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Greve inédita dos maquinistas
por : Marcelo Torres

23 Oct 2007 |

A greve dos maquinistas organizada pelo sindicato GDL representa uma novidade para a Alemanha, um dos países europeus mais estáveis e no geral menos horas de greve. As exigências dos maquinistas são o aumento salarial de 31%, diminuição do horário de trabalho semanal e um convênio coletivo próprio.

Esta greve acontece num contexto em que ainda se desenvolve o crescimento econômico, onde o custo do trabalho foi reduzido radicalmente através das leis de contra-reforma encabeçadas pela ex-coalisão do governo vermelho-verde (SPD e Verdes). Assim transformaram a “praça Alemã” do doente europeu ao campeão econômico e enviada do resto das burguesias imperialistas européias, como França ou Itália, durante o recente ciclo de crescimento da economia mundial, assim como no marco da discussão sobre a privatização total da empresa ferroviária Deutsche Bahn (DB), ainda nas mãos do Estado. Por outro lado, estas medidas anti-operárias e a boa cojuntura econômica, que possibilitaram a recomposição relativa do proletariado alemão, deu novos brios aos trabalhadores que no ano (mais de 500.000 dias perdidos) pararam mais em no período de 2006-430.000 e 2005-20.000 dias - (Netzzeitung: Die Deutschen lernen das Streiken wieder,7/10) exigindo sua parte dos lucros exorbidantes do capital alemão. A greve dos maquinistas é exemplar pois junto ás exigências que a patronal crítica como inverossímeis e fora de toda discussão, representa um ponto de inflexão na luta de classes na Alemanha. Primeiro, porque ao contrário do que foi a última grande greve selvagem no setor automotriz Opel Bochum, se trata de uma greve ofensiva de um setor chave do proletariado que, mesmo se enquadrando na tradição de negociações entre sindicato e patronal, rompe todos os esquemas devido ás suas exigências. Segundo, pela radicalidade das exigências para um proletariado acostumado e obrigado a negociar através das mediações operárias, muito anti-operárias impulsionadas pela patronal. Terceiro, porque os maquinistas são um setor chave na organização da economia capitalista.

Vale lembrar que na Alemanha, como nos demais países imperialista de primeira ordem, a produção e a circulação de mercadorias, sobretudo no que diz respeito aos pilares da economia alemã como a produção de carro, a indústria química e a construção de maquinarias, estão organizadas cronometricamente (just in time).

Isto é, o funcionamento regular da economia alemã exige que as mercadorias estejem em determinada hora em um determinado lugar para sua utilização. É por isto que a burguesia alemã está tão preocupada com o alcance da greve, ou seja, com as conseqüências econômicas que pode acarretar uma greve longa e difícil. E mais ainda, teme que esta greve seja um precedente para os demais setores do proletariado que, por um lado, poderiam colocar em risco a abstenção salarial voluntária (cortes salariais) e, por outro, comecem a se organizar em pequenos sindicatos por fora dos grandes aparatos.

A burocracia e a raiva operária

A greve de sexta 12/10 foi um êxito, apesar da campanha midiática feita para criminalizar e delegitimar as exigências operárias por parte da burguesia, com o aval dos tribunais, que decidem por restringir o direito de greve e que proibiram as greves nos trechos de longa distância, assim como no transporte de mercadorias. Por volta de 50% dos trens não sairam das plataformas, e um dado importante é que no leste do país houve zonas nas quais não se movia uma só roda. A radicalidade das exigências e a aparente intransigência com a qual têm se defendido, provocou que muitos maquinistas que estavam filiados ã Transnet se filiassem ao GDL, do quais hoje fazem parte cerca de 80% dos maquinistas alemães.

E, entretanto e como era de se esperar, a burocracia do GDL, persiste em manter a habitual estratégia de pressionar para se sentar e negocias. Esta política, que no ano passado havia demonstrado sua eficácia, freando as tendências ã radicalização que se dão nas bases e impedindo a coesão das fileiras operárias na luta, o que mais cedo ou mais tarde acaba por desorganizar e desiludir os trabalhadores, esta vez parecia não render frutos facilmente. E é que as bases estão cansadas de ver como seus sálarios são carcomidos pela inflanção e a moderação salarial que a patronal lhes vêm impondo com a aprovação das burocracias sindicais. Como disse o chefe da Transnet, Norber Hansen, “a única coisa que posso notar é que a direção da greve do GDL não é mais o senhor da situação”.

Diante da espada da patronal e a parede operária, a direção do GDL se viu obrigada a manter uma posição firme, apesar de que não faltaram sinais de afrouxamento para com a patronal. Assim é como diante da nova oferta da patronal, que segundo os burocratas do GDL é “em todo caso insuficiente”, haverá conversas com os dirigentes da DB e não haverá mais greves de maquinistas até a próxima sexta-feira. Fazendo coro dos medos que os meios de comunicação burgueses querem propagar, para o chefe do sindicato GDL, Manfred Schell, miliante demo-cristão e ex-parlamentar do CDU, se as consersações não tiraram resultados “poderia parar novamente” mas nesse caso, o “GDL teria que contar com perder a simpatia ds clientes das ferrovias”, por isso é que “não queremos parecer grevistas furiosos que não refletem sobre a oferta”. E é que apesar da campanha midiática contra a greve, que pinta um panorama catastrofista para a economia alemã com a perda conseguinte de muitos postos de trabalho, a população apóia as exigências dos maquinistas.

Ao fechamento desta edição o resultado desta luta ainda segue aberto. Se os trabalhadores conseguirem impor sua vontade, o haverão feito inclusive contra a vontade de seus dirigentes, anunciando novos ventos para a luta de classes na Alemanha.

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 Na Alemanha existem grandes sindicatos por setor: “ver-di” para os empregados de serviços, “IG Metall” para os metalúrgicos e “IG BCE” para os petroquímicos. No caso dos ferroviários existem três sindicatos nos quais se organizam os trabalhadores da Deutsche Bahn:

1)Transnte, que agrupa o grosso dos empregados em estações, bilheteria e trabalhadores de vias.

2)GDBA, que representa aos empregados estatais que foram absorvidos antes da privatização das Ferrovias Federais em 1994.

3)GDL, Sindicato de Maquinistas Alemães, que agrupa os maquinistas, cobradores e camareiros de trens. Os primeiros se agruparam em uma “comunidade tarifária” (convêncio salarial) pactuando com a patronal um aumento salarial de 4,5%. É importante destacar que cada sindicato reivindica suas exigências mas somente para seus representados.

 

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