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Duas caras do oportunismo na Venezuela
por : Manolo Romano

04 Dec 2007 | Houve dois tipos de expressões na esquerda que atentaram contra uma posição operária independente no recente referendo da Venezuela.

Houve dois tipos de expressões na esquerda que atentaram contra uma posição operária independente no recente referendo da Venezuela.

A primeira foi, obviamente, a de quem se identifica com o projeto socialista, como é o caso do MST argentino de Vilma Ripoll. Esta auto-denominada “nova esquerda” que faz parte do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) liderado por Chávez e os “empresários socialistas”, agora, após a derrota, se preocupam por esclarecer que, na realidade, eles haviam chamado um “Sim crítico”. Um oportunismo em dose dupla.

De outro lado, também atentou contra uma posição de independência de classe o chamado de alguns setores da esquerda a votar pelo NÃO, confundindo suas bandeiras com a direita pró norte-americana. Tal é o caso da corrente liderada pelo PSTU do Brasil (e, a julgar por seu balanço após a vitória do NÃO, também pelo Partido Obrero da Argentina).

O PSTU critica a corrente irmã do PTS no Brasil: “a Liga Estratégia Revolucionária (LER), que defendeu o voto nulo. (...) Agora parece fazer o balanço do resultado do referendo, essa corrente tem um sério problema: Foi positivo ou negativo para o desenvolvimento da luta de classes a derrota de Chávez?” E fecham com duvidoso senso de humor: “Para ser coerentes teriam que decidir que não foi nem positivo nem negativo, ou abster-se desta discussão” [1].

Um sério problema tem o PSTU com a realidade. Em primeiro lugar porque - como qualquer analista mais ou menos coerente reconhece - a derrota da tentativa de Chaves de reforçar o bonapartismo e controle sobre as organizações de massa, se deve a que mais de 3 milhões de ex-votantes do oficialismo não o fizeram nem pelo Sim e nem pelo Não, mas que majoritariamente se abstiveram e uma minoria (cerca de 200 mil) anulou o voto mais ativamente. A direita pró-ianque - que a todo vapor comandou o NÃO - praticamente não cresceu no caudal eleitoral desde as últimas eleições presidenciais. Mas o erro é mais grave porque, com o triunfo do Não, está aberta a possibilidade de que - se os setores dos trabalhadores e do povo que começaram um ‘momento de ruptura’ com o nacionalismo burguês não consolidam uma posição independente de classe -, a situação termine em um giro ã direita (isto é: contra a luta de classes) pela via de pactos e acordos do chavismo com a reação pró-imperialistas que se uniram contra as lutas operárias. E esta posição independente dos trabalhadores (um movimento em direção a um partido próprio) não se pode conquistar senão as custa de se separar incisivamente tanto do chavismo com dos setores burgueses reacionários vestidos com roupagem democrática. O contrário ao que faz o PSTU do Brasil que, lamentavelmente, cometeu um erro colossal. Certamente, não é uma questão somente “tática”, mas a expressão tática de uma “estratégia” que tratam de chamar de “a revolução democrática”: um estranho tipo de revolução “anti-autoritária” que coloca como aliados setores burgueses abertamente direitistas e agentes do imperialismo com os quais foi, segundo o PSTU, “progressivo” coincidir contra o bonapartismo de Chávez. Chegaram a colocar no mesmo plano o movimento estudantil, impulsionado pela reação, com a luta dos trabalhadores da Sanitários Maracay; isto é igualando aqueles que marcham em defesa da propriedade privada com aqueles que querem aboli-la, como se fossem expressão de um mesmo “descontentamento social” [2].

Com esta mesma lógica anti-classista (de não separar inimigos e aliados em base a delimitações de classe), o PSTU aplaudiu a unificação da Alemanha sob direção imperialista (não uma unificação operária e socialista, como reivindicamos os trotskistas), colocando-se em uma frente democrática “contra a burocracia stalinista”.
Lamentavelmente, o Partido Obrero também - que igualmente ao PSTU se pronunciam pela independência do “nacionalismo burguês” - fez isso desde um ânulo democratizante. Em primeira instância o PO chamou, indistintamente, ao “Não ou Abstenção” (Altamira, em Prensa Obrera do dia 08/11); após o resultado do referendo colocam: “O povo da Venezuela votou, com o Não, contra uma tentativa de consolidar um regime de poder pessoal, o qual constitui uma ameaça para a liberdade de organização e a independência da classe operária e de suas organizações” (Altamira, comunicado do dia 03/12). É possível identificar a direita esquálida (gorila) com a independência operária?

A corrente irmã do PTS na Venezuela, a Juventud de Izquierda Revolucionária, junto a Orlando Chirino [3], dirigente da C-Cura, a tendência classista da União Nacional de Trabalhadores, e o Movimento pela Construção de um Partido de Trabalhadores, chamamos a votar nulo como uma posição elementar de independência de classe.
No início de 2007, as organizações que formamos a Fração Trotskista na Venezuela, Brasil, México, Chile, Argentina e Europa propusemos, tanto ao PSTU como ao PO, uma campanha internacional unitária pela completa nacionalização do petróleo na Venezuela sob administração operária e o chamado a constituir, com total independência de classe do PSUV, um partido operário independente baseado nas organizações sindicais que mantenham sua autonomia do Estado. Acreditamos que se a tívessemos concretozado, a esquerda classista e socialista estaria hoje em melhores condições para confrontar a atual situação.

Traduzido por: Clarissa Lemos

 

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