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Europa

Pela anulação da dívida e contra os planos de austeridade

11/02/2015

Pela anulação da dívida e contra os planos de austeridade

A "Troika", com a Alemanha ã cabeça, e os grandes bancos imperialistas, pressionam o governo da Grécia fechando o financiamento para que este se submeta ao pagamento da dívida e aos plano de ajuste que afundaram o país na miséria com a cumplicidade da burguesia grega. Frente a esta chantagem, é necessário organizar a mais ampla solidariedade internacional com os trabalhadores e o povo gregos.

A 25 de janeiro a grande maioria do povo grego votou pelo Syriza, expressando dessa maneira sua vontade de não seguir pagando com desemprego e miséria o “resgate” do capitalismo grego e dos grandes bancos imperialistas, através dos “memorandums” impostos pela tristemente celebra “troika” (a Comissão Européia sob a direção da chanceler alemã Angela Merkel, o Banco Central Europeu e o FMI).

Os partidos capitalistas tradicionais que vêm aplicando os cortes sofreram uma derrota estrepitosa. Enquanto as forças de esquerda – Syriza, o Partido Comunista da Grécia e o Antarsya – obtiveram 42,5% dos votos.

O governo do Syriza assumiu com a promessa impossível de não continuar pagando os planos de austeridade e, ao mesmo tempo, chegar a um acordo com seus credores, os mesmos que lhe exigem aplicar o ajuste para pagar a dívida, para manter a Grécia dentro da União Européia e a Eurozona.

Mas a ilusão do primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, de conseguir que seus “sócios” europeus lhe permitam uma mínima margem de manobra durou o tempo de um suspiro.

Nem bem assumiram governo, os líderes do Syriza encararam um giro pelas capitais europeias para conseguir apoio para seu plano de renegociação da dívida. Tsipras e seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, apoiaram-se inclusive nas declarações do presidente norteamericano Barack Obama, que aproveitou demagogicamente a situação da Grécia para avançar na disputa que vem sustentando com Merkel ao redor da necessidade de substituir a austeridade por políticas de estímulo. Não é demais esclarecer que o sofrimento do povo grego não importa a Obama, mas sim que a crise da União Européia ponha em risco a recuperação e os interesses dos Estados Unidos.

Não obstante, a peregrinação de Varoufakis terminou em derrota. E a troika fez o que está em sua natureza imperialista: chantagear o “governo antiausteridade”, e por essa via o povo grego que votou majoritariamente no Syriza, para que rebaixe suas pretensões e se submeta a seu programa de cortes e reformas estruturais. Nesta “cruzada” da chanceler alemã Angela Merkel somou-se o primeiro ministro do Estado espanhol, o direitista Mariano Rajoy, que além de defender os interesses dos bancos espanhóis na Grécia, teme que se o Syriza conseguir afrouxar a UE, isto fortalecerá o Podemos nas próximas eleições. Os supostos amigos de Tsipras, o presidente francês François Hollande e o primeiro ministro italiano, Matteo Renzi, terminaram alinhando-se com “Frau” Merkel e todos juntos puseram a Grécia contra as cordas.

A chantagem da “troika”

Como é sabido, o Banco Central Europeu decidiu deixar de aceitar os títulos gregos como garantia de financiamento dos bancos desse país, através do que, se segue de pé esta medida, este fardo cairia sobre o Banco Central grego. A válvula de escape para evitar uma crise bancária é a disponibilidade da chamada linha de Assistência de Liquidez de Emergência do BCE, ainda que seja um mecanismo temporário (o BCE o supervisiona e decide se o mantém) e ademais, tem um juro sensivelmente mais elevado.

A disputa entre a troika e o governo grego segue nesta semana com a reunião dos ministros das Finanças da zona do euro a 11 de fevereiro e a cúpula da UE no dia 12, onde muito provavelmente continue esta política de aperto. Por convencimento neoliberal e por pressões internas, onde a austeridade contra a Grécia é popular, Merkel se mantém firme em sua linha dura.

O governo grego especula que, em última instância, a Alemanha também tem um problema: se as vias de financiamento são fechadas completamente ã Grécia e não lhe restar outra alternativa senão sair da moeda comum, isto poderia disparar uma crise em toda a zona do euro, colocando em risco a própria unidade europeia.

E a Alemanha especula que Tsipras vai terminar cedendo antes de arriscar-se a incendiar seu país e a zona do euro. E até o momento parece ter razão: desde 2012, quando o Syriza ficou ás portas do governo, até agora, que efetivamente é governo, Tsipras diluiu seu programa, tratando de apresentar-se como confiável para a burguesia grega e europeia. Em poucos dias passou da defesa de um cancelamento importante da dívida a um plano mais “realista” de renegociação de prazos e formas de pagamento: o plano que apresenta agora é de pagar a totalidade da dívida, tratando de estender os vencimentos e atando o pagamento ao crescimento do PIB. Enquanto isso, para ganhar tempo, seu plano é conseguir um “empréstimo” de 10 bilhões de euros para financiar os gastos do estado nos próximos meses.

Mas entre as boas intenções pagadoras de Tsipras e sua concretude há um abismo, que inclui a possibilidade de que os trabalhadores e jovens que confiam no Syriza se rebelem se o governo falta com suas promessas eleitorais. Por isso, ainda que seja por acidente e não por vontade política, está aberta a possibilidade de um cenário catastrófico.

Resgate para os capitalistas, fome para os trabalhadores

Apesar dos planos de “resgate” e os cortes que se aplicaram desde 2010-2011, a dívida grega não parou de crescer. Hoje representa ao redor de 177% do PIB, o que implica um aumento de 4% desde a reestruturação de 2011-12. Dos 300 bilhões de euros que deve o governo grego, 240 bilhões (80%) correspondem aos empréstimos de instituições europeias no marco dos resgates implementados através do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. A espoliação é tão escandalosa que apesar dos programas de austeridade, a Grécia continuou sendo uma das principais compradoras de armas, nada menos que da Alemanha e da França.

O povo grego vem pagando há anos a dívida que geraram os negócios dos bancos gregos e europeus e os grandes capitalistas gregos, amparados pelo estado e pelos partidos que governaram a seu serviço.

As consequências sociais são catastróficas para a grande maioria da população: a taxa oficial de desemprego margeia 27%, reduziram-se os salários e as aposentadorias, os cortes do gasto público afetam a saúde e a educação. Quase a metade da população (4 milhões sobre um total de 11 milhões) vive na pobreza.

Ante esta catástrofe social, Tsipras anunciou uma série de medidas mínimas – aumento do salário mínimo, suspensão dos cortes ás pensões, reforma impositiva para aumentar a carga tributária aos mais ricos, devolução da eletricidade aos lares que ficaram sem este serviço por falta de pagamento. Estas medidas elementares, ainda que necessárias, de nenhuma maneira bastam para reverter os efeitos da crise capitalista e dos memorandums.

Mais importante ainda, o programa do governo de Tsipras não é de nenhuma maneira desconhecer a dívida e fazer com que a crise seja paga pelos capitalistas gregos e europeus, mas seguir pagando a dívida renegociando os termos com os credores, que como sabemos na América Latina, implica hipotecar o futuro das próximas gerações que carregarão nas costas este peso. Nesse sentido, Tsipras segue o exemplo “pagador” dos governos petistas e kirchneristas, aos quais tem como referência.

Contra a chantagem, com os trabalhadores e o povo gregos

É verdade que há uma diferença entre países como Brasil, que sofrem a opressão e a espoliação imperialista, e a Grécia, que ainda que com menor hierarquia que os países do núcleo duro da União Europeia, possui uma classe dominante que é parte deste bloco imperialista. Isto é verdade, ainda que a Grécia esteja hoje sob forte pressão da Alemanha e tenha perdido soberania nacional sob a tutela da troika.

Não obstante, de nenhuma maneira somos neutros nesta disputa. Seguindo a tradição da Terceira Internacional que denunciou em 1920 a terrível opressão que as potências vencedoras exerciam sobre a Alemanha com a imposição do Tratado de Versalhes, submetendo o povo alemão ao atraso e ã miséria, desde o PTS, a LER-QI e nossa corrente internacional (Fração Trotskista – Quarta Internacional) nos pronunciamos pela anulação da dívida que afunda o povo grego no desespero, como parte indissociável de um conjunto de medidas anticapitalistas, que inclua a nacionalização dos bancos, a expropriação das grandes empresas sob controle dos trabalhadores, que levem a uma saída operária e socialista para a Grécia e para a Europa.

Não apoiamos politicamente o governo do Syriza, que tem um programa de reformas tímidas e de manter intacta a União Europeia como bloco imperialista.

Tampouco acreditamos que haja que apoiar sua posição na negociação para seguir pagando a dívida gerada pelos capitalistas gregos e os banqueiros europeus, que se enriqueceram e continuam enriquecendo ás custas da fome da maioria da população. Nossa solidariedade é com os trabalhadores e o povo gregos que demonstraram em enorme vontade de luta com mais de 30 greves gerais e inúmeras mobilizações, contra a austeridade da troika e dos governos capitalistas do PASOK-Nova Democracia que aplicaram os memorandums.

Mas o povo grego não poderá ganhar sozinho esta disputa. É necessário organizar a mais ampla solidariedade internacional com os trabalhadores gregos. É necessário que os sindicatos alemães e franceses, e europeus em geral, rompam sua colaboração com os partidos e governos capitalistas e chamem ã mobilização nos diversos países em apoio ao povo grego. É necessário mobilizar-se no conjunto da América Latina, que sofre com a opressão imperialista. Em particular na Argentina, está colocado que as forças da FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) lancemos já uma campanha comum, porque se vencem os trabalhadores gregos avançaremos um passo enomre na luta por terminar com a exploração capitalista.

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