que a cúpula militar permitiu sua reeleição pensando que estava gravemente doente”1. “O outro cabo publicado pelo El País é o datado de 25 de janeiro de 2008, ou seja 15 meses antes da eleição presidencial argelina de abril de 2009. Em um encontro com seu homólogo americano, Bernard Bajolet, então embaixador da França na Argélia, havia explicado que o Governo francês e ele mesmo temiam que a Argélia se dirigisse para uma maior instabilidade. Explicou que não via nenhuma alternativa a um terceiro mandato do presidente Bouteflika. O senhor Bajolet explicou que, para a França, a prioridade na Argélia é a permanência da estabilidade econômica e do crecimento”2.

A efeitos práticos, para a UE (e neste caso ao Estado espanhol, França e Itália) lhe interessa que cheguem a bom porto os acordos para a criação de uma área de livre comércio (Associação Euro-mediterranea) pretendendo a liberalização total do comércio entre a UE e a Argélia, sobretudo os rendimentos pela exportação de hidrocarbonetos já que Marrocos e Tunísia têm um acordo parecido). Para o caso da UE o consumo de gás é proporcionalmente grande, excedendo os 20% do consumo das diferentes energias nacionais, ainda que o grau de dependência do gás de Argélia é menor, graças ás ramificaçôes do gasoducto que vem de Siberia. Para o Estado espanhol o consumo de gás argelino supera os 11% segundo o Plano Energético Nacional (PEN) que abastece ã UE, o gasoduto Euromagrebí.

Deste ponto de vista, os distintos países imperialistas não vão permitir nenhuma instabilidade social nestes países, defendendo as elites governantes argelinas e Tunisianas que assassinam os jovens e trabalhadores que se rebelam contra as condições de vida deplorável e a opressão de seus regimes.

É NECESSáRIA UMA ALTERNATIVA REVOLUCIONáRIA

Enquanto escrevemos estas linhas, inteiramos-nos que outro homem em Sidi Bouzid, a mesma cidade que o vendedor ambulante falecido, tentou se suicidar se imolando. Seu estado de saúde é grave. Estes gestos de desespero são reflexo claro do grau de decomposição do capitalismo e da barbárie que representa esse sistema. Mas também são uma prova mais da necessidade que há em organizar a classe operária mundial em grandes partidos de trabalhadores revolucionários em cada país, coordenados numa internacional revolucionária. A burguesia quanto mais baixo cai, mais violenta se torna. Nesses tempos de crises preparam todo tipo de ataque ás condições de vida, já precárias, da imensa maioria da humanidade para que os parasitas sigam desfrutando do fruto de nosso trabalho; para que sigam desperdiçando vidas destruidas pela miséria, a fome, a dívida, o desemprego... Só o movimento de massas revolucionárias auto-organizadas pode por fim a este sistema putrefato. É necessário lutar pelo resurgir do marxismo revolucionário, por um “renascimento” da perspectiva da revolução socialista.

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