O mês de março esteve marcado pela crise em torno do massacre comandado pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, sobre membros da Farc em território equatoriano que resultou na morte de cerca de 20 guerrilheiros, dentre os quais um dos máximos dirigentes daquela organização, Raul Reyes. Logo após o ataque, o presidente venezuelano Chávez foi o primeiro a condenar a ação de Uribe, seguido pelo presidente do Equador, Correa.
Entretanto, mesmo neste momento ninguém condenou o assassinato, mas sim o fato de ter sido realizado sem a “permissão” do presidente equatoriano, restringindo as críticas ã questão da violação das fronteiras daquele país. Como escrevemos em outro artigo: “Foi como criticar um assassino por ter cometido o crime fora de sua casa, e não pela ação realizada [1] O que está na base disso é a covardia política dos governos latino-americanos frente ao imperialismo, sobretudo os pós-neoliberais que tentam aparecer como “progressistas”, e que tem em Chávez sua principal referência.
Apesar de Chávez denunciar o caráter profundamente pró-imperialista de Uribe e de reivindicar o reconhecimento das FARC e do ELN como forças beligerantes, o que vimos desde então foi um crescente processo de conciliação entre os envolvidos que se iniciou na primeira reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), culminou no vergonhoso abraço entre Chávez e Uribe na cúpula do Grupo do Rio, e seguiu vigente no encontro dos chanceleres da OEA.
Durante a cúpula do Grupo do Rio todos os governos latino-americanos “progressistas” mostraram sua submissão ao imperialismo norte-americano ao se reconciliarem com o governo colombiano, o aliado mais declarado de Bush na região. Isso se concretizou na ausência total da condenação do terrorismo de estado praticado por Uribe, segundo o qual se permite o assassinato daqueles que são considerados como “terroristas”, sem direito a julgamento e nem a qualquer tipo de defesa.
Chávez, que outrora havia sido o que mais duramente tinha condenado o massacre de Uribe, mostrou toda sua impotência e submissão ao ser o grande pivô da reconciliação durante a reunião do Grupo do Rio. Segundo a Folha de S. Paulo de 18/03/08: “Chávez (...) assumiu um tom apaziguador na primeira reunião da OEA sobre o incidente. Por fim, foi o mais efusivo ao acatar o pedido de desculpas de Uribe no encontro do Grupo do Rio, no dia 7, na República Dominicana, que selou a paz. Por telefone, Lula agradeceu Chávez por sua atitude. E, já no dia seguinte, Chávez acertou com o rival Uribe uma nota renovando "o compromisso de confiança e colaboração" para que seus países não sejam "vítimas de grupos violentos, qualquer que seja a origem deles". Logo a Colômbia e a Venezuela restabeleceram relações diplomáticas entre si. Isso é mais uma prova de que apesar dos discursos Chávez é incapaz de levar ã frente uma posição antiimperialista minimamente conseqüente.
Cristina Krichner, presidente da Argentina, se restringiu a questionar Uribe apenas por não realizar a repressão “ao terrorismo” nos marcos da legalidade. Lula também se restringiu ã mesma posição, sendo inclusive um dos mais ativos na tentativa de por panos quentes na situação, principalmente na primeira reunião da OEA. Isso não atendeu apenas a uma pretensa preocupação de Lula com a “paz” na região, mas ã sua disposição em capitalizar em cima da crise aberta se alçando como possível mediador a serviço dos interesses do imperialismo norte-americano.
Além disso, não houve nenhuma menção ao papel cumprido pelo imperialismo norte-americano, em nenhuma das declarações publicadas pela OEA ou pela cúpula do Grupo do Rio. Como se sabe os EUA mantém um imenso continente militar na Colômbia, incrementado ao longo dos anos com o reacionário Plano Colômbia, que faz com que de fato este país funcione como uma espécie de plataforma para salvaguardar os interesses dos EUA na região. Cabe ressaltar que a falta completa de qualquer palavra tratando do papel dos EUA no ataque é mais escandalosa frente ao fato de que o próprio Uribe declarou ter contado com ajuda logística e informações fornecidas pela CIA.
Apesar da última reunião dos chanceleres da OEA realizada em Quito no dia 18 de março ter adotado uma resolução que "rechaça" o bombardeio colombiano; e do imperialismo e o governo de Uribe não terem conseguido inserir a alegação de que o ataque se enquadraria como “legítima defesa”, obrigando-os a um recuo parcial após a ofensiva encorajada pela covardia dos governos “progressistas” latino-americanos nas reuniões anteriores, o fato é que a Uribe e Bush não sofreram nenhuma condenação real. Isso porque nenhuma medida de retaliação concreta foi tomada, como poderia ser por exemplo a ruptura das relações diplomáticas por parte dos demais governos latino-americanos com o governo de Uribe.
Abaixo o Plano Colômbia! Castigo aos assassinos de Reyes e seus companheiros!
A partir da Fração Trotskista, integrada pela LER-QI no Brasil, repudiamos o massacre cometido por Uribe e os ianques desde o primeiro momento. Frente ã covardia dos governos da região dizemos com claridade que é preciso desenvolver a mais ampla denúncia do terrorismo de estado praticado pelo governo colombiano e lutar pelo fim do Plano Colômbia e com toda a presença imperialista no continente. Estamos pelo reconhecimento das Farc e do ELN como forças beligerantes, para além de não compartilhar nem seu programa nem sua estratégia. Exigimos o julgamento e castigo para os mentores e executores do massacre de Reyes e outros 20 guerrilheiros. Por sua vez, como se mostrou na recente crise, os trabalhadores e o conjunto dos oprimidos da região não podem depositar nenhuma expectativa em que a derrota do imperialismo e das oligarquias nativas virá da mão de governos com retórica nacionalista como os de Chávez, Correa ou Evo Morales. Enquanto os defendemos frente a toda tentativa de golpe reacionário ou de agressão imperialista, dizemos com claridade que a classe trabalhadora tem que construir organizações políticas independentes e lutar por governos de trabalhadores e camponeses. Só isso poderá ser a base para uma real integração dos povos da América Latina em uma Federação de Repúblicas Socialistas que termine para sempre com a opressão imperialista que nos condena ao atraso, fome e miséria.
Visita de Condoleeza Rice é reconhecimento a Lula pelos serviços prestados
A secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, esteve no Brasil para negociar seus planos de miséria com o governo Lula, que como bom capacho que é a recebeu de braços abertos. A visita se deu após a crise aberta tendo como centro Alvaro Uribe, presidente da Colômbia e um dos governos mais abertamente pró-imperialistas da região. A vinda de Condoleeza Rice teve como objetivo fortalecer, ás vésperas das eleições norte-americanas, seus interesses e aliados regionais como o próprio Alvaro Uribe que tentou justificar o massacre com uma imitação do discurso imperialista de “guerra ao terror” contra as Farc. Neste contexto, a passagem de Condoleeza Rice pelo Brasil foi uma mostra de reconhecimento ao governo capacho de Lula como um mediador necessário e aliado político do imperialismo na região. Este foi o papel que Lula cumpriu na crise aberta entre Colômbia-Equador-Venezuela tendo sido um dos principais articuladores da saída conciliadora que se expressou na declaração da OEA, que não condenava abertamente o massacre cometido por Uribe em território equatoriano, e na “reconciliação” ocorrida na Cúpula do Grupo do Rio que “encerrou” a crise.
A política externa de Lula, apesar da sua demagógica tentativa de aparecer como um porta-voz dos países pobres para regatear por migalhas frente ao imperialismo, é de um cinismo sem limites. Lula atuou nas principais crises abertas pela ação das massas na América Latina sempre como “bombeiro”, ajudando a desviar estes processos, como na Venezuela em 2003 e na Bolívia quando as massas derrubaram Gonzalo Sánchez de Lozada. Enquanto fazia discursos pelo “fim da fome” nos países pobres durante seu primeiro mandato, enviava tropas de ocupação para o Haiti. É preciso combater o imperialismo, e os governos capachos como Lula, que abrem os braços para assassinas como Condoleeza Rice.
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