No último 31 de janeiro, a praça central da capital mexicana foi ocupada por centenas de organizações operárias e camponesas que concentraram, segundo os organizadores, cerca de 200 mil pessoas. Os contingentes camponeses encabeçaram a mobilização. Eram seguidos pelos destacamentos operários de trabalhadores da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), pelo Instituto Politécnico Nacional, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), do Instituto de Previdência Nacional, do Sindicato Mexicano de Eletricistas, de telefônicos, dos trabalhadores da energia nuclear, e destacava-se o grito combativo do sindicato mineiro, encabeçado pela seção 65 que marchava ao ritmo de “Cananea não se vende, Cananea não se dá, porque tem mineiros com muita dignidade!”, em alusão ã recentemente reprimida greve dos trabalhadores do cobre desta cidade.
As consignas expressavam as mais importantes reivindicações de operários e camponeses, e o rechaço ao Tratado de Livre Comércio (TLC) e aplicação de sua política agropecuária, que favorece o milho e o feijão provenientes dos EUA e Canadá, assim como o rechaço ã privatização da indústria elétrica e do petróleo; igualmente, contra o ataque aos contratos coletivos de trabalho, o desemprego e a carestia de vida. Acompanhadas pelas denúncias contra a repressão e a violação dos direitos humanos, as violações policialescas em Atenco, a repressão ao sindicato mineiro e ao povo de Oaxaca, contra a militarização entre outras.
Esta manifestação expressa que no México estamos ante uma nova etapa da luta de classes, na qual a relação de forças entre as classes mudou e que a tendências mais profundas que abriram uma situação revolucionária em 2006, longe de ter se fechado, estão assumindo novos contornos. Os elementos mais avançados da mesma são as tendências ã frente única de amplos setores de trabalhadores, o protagonismo crescente de setores da classe operária no México, a unidade operária e camponesa consolidada sobre o rechaço generalizado ao TLC, a tendência ã mobilização e, a possibilidade de que assistamos no próximo período ã fenômenos de maior radicalização política, ou que voltem a expressar-se os métodos radicalizados que presenciamos com a “Comuna de Oaxaca” ou a rebelião operária em Sicartsa. De forma muito mais demorada e molecular, começam a se expressar setores anti-burocráticos nos sindicatos como o de trabalhadores da Universidade Autônoma Metropolitana (SITUAM), ou da UNAM (STUNAM) ou em setores do movimento operário industrial. O pano de fundo deste importante avanço da luta de classes é a crise econômica que levará inevitavelmente o México a sofrer os duros efeitos da recessão norte-americana.
Os limites da mobilização
O principal é que ã frente deste grande descontentamento estão as direções da classe operária e do campesinato. A burocracia opositora que no ano passado fizeram parte do “pacto social” de Calderón e hoje recriminam ter rompido a União Nacional de Trabalhadores (UNT), o Sindicato Minero, o da Industria Nuclear (SUTIN) e o de Eletricistas (SME). Produto da maior direitização do governo e as mudanças na situação, as direções corporativas do Partido da Revolução Institucional (PRI) tiveram também que mobilizar-se: não só a do sindicato mineiro senão a própria Confederação Nacional Campesina. Por outra parte, os contingentes camponeses expressam uma heterogeneidade classista que só pode ser superada por maiores embates da luta de classes: marchavam juntos o camponês endinheirado, a pequena-burguesia rural arruinada pelo TLC, o campesinato pobre e muitos trabalhadores agrícolas, que não possuem nada mais que sua força de trabalho e são um “exército” em crescimento durante os últimos anos pela penetração imperialista.
Um programa contra o TLC e pela unidade operário e camponesa
Nos discursos das organizações que encabeçam as mobilizações camponesas se mesclam as demandas mais sentidas dos mobilizados com os chamados ao Partido da Revolução Democrática (PRD) de López Obrador e ã Frente Ampla Progressista (FAP) a que impulsionem a “renegociação” nesse antro de ladrões que é o Congresso, opondo-se a Calderón e ao PAN, que afirmaram diversas vezes que “o TLC não se negocia”.
A devastadora situação que atravessa o campo é conseqüência da subordinação dos governos do México e a imposição dos interesses econômicos e políticos de Washington, dos quais o TLC é ponta de lança.
Frente a ofensiva, a renegociação é uma perspectiva ilusória e uma armadilha porque semeia a expectativa de que sob pressão, os EUA aceitarão renegociar o Tratado, “obrigado” pelas mesmas instituições que durante anos avalizaram a entrega, e porque gera a ilusão de que se alcançará uma situação favorável aos camponeses mantendo o TLC e por fim ã subordinação econômica e política aos EUA.
Para defender os interesses dos camponeses arruinados, e frear a ruína dos pequenos e médios produtores, há que impulsionar a ruptura dos pactos e acordos como o TLC e a dívida externa, e enfrentar a ALCA e o Plan Puebla Panamá, uma verdadeira política de re-colonização da América Latina a partir do controle dos recursos naturais. implica também, mobilizarmos pela anulação do Artigo Constitucional 27, que assentou as bases para o TLC; junto ã imposição de impostos ás grandes fortunas, são medidas fundamentais para obter os recursos necessários para resolver as demandas das massas do campo e da cidade. Esta luta já tem que enfrentar a entrega da PEMEX (estatal do petróleo) e o conjunto dos recursos naturais do país ao imperialismo. Mas isto é só o primeiro passo.
É necessário um programa que lute pela expropriação sem indenização das terras em poder do agrobusiness e dos latifundiários e pela devolução de terras aos indígenas e camponeses, que faça efetiva a demanda de Emiliano Zapata de que “A terra é de quem a trabalha”. Para levá-la adiante, deve garantir a sobrevivência e produção dos milhões de camponeses e pequenos produtores, com medidas tais como o perdão da carteira vencida e o acesso a créditos baratos para maquinaria, abonos e transporte, para o que é fundamental ã aliança com os trabalhadores das cidades, pois estes são quem, em perspectiva, podem garantir o acesso ao transporte e ao crédito necessário para a produção. E sobre esta base, avançar na nacionalização da banca e o controle do comércio exterior, questão elementar para a venda dos produtos agrários do país.
A espoliação imperialista caminha unida è opressão e ã repressão. Para soldar a unidade entre os explorados e oprimidos, as organizações camponesas que se mobilizam, devem pronunciar-se pelo fim a repressão ás comunidades indígenas, pela liberdade dos presos políticos e a dissolução das guardas brancas, exigir a retirada do exército da Chiapas, Guerrero, Oaxaca e demais estados sitiados pelos militares, pelo exército, pelo direito a autodeterminação dos povos aborígines, contra a opressão exercida sobre eles, em particular ás mulheres, triplamente oprimidas e exploradas.
As organizações sindicais que se mobilizaram em 31 de janeiro e anunciam uma paralisação para o dia 31 de março, devem fazer suas as demandas camponesas, para que esta aliança seja efetiva (e revolucionária) é necessário um plano de luta independente do Congresso da União e seus partidos, cujo papel já vimos em 2001 quando votaram a reacionária lei indígena contra os zapatistas.
Para enfrentar ao TLC e a opressão no campo, requer que os trabalhadores se ponham ã frente da mobilização. Há que rodear de solidariedade lutas como a dos trabalhadores despedidos de Gamesa, de Vidriera Potosí e os trabalhadores da UAM e impulsionar uma coordenação nacional das organizações operárias, camponesas e populares, que prepare o terreno para uma grande paralisação nacional contra o TLC, a entrega da PEMEX e pelo triunfo de todas as lutas. Nesse caminho, os trabalhadores terão que avançar em recuperar suas organizações das mãos das direções burocráticas.
Leia o Suplemento Especial de Estrategia Obrera, periódico mensal da LTS, pela mobilização contra o TLC em www.geocities.com/ligamex
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