FT-CI

Segundo Turno

Haiti: “Democracia” a mão armada

10/03/2011

No domingo, 20 de março, se realizou o segundo turno eleitoral no Haiti, em que há quatro meses de um escandaloso primeiro turno marcado pela proibição de dezenas de partidos políticos, - entre eles o popular Fanmi Lavalas de Jean-Bertrand Aristide – denuncias de fraude eleitoral do oficialismo, altíssima abstenção da população e a imponente supervisão dos cascos azuis da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).

O primeiro turno terminou com uma aguda crise politica. O candidato oficial Jude Celestine não pode conquistar uma diferença clara com Martelly, no meio de acusações de fraude de Préval. A pressão da OEA e do imperialismo terminou impondo uma saída politica e Celestine teve que dar um passo atrás. Isto expressa a ilegitimidade de um governo que demonstrou sua corrupção e incapacidade para sequer administrar a ajuda internacional que chega em conta-gotas ã população, logo depois do brutal terremoto que assolou o pais e cujas consequências seguem castigando a população.

O segundo Turno

Por trás do declínio do oficialista e genro do atual presidente René Préval, Jude Celestin, abriu-se o caminho ao segundo turno entre o ex cantor Michel Martelly e a ex primeira dama, Mirlande Manigat.

Se bem que não há ainda resultados oficiais, a maioria dos locais de votação indicam Martelly na frente. O candidato imposto pela OEA no primeiro turno (ver LVO 411 http://www.pts.org.ar/spip.php?arti...) tem sido apoiado pela reacionário Conselho Nacional Espiritual de Igrejas do Haiti, e chegou a declarar que teria como seu assessor de governo o sanguinário ex ditador Jean-Claude Duvalier.

Por sua vez, a conservadora Manigat fazia parte como primeira dama e suporte politico de Leslie Manigat em 1988, do chamado regime “neoduvalierista” ou “duvalierismo sem Duvalier” imposto por Henri Namphy a partir de 1986. São eloquentes os perfis destes candidatos, que tem aceitado as fraudulentas eleições de Préval e não questionam a ocupação da Minustah impulsionada sob mandato da ONU por um acordo entre o imperialismo norte-americano e o francês, que se da uma cota da influencia pela condição do Haiti de antiga colonia francesa.

As autoridades eleitorais se apressaram em caracterizar o ballotage como um “triunfo da democracia”, contando com o visto positivo da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Comunidade do Caribe (Caricom), tal como fizeram no primeiro turno apesar de reconhecerem as irregularidades. No entanto, prevaleceram a altíssima abstenção (que superou os 70%) e as manobras fraudulentas.

A volta de “Baby Doc” e “Titid”

Jean-Claude Duvalier, também conhecido com Baby Doc, exerceu por quase 15 anos (1971-1986) uma sanguinária ditadura depois de suceder seu pai François Duvalier (Papa Doc). Depois de ser derrotado em meio de uma revolta popular, viveu sob asilo na França de 1986 até 16 de janeiro de 2011, quando voltou de surpresa ao país. Foi recebido por seus seguidores e ex membros dos “tontons macoutes”, milicianos organizados pelos Duvalier para exercer o terror durante as ditaduras. Sua figura conta com a nostalgia daqueles setores que ansejam a ordem imposta pela força pelos Duvalier, frente a ameaça que constituíam as revoltas populares para os pequenos setores acomodados. Seu contraditório regresso não tem significado de nenhuma maneira uma troca na politica de impunidade diante das atrocidades cometidas durante seu governo, que incluem o assassinato político, as torturas e o roubo descarado.

Dois dias antes do nova data de ballotage, apesar do receio em meios governamentais e norte-americanos, voltou ao Haiti Jean-Bertrand Aristide, ex padre na teologia da libertação, que foi o primeiro presidente eleito democraticamente no Haiti, no ano de 1991. Foi derrotado no mesmo ano depois de 7 meses de assumir, e restituído em seu cargo 3 anos depois, quando pode terminar seu mandato, segundo a conveniência politica do imperialismo norte-americano na região. Ganhou novamente umas eleições muito contraditórias em 2000, e exerceu seu mandato entre 2001 e 2004, quando novamente foi ejetado do governo mediante um golpe, sendo levado por um avião norte-americano ã Africa do Sul, em que permaneceu exilado até seu recente reingresso. Apesar das acusações de corrupção que permearam seu governo, Titid se apresenta como progressista e é uma figura que conta com a simpatia de um importante setor da população, sobretudo nas camadas mais empobrecidas, concentra as expectativas de mudança da população mais miserável e golpeada da América Latina, e resulta em uma figura repulsiva para a direita duvalierista e pró-norte americana, sobretudo por certo flerte com o chavismo durante sua segunda presidência.

A volta destas figuras históricas da politica haitiana se da no fracasso da politica de ocupação em seus objetivos de estabelecer um regime burgues estável no Haiti, onde as condições de miséria extremas da população, agravadas pelo terremoto do ano passado que devastou o país, deixando-o em ruínas, geraram protestos e revoltas populares contra o governo e as forças de ocupação – cada vez mais rechaçadas -, as quais requerem cada vez um maior emprego da força violenta contra a população. Sem ir muito mais, durante este ballotage se desatou uma revolta regional em Artibonite que foi brutalmente reprimida pela Minustah, com um novo morto nas mãos desta vez do contingente argentino, mantido ali pelo governo “nacional e popular” de Cristina.

A presença destas duas figuras, que simbolizam polos opostos do espectro politico, é funcional ã necessidade de escorar um regime incorporando todos os setores, já que depois de anos de ocupação “estabilizadora, democrática e humanitária”, não há estabilidade, não há democracia e as massas sofrem uma situação humanitária em permanente deterioração, com as sequelas do terremoto, a cólera, a fome e uma miséria brutal, consequência da opressão imperialista e a rapina e corrupção das camarilhas dominantes.

Obama e Dilma, os chefes da ocupação

No recente encontro entre o presidente americano e a mandatária brasileira, os lideres da ocupação no Haiti reafirmaram seu compromisso com a mesma, reiterando o já pouco acreditável argumento da “ajuda humanitária” para a reconstrução, porem agregando, na véspera das eleições, a necessidade de “aliar o trabalho de estabilização efetuado pela Minustah no apoio ao fortalecimento politico-institucional e no desenvolvimento econômico e social do Haiti”. Ou seja, que a ocupação continua e se aprofunda, em linha com a politica norte-americana empregada no conjunto da região, que tem as Antilhas e o Caribe como avançada e que teve um ponto de inflexão com o golpe em Honduras de meados de 2009. A cumplicidade dos governos “progressistas” da região que com suas tropas sustentam a ocupação, demonstra sua funcionalidade aos interesses norte-americanos. É um dever dos trabalhadores solidários com seus irmãos de classe no Haiti denunciar este papel e combatê-lo energeticamente.

Fora a Minustah e o imperialismo do Haiti

Novamente denunciamos o fraudulento processo eleitoral, de que somente poderia sair um governo manipulado pelo imperialismo e “supervisionado” pelas forças da Minustah. Não haverá satisfação das legítimas aspirações democráticas do povo haitiano enquanto o país permanecer sob ocupação. Chamamos a apoiar a resistência do povo haitiano e suas aspirações de decidir seu destino sem tutela imperialista, assim como incentivar as expressões das massas por atuar de forma independente. Fora a Minustah do Haiti!

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)