FT-CI

Um primeiro balanço e algumas lições da greve de petroleiros de 2013

Petroleiros tentaram derrotar a privatização e avançam em organização

24/10/2013

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Isabelle de Moraes e Leandro Lanfredi, petroleiros do Rio de Janeiro e Duque de Caxias

Das 23h do dia 16/10 até o dia 23 ou 24 segundo a unidade os petroleiros fizeram sua maior greve desde 1995.. Uma greve política que parou todas refinarias e praticamente todos terminais e plataformas. Os petroleiros não compraram o discurso de Dilma, Lula e do PT que o leilào de Libra não seria uma privatização. Vimos também vários terceirizados fazendo greve conjuntamente ou expressando esse desejo, entendendo a importância de lutar por esta pauta. Essa categoria conhece bem as ameaças de privatização do período do FHC e atenta para repetição desse filme, não limitou-se a chorar decepcionada pelas ilusões que nutriam no governo do PT e foi à luta. Uma luta que não foi levada até as últimas consequências pelas direções sindicais mas que marcou um despertar à luta política e ã greve de milhares de petroleiros.

A FUP (Federação Única de Petroleiros) depois de passar anos calada diante dos leilões sem impulsionar uma manifestação a respeito, se tanto enviando um dirigente a algum ato, decidiu quase não havendo mais tempo, construir essa greve e centrá-la nesta campanha. Apesar da FUP fazer parte da CUT e, portanto, apoiar o governo Dilma e o PT a afronta que foi esta privatização fez mesmo esta federação, ligada por mil e um laços ã direção capitalista da empresa, a ir ã greve e mesmo recorrer a métodos combativos como piquetes e trancaços. Se a FUP não o fizesse havia um risco para ela que os petroleiros fariam esta greve contra a federação. É uma mostra de que o alinhamento da burocracia sindical com “seu” governo não é automático, ela precisa também se preservar e mostrar ã base que pode lutar. Porém, apesar das divisões dos sindicatos da FUP (como em Caxias) ou da própria federação, quando se trata de rapidamente aprovar um acordo, desmontar uma greve, e impedir que avance o questionamento ao governo, atuam todos em uníssono. A FUP entrou no movimento, fez greve, piquete, mas não moveu toda sua força para que a luta contra o leilào fosse uma causa nacional. Não exigiu nada da CUT, nenhum ato de solidariedade, nenhum atraso, paralisação junto aos petroleiros. A luta não foi mais séria e não colocou um risco maior ao governo porque a FUP e a CUT não compraram esta briga para fora das portas da Petrobrás. Não foi feito uma mínima tentativa de unificar a luta dos petroleiros com a luta dos professores do Rio.

A FNP (Federação Nacional de Petroleiros) [1] oriunda de um racha da FUP, tenta se colocar como alternativa de oposição ã federação governista. Contando com 5 sindicatos, que não possuem o peso dos da FUP, construiu uma forte campanha do “Petróleo tem que ser nosso”, porém de forma descolada de sua base. Devido a descrença de tantas greves não construídas pela FUP, a FNP nesse último processo se colocou na retaguarda esperando maiores movimentações em outras bases. O que fez que em muitas de suas bases tivessem pouca ou nenhuma expressão do movimento durante os vários dias de greve. Esta divisão enfraqueceu o movimento como um todo e já de saída limitou qualquer possibilidade da FNP mostrar-se como uma alternativa de direção. A demora em entrar em greve em refinarias estratégicas como a de Cubatão, dirigida pela FNP, deu argumentos ã FUP e enfraqueceu o movimento de conjunto.

Uma nova geração de grevistas marcada por junho

É importante destacar alguns fatores subjetivos que tornou essa greve tão especial. Como o crescimento de um ativismo nas bases, protagonizado em sua maioria por jovens. Como a Petrobras, devido aos muitos anos sem concursos, possui um abismo de gerações, esses jovens que entraram na empresa a partir de 2003 não carregam nas costas o peso de construção e decepção no PT, combinados de um grande período de descrença sindical da última década de lulismo. Muitos dessa juventude estavam nas ruas em junho ou foram muito sensíveis ás demandas das ruas e ás manifestações. Isso fez com que a geração mais antiga não só se sentisse pressionada a aderir ao movimento como reacendeu em muitos a esperança do poder da classe trabalhadora, contaminada pela força da “nova geração petroleira”.

Ensaiamos nossa força política e avançamos menos do que poderíamos devido ã FUP

A empresa avançou nas suas propostas, mas nada ã altura da greve que foi deflagrada. Porém a FUP já indicou aceitação e suspendeu a greve em suas bases. Essa prática já é rotineira. As bases da FNP, por sua vez, se veem pressionadas a aceitar. Garantimos aumento salarial próximo ao das outras categorias, compromisso da Petrobras exigir das empresas terceirizadas fundo garantidor para evitar os frequentes calotes, plano de saúde para os aposentados da subsidiaria Transpetro e o abono de metade dos dias de greve com restante sendo compensado em horas trabalhadas. Porém temos claro que poderíamos ter mais pleitos atendidos e eliminar a punição exercida pela empresa sobre os dias de greve. Diferente da batalha do leilào que os petroleiros encararam somente como um ensaio de sua força e sem superar a direção, os elementos econômicos e sociais desta greve não terminaram em uma derrota, mas suas conquistas também foram limitadas pela direção da FUP e pela falta de alternativa de direção que a FNP não foi. Se na luta política a FUP impediu que a luta transbordasse e virasse uma causa nacional, nas outras pautas impediu seu avanço e quis sair da greve mesmo com esta punição aos grevistas que é repor metade das horas. Do norte a sul do país, no entanto, mais de 30% dos petroleiros rejeitaram esta proposta. Entre os que rejeitaram era marcante o peso dos jovens que haviam tocado os piquetes.

A militância classista e democrática pode fazer a diferença em bases petroleiras

Como trabalhamos em terminais diferentes, embora no mesmo estado, estamos também em sindicatos diferentes, tendo um direção da FUP e outro da FNP. Isso foi essencial para medirmos a atuação das federações e desde o começo termos uma boa caracterização do cenário. Graças também a essa diferença foi possível que quem trabalha na base da FNP pudesse dar informes sobre a força da greve nas bases FUP e convencer aos colegas da necessidade de construção da greve, e assim diminuir o foço inicial entre as táticas de greve das federações (a FNP queria greve de 24hs enquanto a FUP votava greve indefinida).

A atuação nas assembleias denunciando o Leilào e governo Dilma, a terceirização e colocando desde uma perspectiva classista como deveríamos olhar para essa greve, fez com que muitos dos que nos ouviam vissem em nós lideranças e fizessem eco de nossas ideias. Em especial, no terminal do TABG (Terminal Aquaviário da Baía de Guanabara), onde houve um grande ativismo protagonizado por uma juventude proveniente das escolas técnicas, onde se despertou um grande espírito coletivo que fez que diversos trabalhadores discutissem política e os rumos da greve diariamente utilizando aplicativo de mensagem no celular, fossem em suas folgas todas as manhãs nas assembleias não só votar mas expondo as discussões prévias ao sindicato e despertando a consciência da necessidade de uma comissão de base com delegados eleitos. Esta política se expressou na votação de delegados, com mandato das assembleias do TABG, para cada negociação com a empresa. Este método pouco utilizado pelas direções sindicais renasceu em nosso terminal e junto da comissão de base expressam grandes avanços organizativos e na consciência de muitos trabalhadores.

Nossa política se expressou quando muitos que nunca haviam ido numa manifestação, permaneceram mesmo em meio a bombas de gás e tiros de borracha no ato contra o Leilào, formando um bloco de petroleiros em greve.

Nas assembleias do TABG e de Caxias (REDUC, TECAM e Termorio) demos grande destaque para a criação de um fundo garantidor para as empresas contratadas. Mesmo sabendo que esta consigna está ainda longe da defesa da pela efetivação dos terceirizados, entendemos que levantar essas demanda desde as bases, fez com que nas reuniões de negociação essa reivindicação fosse levada com mais peso pelos sindicatos. Sentimos que esta conquista, parcial é verdade, é em primeiro lugar vitória das várias greves protagonizadas por terceirizados, por cada petroleiro que levanta esta questão, mas também nossa por colocar esta clausula como condicionante ás negociações nestas duas importantes bases. Devido ao grande número de terceirizados nessa empresa (quase 5 terceirizados para cada 1 efetivo, ou 400 mil a 80 mil), vemos a grande sensibilidade que os colegas efetivos possuem nesse tema. Ainda que não levantem espontaneamente essas bandeiras, apresentam grande adesão quando saímos em sua defesa. A defesa dos terceirizados pelos efetivos é um primeiro passo necessário do classismo entre os petroleiros.

Queremos contribuir a formar uma nova militância petroleira, que seja radicalmente democrática, organizada desde as bases, mas que também seja classista, defendendo os terceirizados e os interesses da classe trabalhadora dentro e fora da empresa. Estamos certos que as novas gerações impactadas por junho e os mais experientes trabalhadores que se emocionam com a vontade da juventude juntos construiremos uma nova força nesta poderosa categoria.

  • NOTAS
    ADICIONALES
  • [1A FNP foi fundada depois do racha ocorrido na FUP quando esta defendeu a “repactuação” dos petroleiros, alterando o plano de aposentadoria e beaneficiando a empresa. Esta federação agrupa os sindicatos de Alagoas/Sergipe, Maranhão/Amapá/Pará/Amazonas, Litoral Paulista, São José dos Campos e Rio de Janeiro (Excluindo norte fluminense e Duque de Caxias). Na FNP participam correntes antigovernistas como a CSP-Conlutas, Intersindical, bem como uma série de petistas ou ex-petistas críticos que romperam com a FUP naquele momento mas que seguem as mesmas práticas políticas burocráticas e limitadas de sua velha federação. Correntes da extrema esquerda em petroleiros, como o PSTU, atuam atados a seus parceiros burocráticos (porém críticos ao governo) da FNP.

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