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Estados Unidos: Cresce a resistência contra a Reforma Imigratória de Bush

Meio milhão de latinos se mobiliza nos Estados Unidos

10/04/2006

Meio milhão de latinos se mobiliza nos Estados Unidos

Por: Celeste Murillo

A maior mobilização latina da história

No dia 25 de março as ruas de Los Angeles foram palco da maior manifestação hispânica da história dos Estados Unidos. Segundo os meios de comunicação de todo o mundo, 500 mil pessoas marcharam na cidade onde residem mais de quatro milhões de latinos, quase 50% de sua população.
A principal consigna desta e outras mobilizações que se deram durante o mês de março foi: NÃO À REFORMA IMIGRATÓRIA, que busca enrijecer as políticas fronteiriças e criminalizar a imigração.

A lei migratória do republicano Sensenbrenner, HR 4437, aumenta a proteção das fronteiras, reduz o status da estância de imigrantes que ingressaram ilegalmente no país a criminosos e busca impor uma reforma de “hóspedes trabalhadores” outorgando vistos temporários a trabalhadores imigrantes (medida rejeitada pela ala mais conservadora do próprio partido republicano).

Desde a publicação do projeto, como um dos pontos da famosa agenda de Bush logo após a sua reeleição em 2004, obteve a resistência de vastos setores que apóiam os imigrantes latinos. A medida impulsionada por Bush se encontra hoje fortemente questionada, como ocorreu com outras políticas governamentais, em meio a um contexto crítico pelos revezes que a Casa Branca vem sofrendo no plano da política exterior e pelos fracassos em dar resposta ã crise como ã devastação que provocou o furacão Katrina ou a venda dos portos a uma empresa árabe, que resultou em um cisma político em seu próprio partido.

O cenário se complica quando faltam menos de seis meses para as eleições legislativas, que devem pôr a prova mais uma vez a figura desacreditada de Bush e os níveis de aprovação de seu governo. Governo este, que não pode sair do estancamento no Iraque, onde investiu milhares de milhões de dólares em una guerra cada vez mais questionada.
Ao longo da próxima semana começam as sessões no Senado para a aprovação da lei. A mobilização dos imigrantes começa com um caráter defensivo, ante ao ataque reacionário do governo e de seus setores mais conservadores. Frente ã ausência de uma alternativa independente hoje o movimento está contido principalmente pela iniciativa democrata, porém sua lastimável trajetória demonstrou que não é mais que uma fração do mesmo partido, ainda que haja divergência em palavras com os republicanos.

Os latinos representam uma das comunidades mais importantes nos Estados Unidos, e como alegam os manifestantes em várias cidades são o pilar de setores importantes da economia. Segundo o Hispanic Pew Center (que monitora a comunidade latina) existe cerca de doze milhões de imigrantes ilegais em todo o país, dos quais uma porção considerável trabalha. Nos últimos meses foram publicadas várias pesquisas que apontam para o aumento significativo de acidentes de trabalho (durante o ano 2005 morreram quase mil trabalhadores latinos ilegais). Os imigrantes latinos trabalham na agricultura (20%), limpeza e manutenção (17%), construção (12%), alimentos (11%), indústria (8%) e transporte (5%). Todas estas cifras são limitadas justamente pela contratação de imigrantes ilegais que estão inseridas nos dados censitários. Em 2004 os latinos representavam 71% do total dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos, e desta percentagem seis milhões são mexicanos.

A lei impulsionada pelo governo de Bush convergiria automaticamente os imigrantes não regularizados que trabalham, em criminosos, sendo que seus filhos freqüentam as escolas e muitos deles nasceram no próprio país. Ao mesmo tempo se enrijeceriam as leis fronteiriças, sob uma bandeira cínica de proteção aos imigrantes (que são vítimas de mercenários ao cruzar o rio e o deserto que os separa do “sonho americano”).

“Não somos criminosos, somos trabalhadores”

A primeira mobilização que levou ás ruas a força de resistência do movimento dos imigrantes se passou no dia 10 de março em Chicago, onde mais de cem mil pessoas marcharam (na maior marcha desde as históricas marchas operárias no final do século XIX), entre trabalhadores, pequenos e médios empresários, organizações sociais, políticas, sindicais e religiosas. O que se passou em Chicago desencadeou mobilizações por todo o país. Em Atlanta quarenta mil pessoas participaram da marcha no dia 24 de março, acompanhada pelo fechamento de negócios e boicote comercial, assim como também paralisações parciais, sob o lema “Um dia sem hispânicos”, mesmo assim foi aprovada uma lei anti-imigratória no estado da Georgia. Outras marchas se repetiram, culminando em mais de dez mil participantes na Carolina do Norte, Milwaukee e Phoenix, assim como em Denver (Colorado), Las Cruces (Novo México), Nova York, Filadélfia (Pensilvânia), Santo Antônio (Texas), Tucson (Arizona) e Washington (DC).

A mobilização multitudinária de Los Angeles precedeu uma jornada de luta dos estudantes secundaristas da cidade e arredores, em maioria filhos de latinos imigrantes. Na última quinta-feira dia 24, dois mil estudantes interromperam suas aulas e saíram de seus colégios gritando de “Não somos criminosos, somos seres humanos”, marchando pelas vias de acesso ã cidade. Em outras cidades da Califórnia houve manifestações de estudantes universitários em apoio aos imigrantes.

À mobilização em Washington

Muitas das mobilizações, de caráter claramente policlassista, foram dirigidas por líderes religiosos, por comerciantes e inclusive por representantes democratas, como o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa (filho de imigrantes mexicanos), um dos propulsores do projeto de lei dos legisladores McCain (republicano) e Kennedy (democrata). Este projeto impulsiona a legalização para os imigrantes residentes no país por determinado tempo, que estejam trabalhando e pagando seus impostos. O partido democrata, com todo o seu cinismo, posa hoje de defensor dos direitos dos imigrantes, quando na realidade oculta seu respaldo ás mais rígidas leis “anti-terroristas”, ao passo que renovam seu apoio ã nefasta Ata Patriótica, que não faz mais que multiplicar as políticas repressivas para com os setores mais oprimidos, as comunidades negra, latina e aos trabalhadores.

Esta lei é concebida hoje como alternativa ã reforma republicana e será defendida por uma mobilização nacional no dia 10 de abril até Washington. A AFLCIO (central sindical norte-americana) impulsiona o projeto, participou de várias marchas e convoca a mobilização nacional de abril. Sem dúvida, não moveu um dedo para por em movimento os milhões de trabalhadores latinos que trabalham nos serviços majoritariamente, cuja força poderia impor um freio ao ataque reacionário do governo. Esta força se fez presente em uma greve dura dos empregados de supermercados de Southern California.

A imponente mobilização dos latinos, em sua maioria trabalhadores e livres da desocupação e da pobreza no país mais rico do mundo, mostra sua enorme vontade de luta. Os dirigentes das mobilizações visam eliminar qualquer potencialidade deste movimento e a limitar o impacto que possa haver entre a classe operária norte-americana, que vem sofrendo golpes sem resposta de seus líderes sindicais, ou o que é pior, muitas vezes entregando de bandeja de prata as conquistas operárias como o seguro médico, a estabilidade trabalhista e as jubilações, como se passou recentemente na concessionária Delphi. Sem dúvida, alguns setores dos trabalhadores começaram a mostrar sintomas de mudança, como a greve dos trabalhadores do transporte em Nova York ou os grevistas da Boeing que se impuseram ante a patronal com duras medidas de força.

Nos braços das trabalhadoras e trabalhadores latinos repousa grande parte do funcionamento dos serviços e no coração da classe operária está seu melhor e mais poderoso aliado para a luta contra a opressão e a exploração.

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