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América Latina

O massacre de Uribe e o conflito na América do Sul

07/03/2008

O massacre de Uribe e o conflito na América do Sul

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A ação sangrenta de Uribe, atuando em consonância com o governo dos EUA é parte de sua política de intensificar as ações contra a guerrilha das FARC, incluindo sua negativa a todo tratamento humanitário de prisioneiros. Sua ação se localiza dentro da linha da chamada “guerra contra o terrorismo” impulsionada por Bush, que inclui a doutrina do “golpe preventivo” como justificativa para a ação realizada no território equatoriano. Neste sentido, é similar as justificações ás quais recorre o Estado terrorista de Israel para os assassinatos de dirigentes e ativistas palestinos, e para suas incursões nos territórios dos países vizinhos (como ocorreu no Líbano) sob o argumento e sua “segurança interna”. Não está longe os precedentes da atuação de Uribe na captura de dirigentes das Farc no território venezuelano e equatoriano, como Rodrigo Granda e Simón Trinidad, em total violação ã soberania destes países. A justificação por parte de Uribe da entrada de tropas colombianas em território equatoriano abre um precedente de enorme gravidade, já que legitima a ação das tropas colombianas em território estrangeiro, na mesma linha que o governo de Bush o fez com a detenção de prisioneiros em distintos países. Por isso consideramos que a ação do Exército colombiano, violando o território do Equador, constitui uma clara provocação do governo de Uribe que deve ser energicamente repudiada.

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O governo de Uribe tem um longo histórico de massacres e assassinatos. A “guerra suja” do Exército e os paramilitares são os responsáveis diretos do assassinato de milhares de camponeses, dirigentes sindicais, trabalhadores e ativistas políticos, que pouco devem ao terrorismo de estado praticado pelas sinistras ditaduras militares que se impuseram a sangue e fogo na maioria dos países da região na década de 70. É responsável pela expulsão de suas terras de milhares de camponeses, pela entrega dos recursos naturais ás multinacionais e ã assinatura de pactos econômicos, políticos e militares com o imperialismo que aumentaram a pressão do imperialismo dos Estados Unidos sobre o país andino. E mais ainda, Uribe está ligado aos setores do narcotráfico e ã chamada “parapolítica” colombiana. Por sua conexão com os paramilitares, 14 legisladores uribistas (junto a 6 de outros partidos), estão na prisão, e altos funcionários tiveram que renunciar seus cargos. Durante 2008 se espera que os políticos processados cheguem a mais de 50, e o próprio Uribe apareceu em fotos e vídeos com chefes paramilitares em sua campanha presidencial de 2002, e é acusado de ter dado apoio ã formação de grupos paramilitares durante seu mandato como governador da Antioquia a meados da década de 90. Por isso não é de se estranhar a ofensiva militar no Equador produzindo um massacre frente a guerrilheiros que não estavam em condição de exercer sua defesa, tal e como as ditaduras centro-americanas realizavam na década de 80 com as “orgias dos esquadrões da morte”. O governo de Uribe atua também em benefício dos interesses de Bush, que durante seu governo incrementou os fundos destinados ao nefasto “Plano Colômbia” e ao “Plano Patriota”.

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A Colômbia é um país que os ianques armaram até os dentes; conta com cerca de 400.000 efetivos entre policiais e tropas de exército, da força aérea e membros da marinha, enquanto a Venezuela, por exemplo, não chega a um total de 50.000. Em Colômbia atuam abertamente, além de centenas de marines norte-americanos, equipes de mercenários especializados contratados pelos Estados Unidos. Os EUA possuem na Colômbia abertamente três bases militares: as duas primeiras em Tres Esquinas e Florencia (ambas no estado de Caquetá), e a terceira na cidade de Villavencio (estado de Meta). O objetivo de instalar na Colômbia também a base militar de Manta (localizada atualmente no Equador) potencializada e reforçada, complementaria as existentes, e daria aos Estados Unidos uma maior capacidade de controlar as operações militares - não só relacionadas com a insurgência colombiana - que se realizem na América Latina e no Caribe. Com esta capacidade bélica é claro que Uribe contou ao menos com o apoio tecnológico e logístico do governo de Bush para realizar o recente massacre. O mesmo governo colombiano reconheceu a informação que a CIA forneceu para localizar Reyes.

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Junto com o objetivo general de obter um rendimento incondicional da guerrilha, é provável que Uribe utilize o aumento das tensões para voltar a insistir com uma nova reeleição presidencial. O mesmo dia que veio ã tona de Reyes, partidários do governo saíram a juntar assinaturas em apoio a uma reforma constitucional que permita um novo período de Uribe como chefe de estado colombiano. Ademais, busca uma mudança de cenário quando vinha libertar quatro reféns das Farc, existiam negociações avançadas para a libertação de outras doze pessoas, incluindo Ingrid Betancourt, ao mesmo tempo em que aumentava a pressão para uma “saída negociada” por parte de diversos países da região. É por isso que o fato se produz pouco depois da nova libertação unilateral de reféns por parte das Farc, questão que havia fortalecido a pressão internacional ao governo colombiano por aceitar o “caráter humanitário” que reivindicam a guerrilha e vários governos da região e da União Européia.

Uribe tenta também em total alinhamento com o governo dos Estados Unidos golpear e isolar a Venezuela, tentando difundir uma visão de que Chávez e o país que governa seriam “cúmplices” dos “terroristas”. Não é casualidade que a linha de argumento adotada pelo governo colombiano, como expressou a intervenção de seu chanceler na reunião da OEA, seriam os supostos vínculos da Venezuela - e do Equador - com as Farc, inclusive falando de financiamento de Chávez aos guerrilheiros colombianos. Mais ainda, o governo Uribe, afirma que denunciará ante a “Corte Penal Internacional” de Haia, Chávez e a Venezuela, por “financiamento e patrocínio de grupos terroristas”. A questão radica em que Chávez chamou ao reconhecimento das Farc como força beligerante, reivindicação que é intolerável de qualquer ponto de vista, tanto para Uribe como para os EUA, e se prestigiou internacionalmente pelo papel que desempenhou nas recentes libertações unilaterais de reféns por parte das Farc. Mas o certo é que até emissários dos EUA se reuniram com Raúl Reyes, para não falar da França e Suíça, que estabeleceram contatos para buscar possíveis acordos de libertação dos reféns.

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Em meio de uma forte polarização política na política na região, com a ruptura de relações entre Equador e Colômbia e a expulsão do embaixador deste país da Venezuela, assim como o fechamento de fronteiras entre estados e mobilização de tropas, o Conselho Permanente da OEA, finalmente aprovou uma resolução na qual se reconhece a violação do território equatoriano por parte da Colômbia, não se condena a esta última nem sem denuncia o papel do imperialismo norte-americano. É claro que do chamado grupo de “países amigos”, com o Brasil ã cabeça, não se pode esperar nenhuma condenação real ao massacre cometido por Uribe, nem ã ingerência do imperialismo na região. Por sua vez, a oposição da direita venezuelana saiu a se alinhar com a burguesia colombiana e os interesses norte-americanos, chamando ã OEA a que intervenha.

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Frente ao massacre e ã provocação lançada por Uribe com o respaldo do imperialismo norte-americano é preciso impulsionar a mais ampla mobilização dos trabalhadores e dos oprimidos da região para enfrentar este governo pró-imperialista, acabar com o Plano Colômbia e expulsar o imperialismo da região. Em particular, é necessário que os trabalhadores e o povo colombiano se mobilizem de maneira independente para acabar com o governo de Alvaro Uribe e toda a burguesia colombiana que impõem planos de miséria e fome. Exigimos aos governos sul-americanos que rompam relações com este governo. Defendemos o castigo aos assassinos de Reyes e seus companheiros e o reconhecimento das Farc como força beligerante, para além de que não compartilhemos sua estratégia revolucionária. Rechaçamos os ataques lançados pela Colômbia contra o Equador e Venezuela por supostos vínculos com as Farc e defendemos o direito a manter relações com elas por parte de todo o Estado. Estamos pelo fechamento da base de Manta no Equador e pela retirada de todas as tropas norte-americanas na Colômbia. Assinalamos com claridade que as “denúncias” do governo de Uribe contra o Equador e Venezuela buscam dar legitimidade a agressões contra estes países por parte do imperialismo, sejam políticas ou militares. Enquanto defendemos o direito destes países a se defender frente ã violação de seu território por parte das forças militares colombianas, como a realizada durante o massacre aos guerrilheiros das Farc, e chamamos a enfrentar ativamente qualquer tipo de agressão imperialista, alertamos que a saída e forçar uma guerra fratricida na região possivelmente seja uma das variantes levantadas pela política do imperialismo de Bush para sangrar o movimento de massas e criar uma relação de forças mais favorável a seus interesses na América do Sul. Os trabalhadores e as massas oprimidas devem confiar somente em suas próprias forças para conseguir a derrota do imperialismo e das oligarquias locais. A unidade latino-americana só poderá se fazer realidade com governos de trabalhadores nos distintos países e a constituição de uma Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina.

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