Editorial Palavra Operária
Unir a juventude e os trabalhadores no próximo dia 30
21/08/2013
A popularidade dos governantes segue despencando: a unidade nas mobilizações entre as distintas categorias de trabalhadores com a juventude é a única saída por uma alternativa operária e independente aos governantes corruptos, a burocracia sindical, aos empresários e a grande mídia.
As jornadas de junho iniciaram um novo momento em nosso país. Um momento em que milhões de jovens e trabalhadores, que seguiam a vida com empregos precários, endividando-se para ter as coisas, passando horas nos ônibus lotados ou nas filas dos hospitais depois de algum acidente de trabalho, resolveram dizer basta. Cidades decadentes projetadas para os lucros sem qualquer preocupação com as vidas operárias e do povo, são questionadas nas respirações, nas conversas, no dia-a-dia das pessoas. A estabilidade da década petista já não existe mais.
Dificuldades para governar
A crise de governabilidade do governo federal aumenta. Os atritos internos do petismo, a tentativa de desvio por ora fracassada com o plebiscito e a constituinte pela reforma política, a completa paralisia do Congresso sem respostas ás demandas das ruas, deixam claro que o momento é de tensão. Mesmo com uma bateria de reuniões e oferecendo dezenas de milhões a deputados para aprovar seus projetos, o governo Dilma não encontra saída sustentável. A popularidade dos governantes petistas em lugares centrais como a capital paulista e o governo do Rio Grande do Sul despencam, como é o caso de Haddad com 18% e Tarso Genro com 25%.
Mas não se trata de uma crise petista, apenas. O grande aliado do PT, o PMDB, sente na pele a resposta dos cariocas. A farra com empresários em viagens e festas do governador do PMDB Sérgio Cabral, assim como sua política de extermínio do povo negro e pobre do Rio, são respondidos com a raiva incansável da juventude carioca, que mostra que a estabilidade da cidade maravilhosa chegou ao fim e um de seus pilares fundamentais, a polícia mais truculenta do mundo, está questionada. Nem a presença do Papa pôde salvar Cabral, recordista da impopularidade com 12% de aprovação, e que enfrenta agora junto com o prefeito também peemedebista Paes uma forte greve dos professores estaduais e municipais e uma campanha em todo o país pela aparição do pedreiro Amarildo.
O mais importante partido da oposição, o PSDB, que contava com o apoio da grande mídia para se embandeirar da luta contra a corrupção, mostra que é tão ou mais corrupto que todos os outros partidos da ordem. As mobilizações que explodiram após a repressão da polícia tucana de Alckmin, ganham as ruas novamente de São Paulo com o escandaloso esquema de propina no metrô entre o PSDB e grandes multinacionais, denunciado por uma delas, a Siemens, envolvendo mais de 400 milhões de dinheiro público. Se antes do escândalo a popularidade de Alckmin já estava em magros 26%, imagine na próxima pesquisa.
Estamos falando de uma crise de representatividade do estado capitalista, que atinge prefeitos e governadores do norte ao sul do país. A população já não acredita mais nesses políticos de sempre, está cansada das máquinas partidárias corruptas. Governos que são vistos com balcão de negócios aos olhos do povo. Os trabalhadores e a juventude sabem que atrás do PT e de cada partido da ordem (do PCdoB ao DEM) existe um mensalào escondido.
Quem começa a emergir nas pesquisas, maquiada e escondida como algo diferente, é a “Rede Sustentabilidade” de Marina, que ataca os manifestantes que sofrem repressão e é financiada pelos mesmos grandes empresários que dão dinheiro aos outros partidos (como a família Setúbal dona do Itaú e os empresários da Natura). Disfarçado numa “ rede”, trata-se de um possível futuro partido que poderia governar para os patrões, mas que não vem sendo rechaçado por aparecer como algo “novo”.
Os impactos da crise política brasileira aberta com a mobilização de massas no país, aprofundam a desconfiança imperialista da estabilidade nacional, aumentando a chantagem dos especuladores que retiram capitais do país para negociar ainda mais benefícios com o governo petista, com as pressões arquitetadas pelas multinacionais junto aos grandes veículos de comunicação pela retirada de direitos dos trabalhadores e com a maior valorização do dólar desde a crise de 2008. Sabemos que o rumo desse governo seguirá sendo sua relação submissa com a burguesia nacional e os imperialistas contra nossos direitos.
No dia 30, é preciso uma alternativa dos trabalhadores aliados com a juventude
No dia 11 de julho, ao contrário do que a grande mídia mostrou, paralisações importantes ocorreram por todo o país e os trabalhadores mostraram sua disposição de lutar. Mas também é verdade que não atingiram as dimensões das lutas de junho. Isso porque não era interesse das principais direções sindicais fazer esse país pegar fogo, transformando o 11J numa mostra contundente de força da classe operária, com paralisações fortes e reais em todo o país.
Nos últimos anos, nos canteiros de obras do PAC, no funcionalismo, nas indústrias, milhões de trabalhadores saíram em greve. Em muitos casos contra a vontade de suas direções sindicais, e em outros, enfrentando-se contra a burocracia. Muitos trabalhadores sabem que a Força Sindical, a CUT e a CTB (assim como a NCST, CGTB, UGT) são sindicatos que se venderam e que estão contra os nossos interesses. Mesmo com essa desconfiança que muitas vezes leva ao pessimismo, a necessidade de lutar por nossos direitos resgatou a força de nossa classe, que vem aumentando seu número de greves: no ano de 2012 tivemos a maior quantidade de greves dos últimos 15 anos.
A disposição que os professores cariocas mostram em sua greve é só o começo do que poderão ser os próximos meses em que petroleiros, bancários, ecetistas (Correios) e metalúrgicos poderão mostrar em suas campanhas salariais depois do ânimo que a juventude despertou nesse país.
O dia 30 está sendo chamado um novo dia de paralisação por demandas legítimas dos trabalhadores, como barrar a lei Mabel que aprofunda a terceirização, assim como lutar por mais verbas para saúde, transporte e educação. Não achamos que é possível uma saída para nosso país junto aos patrões brasileiros como acredita a Força Sindical, nem que uma reforma política como propõem as entidades ligadas ao governo (CUT, CTB, UNE e direção do MST) e o senador do PSOL Randolfe Rodrigues irão resolver nossos problemas. Também nos parece equivocado que a direção majoritária (PSTU) da CSP-Conlutas, principal central sindical ã esquerda do governo , num momento em que milhões começam a questionar Dilma, apresente pautas corretas que levantaremos juntos (como a estatização do transporte e de nossas reservas de petróleo), mas ao mesmo tempo peça para que Dilma apresente “outro modelo econômico”, como se fosse possível esperar que Dilma “mude de lado”, o que só serve para confundir nossa classe e reforçar a ilusão dos que ainda acreditam que o PT poderia romper com os patrões.
Construiremos o dia 30 com toda força. A burocracia sindical chama esse dia não por sua vontade, mas para “descomprimir” a panela de pressão que existe em cada local de trabalho. Farão de tudo para não ocorrer uma forte paralisação nacional. Por isso, para nós não existe outro caminho: unir a juventude e os trabalhadores nas ruas, atos e paralisações por nossos direitos, lutando contra os governos , os patrões e as direções sindicais e estudantis vendidas.
Trotsky dizia que “Apenas o fresco entusiasmo e o espírito de ofensiva da juventude podem assegurar os primeiros êxitos da luta. Apenas esses êxitos podem fazer voltar ao caminho da revolução os melhores elementos da velha geração.” O entusiasmo da juventude contaminou esse país, e sabemos que a energia da juventude trabalhadora vai ser colocada em movimento nas greves e paralisações que veremos.
É hora de se contaminar por esses novos ares, e nós da Liga Estratégia Revolucionária chamamos a todos a construir conosco uma alternativa nas ruas, nas fábricas e locais de trabalho, nas escolas e universidades. Vamos retomar as ruas pelo passe-livre e pela estatização do transporte sob controle dos trabalhadores e usuários; por Amarildo, por Ricardo e por tantos outros assassinados por essa polícia que não pode mais existir e deve pagar por sua violência e assassinatos; pelo fim da terceirização e dos cargos precários, unindo nossa classe na luta pela efetivação de todos os terceirizados e temporários; pelo não pagamento da dívida pública e acabando com os salários astronômicos dos políticos, garantindo assim verba para educação e saúde padrão Fifa, e obrigando que cada parlamentar, juiz e alto funcionário desse país tenha o mesmo salário que um professor da rede pública.
Que a energia da juventude e a disposição dos trabalhadores se encontrem com força: retomemos as ruas no dia 30 e façamos esse país ferver com a entrada em cena das grandes categorias do proletariado brasileiro e da juventude no mês de setembro.