FT-CI

RUMO AO SEGUNDO TURNO

Projeções regionais da disjuntiva brasileira

08/10/2014

Projeções regionais da disjuntiva brasileira

A menos de 20 dias da disputa pelo segundo turno, é previsível que a última parte da corrida eleitoral vai ser dura. Dado o peso econômico e a importância política do Brasil, a briga entre Dilma Rousseff e Aécio Neves pela presidência vai aumentar o interesse externo por uma definição que terá importantes consequências regionais e internacionais. O que está em jogo não é somente o futuro político do gigante latino-americano, mas também uma das peças chaves para a reconfiguração do tabuleiro regional. Claro que, por enquanto, é um “final aberto“, mas já estão circulando distintas análises explorando as possíveis definições. Vale ã pena indicar alguns elementos.

Pouco para os “pós-neoliberais” latino-americanos festejarem

Desde o ponto de vista dos alinhamentos político-ideológicos na América Latina, podemos dizer que o resultado do primeiro turno – uma primeira “vitória com sabor amargo” para Dilma – confirma o definhar da hegemonia petista e marca um importante golpe ao conjunto das forças “pós-neoliberais” latino-americanas. Depois de 12 anos de governos do PT, considerado internacionalmente como modelo e vitrine do projeto reformista, o petismo comparte sua decadência com o conjunto dos “pós-neoliberais” sul americanos. Se uma derrota no dia 26 representará um golpe maior (alentando a direita nas eleições uruguaias ou na crise da Argentina e da Venezuela, por exemplo), a continuidade de Dilma também não assegura uma recomposição. Ela mesma está se preparando para aplicar uma política mais ã direita, não somente no terreno econômico, mas também em aspectos democráticos básicos, partindo de manter o regime e a corrupta casta politica que integra o PT e seus aliados, deixando de pé as condições de discriminação aos negros, os acordos com a igreja e a bancada evangélica contra o direito ao aborto e outras “perolas” deste tipo.

A centro-esquerda e o nacionalismo latino-americanista insistem em que a continuidade petista garantiria a liderança brasileira por uma “integração” latino-americana progressista. Portanto, a politica exterior “soberana” também reflete este giro ã direita do governo petista que a fraseologia de campanha não pode dissimular. Se trata de uma determinação compartilhada por outros governos pós-neoliberais que se preparam para gerenciar uma “época de vacas magras”, adaptando-se mais as exigências do capital, aplicando ajustes e buscando flexibilizar as relações com o imperialismo.

Disputas da política exterior

Nos grandes meios reacionários, alguns analistas importantes propõem duas hipóteses para um giro ã direita no Brasil que arraste aos outros países da região. A preferida seria que Aécio Neves ganhe no segundo turno e, aplicando um programa econômico abertamente mais neoliberal, mude a politica exterior brasileira para se alinhar com os Estados Unidos. Entretanto, precisam encarar como bastante provável uma segunda hipótese: a de que a própria Dilma se veja obrigada a redefinir seus planos para um segundo mandato, com sua politica exterior se adaptando ao que pedem “os mercados”, sob a pressão de uma direita fortalecida.

Dilma Rousseff, que manteve uma politica exterior ainda mais moderada que Lula, em aspectos importantes convergia com propostas de Marina Silva (neste sentido, parecidas ás de Aécio Neves). Por exemplo, na disposição em negociar acordos com a União Europeia sem o consenso dos sócios do MERCOSUL.

De fato, Aécio e o PSDB afirmam que se chegarem ao poder vão recompor as relações com Washington, rever a relação no BRICS e flexibilizar o MERCOSUL para poder negociar com a União Europeia e com a Aliança do Pacífico.

Mas Dilma já vem adotando parte desta agenda. Começou tratativas com a União Europeia ã margem dos sócios do MERCOSUL. Também ensaiou com os países da Aliança do Pacífico. Evita uma maior confrontação com os Estados Unidos mantendo um perfil mais cabisbaixo e moderado do que o “ativismo internacional” que caracterizou a gestão de Lula, e mantém uma relação mais moderada com Nicolás Maduro, Evo Morales e até mesmo com Cristina Kirchner.

Um governo de Aécio Neves, mais alinhado com Washington, debilitaria o esquema atual das alianças regionais, particularmente com Venezuela, Cuba e Argentina. Porém, também não seria fácil se desprender bruscamente de todos os compromissos, nem redefinir a orientação geopolítica brasileira, orientada a busca de um papel como “ator global”, o que de fato implica rever alguns termos da inserção internacional do Brasil. Além disso, no MERCOSUL existem fortes interesses comerciais de investidores brasileiros.

Nas condições atuais de crise internacional e decadência hegemônica dos Estados Unidos, uma maior subordinação ao imperialismo não garantiria nem ajuda estadunidense em grande escala, nem apoio ás propostas brasileiras como a de chegar ao Conselho de Segurança da ONU ou reformar as instituições financeiras internacionais. Para Washington, o Brasil não é um sócio do mesmo patamar e sim um país dependente, apesar de que por seu tamanho mereça certa consideração. São vários os pontos frágeis da politica exterior de Aécio Neves
.
Entretanto, um novo mandato da Dilma poderia se inclinar a um “multilateralismo pragmático”, mesmo tentando não abandonar as pretensões de liderança sul-americana. Dificilmente uma orientação intermediaria vai satisfazer aos setores interessados em uma reorganização geopolítica. Para atrair maior caudal de capital estrangeiro, abrir maiores oportunidades de negócios com o petróleo e outras ramas e modernizar a economia segundo os requerimentos das filiais estrangeiras, os bancos, o agronegócio e as translatinas brasileiras, seriam necessárias definições mais radicais. No marco das diferenças e questionamentos entre a classe dominante e a orientação internacional do PT, pode-se estar criando uma crise maior da localização geopolítica do Brasil. De qualquer maneira, Dilma deixa poucas esperanças de um Brasil de unidade e soberania latino-americanas, como sonham os progressistas deste subcontinente.

Por outro lado, é previsível que diante de um 2015 difícil, o novo governo brasileiro – seja Dilma ou Aécio – deva aplicar medidas econômicas de ajuste e desvalorização que surtiram efeitos nos países vizinhos.

Analistas reconhecem que o programa de Aécio traria prejuízos inevitáveis para os países da região, seja pela desvalorização da moeda, seja pela maior abertura comercial com outras regiões, ou ambas. A burguesia argentina, particularmente, não teria muito o que festejar frente a uma politica comercial brasileira mais alinhada com “os mercados”. A “Brasil dependência” poderia resultar em problemas para importantes setores da indústria e o agronegócio local.

A direita latino-americana espera que o rumo do Brasil, se é possível com Aécio, senão com uma Dilma “alinhada”, lhe ajude a girar a seu favor o rumo em seus próprios países. No entanto, não deveriam ter muitas ilusões. Na década passada, ao calor do boom das matérias primas, do papel do seu mercado no comercio regional e do papel politico e social da contenção lulista, o Brasil pôde ser um grande fator de equilíbrio regional, assim como um impulso extra para a expansão das economias vizinhas. No novo período que se abre, as dificuldades do gigante latino-americano e as medidas que deve tomar seu novo governo poderiam converter a seus movimentos políticos, econômicos e também sociais (não foi em vão que viveram as jornadas de Junho de 2013, nem uma notável onda de greves) em um fator de desestabilização inesperado.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)