FT-CI

Conferência de Anápolis

Uma reunião para debilitar Hamas e isolar o Irã

29/11/2007 LVO 261

Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) se comprometeram em restabelecer as conversações congeladas há sete anos e chegar a um acordo de paz antes do final de 2008, ao inaugurar a conferência internacional sobre o Oriente Médio a qual estiveram presentes mais de 50 países e organizações, incluindo significantemente a Arábia Saudita e a Síria, na cidade de Anápolis ao leste de Washington. Ao inaugurar a conferência, Bush acentuou que é o momento propício para colocar fim aos 60 anos de conflitos entre israelenses e palestinos. “Todos os estados árabes deveriam mostrar seu forte respaldo ao governo do presidente Mahmoud Abbas”, disse Bush aos delegados, a quem solicitou “trabalhar até” uma normalização de vínculos com Israel tanto nos "fatos com nas palavras”. Por sua parte, o presidente palestino afirmou que o eventual tratado “deveria basicamente conduzir ao fim da ocupação de todos os territórios ocupados em 1967, incluindo Jerusalém oriental, o Golan sírio e o que resta ocupado do território libanês”. Mas já em uma enorme concessão ao estado sionista, Abbas não se referiu ã demanda histórica do povo palestino de que retornem os entre 7 e 8 milhões de refugiados (e seus descendentes) expulsos de seus lugares ao se criar em 1948 o Estado de Israel, que atualmente se encontram tanto nos territórios palestinos reocupados como em Jordânia, Síria e Líbano, entre outras nações. É bastante improvável que esta reunião resolva os temas mais coflitivos para alcançar um acordo, como o redesenho das fronteiras, uma garantia de segurança para o estado sionista em relação a uma série de grupos armados palestinos ou o status de Jerusalém este como capital de uma eventual entidade pseudo-estatal palestina, como já no passado mostrou o fracasso da Cúpula de Camp David chamada por Clinton em 2000. Então, qual é o propósito de semelhante Conferência? Por parte de Israel o objetivo é ceder o tanto que puder, tanto territorialmente como economicamente, para intensificar a divisão da comunidade Palestina e fortalecer a mão do setor abertamente colaboracionista com o estado sionista. Israel quer tirar proveito da divisão entre Al Fatah e Hamas em entidades territoriais distintas para debilitar qualitativamente o movimento nacional palestino. Mas para que o primeiro ministro israelense, Olmert, muito debilitado internamente, possa fazer a classe de concessões sobre a evolução de Hamas. Neste sentido a presença da Arábia Saudita, base de Hamas, é um forte golpe no governo de Gaza. Simplesmente participando na Conferência de Anápolis os sauditas estão assinalando a Hamas que esperam uma troca de seu curso atual. A monarquia saudita, altamente conservadora e cheia de riquezas pelos altos preços do petróleo, não quer seguir arriscando sua sorte a grupos sunitas radicalizados que em seguida não possam controlar, que geram uma forte desestabilização na região ao debilitar aos governos reacionários e criando vazios que logo são preenchidos por seus inimigos, como é o caso do ascenso do Irã. Em outras palavras, a Arábia Saudita quer um enfrentamento da situação nesta volátil região do planeta. Por sua parte, para Washington toda essa grande montagem tem um propósito mais amplo. Ao permitir que Bush seja visto como tentando algum tipo de solução do conflito palestina-israel ajuda aos regimes a justificar sua aquiescência na presença ao longo prazo das tropas imperialistas no Iraque - inclusive de bases militares permanentes como as que estaria negociando bilateralmente com o principal partido xiita do Iraque - enquanto busca isolar o Irã de seus vizinhos, em especial a Síria, que sirva para uma política mais agressiva contra o regime de Teerã ou para fortalecer a oposição da Casa Branca frente ã futura ronda de negociações entre os EUA e Irã sobre o futuro de Iraque. Em síntese, uma conferência altamente reacionária e a qual nada de bom os povos da região podem esperar, em particular as sofridas massas palestinas.

Traduzido por: Clarissa Lemos

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