Nas últimas semanas, foi agregada a entrada em cena do movimento estudantil na preparação da greve do dia 14 de novembro, que na luta contra a lei de autonomia das universidades (LRU), apoiou desde o começo aos trabalhadores. Foi um elemento “inesperado” para o governo, que pensava ter evitado a resistência estudantil aprovando a lei em plenas férias [1].
Rapidamente os estudantes se colocaram de pé: em cerca de três semanas se armou uma greve nacional com 36, das 85 universidades, bloqueadas total ou parcialmente, ou fechadas pela própria administração para impedir a organização estudantil. Na última terça-feira se somaram outras 6 e se estima que em 39 assembléias houveram mais de 27 mil estudantes. Em alguns lugares se votou a ocupação para garantir o ativismo durante a greve dos transportes. Se coordenaram nacionalmente com delegados mandatados pelas assembléias e incorporaram ã pauta de reivindicações as reivindicações dos trabalhadores e a defesa dos trabalhadores imigrantes sans-papiers (ilegais).
Está claro que a luta que derrotou o CPE em 2006 deixou importantes lições: é possível fazer o governo retroceder e para isso é chave a aliança com os trabalhadores. Mas como disse um estudante da faculdade de Saint-Denis tem que “ir mais além da unificação na rua”. Na última reunião da coordenação nacional, foi proposto que os estudantes de todo o país bloqueassem as estações de trem em apoio ã greve. A importância da entrada em cena do explosivo movimento estudantil se reflete na política do governo e das direções burocráticas. O governo lança uma brutal campanha contra um movimento que chama de minoritário e controlado pela extrema esquerda, e convoca para a ação os setores anti-greve. A ministra da Educação superior considera “muito importante que todos os estudantes vão ás assembléias”, incluindo obviamente os que estão contra os piquetes, trata de organizar plebiscitos com voto secreto ou por Internet para romper a greve, ou diretamente manda reprimir como na faculdade de Nanterre.
A União Nacional de Estudantes da França (UNEF), ligada ao PS, tem um duplo discurso: nas assembléias defende a anulação da lei e inclusive os piquetes, mas seu dirigente nacional Bruno Julliard declara que considera “fora de discussão” a anulação da lei e se manifesta a favor dos referendos sobre os piquetes. Em relação ao bloqueio das estações de trem, se viu o temor das direções ã unidade operário-estudantil, com a UNEF e a juventude do PC se opondo. Nos poucos lugares onde a ação foi realizada, como em Rennes, apelaram para a repressão.
A Assembléia de Tolbiac, uma das mais radicalizadas
Na Assembléia Geral (AG) de Tolbiac de terça-feira dia 13, com mais de 2000 estudantes o ambiente era de muita revolta. Se colocou a anulação da LRU, mas também se votou o aumento salarial de 140% para os funcionários das universidades. Vários estudantes reivindicaram sua condição de trabalhadores: foi levantado que somente 25% de estudantes dos primeiros anos são filhos de empregados ou operários, o que se reduz a 5% nas carreiras (os primeiros anos são gerais e depois o estudante escolhe sua especialização - NdT). A reivindicação da unidade com os trabalhadores foi uma constante, e foram muito aplaudidas as intervenções dos ferroviários. Um deles reivindicou a democracia da votação de mão na AG contra o referendo por Internet que a presidência propunha, foi aclamado quando falou: “a greve pertence aos grevistas”. Mais tarde se votou o boicote a tal instrumento. Os da UNEF foram questionados por terem negociados com a ministra.
O novo é que se falou muito contra o colonialismo, a guerra da Argélia e a universidade como reprodutora das desigualdades sociais. Também se questionou o funcionamento da universidade e se propôs um governo tripartite, ainda que não foi votado. Diferentemente das assembléias contra o CPE, se expressou um descontentamento geral mais profundo e a questão da lei é importante, mas não o único objetivo de luta.
Nanterre, enfrentamento com a tropa de choque
Na segunda-feira dia 12, a direção da universidade fechou a porta que os grevistas haviam mantido abertas e sob controle do movimento, como pretexto para a repressão. A tropa de choque reprimiu com gás lacrimogêneo e cacetes. Apesar de todas as manobras e a repressão para levantar os piquetes na assembléia com mais de 1500 estudantes se votou a manutenção. As autoridades que pretendiam se reunir não conseguiram, enquanto que o comitê de greve reuniu cerca 200 estudantes.
No dia seguinte houve certa tensão com os estudantes fura-greves e a direção da faculdade, que terminou atraindo as forças repressivas. A intervenção foi mais violenta que a da véspera, e depois de horas desarmaram o piquete. Mas frente a repressão, no comitê de greve havia mais de 800 estudantes para organizar os próximos passos da luta.
Traduzido por: Clarissa Lemos
|