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60 anos de opressão do povo palestino
por : Simone Ishibashi

18 May 2008 | No dia 14 de maio completaram-se 60 anos da fundação do Estado de Israel... Enquanto isso milhões de palestinos recordam as décadas de expurgo, sofrimento e miséria...
60 anos de opressão do povo palestino

Talvez me despojes da última polegada da minha terra

Talvez aprisiones minha juventude

Talvez me roubes a herança de meus antepassados

Móveis... utensílios e jarras

Talvez queimes meus poemas e meus livros

Talvez atires meu corpo aos cães

Talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia

Mas juro que não me venderei

Ó inimigo do sol

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei

Resistirei

Resistirei

Trecho da poesia "Discurso no mercado do desemprego" escrita pelo palestino Samih Al-Qassim, professor proibido de exercer sua função pelos israelenses.


No dia 14 de maio completaram-se 60 anos da fundação do Estado de Israel. Comemorações enchem as ruas de Jerusalém, Tel Aviv e Haifa, que receberão a visita de seu padrinho, George W Bush. Enquanto isso milhões de palestinos recordam as décadas de expurgo, sofrimento e miséria a que foram submetidos desde que foram expulsos de suas casas após a votação da ONU, três anos após o fim da II Guerra Mundial. A fundação do Estado de Israel é denominada pelos palestinos como Nakba (tragédia), sendo o ponto culminante da história de opressão de um povo, agora sob a bota de Israel e do imperialismo norte-americano, sucedido por anos de dominação britânica.

Estima-se que desde 1948 cerca de 7 milhões de palestinos deixaram a região. Entre 1948 e 1950 Israel expulsou cerca de 85% da população palestina das áreas que foram incorporadas, e na Guerra dos Seis Dias em 1967 expropriou metade da terra pertencente aos palestinos, deportou mais 6.000, revogou os direitos de residência de 100 mil e demoliu cerca de 20.000 lares e assentamentos de refugiados. Calcula-se que hoje haja cerca de 1.25 milhões de refugiados palestinos residentes em 59 campos na Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Líbano e Síria, em péssimas condições, que têm se deteriorado ainda mais frente aos ataques recorrentes do exército de Israel contra a Faixa de Gaza, território declarado como “zona hostil” por ser controlado pelo Hamas. O número de assassinatos promovidos pelo estado de Israel é incalculável, mas estima-se que de setembro de 2000 a outubro de 2007 a cifra de mortos palestinos na Faixa de Gaza seja de 5.300, enquanto de feridos contam-se 600 mil, muitos dos quais são crianças, idosos e mulheres.
Isso demonstra que o caráter ilegítimo do estado sionista de Israel faz com que este só possa se manter em base ao assassinato e a opressão crescente do povo palestino. Trataremos neste artigo de alguns aspectos chave sobre o caráter do estado de Israel e qual a posição dos revolucionários.

As origens do Estado sionista

O movimento sionista se consolidou no final do século XIX, tendo como nomes proeminentes Theodor Herzl, jornalista vienense, e o emigrado russo Chaim Weissman. Com o fim da I Guerra Mundial e a instalação do mandato britânico sobre a região da Palestina, Weissman consegue acordos junto ao primeiro-ministro Lloyd George que favoreciam a política de emigração ã região. Desde aí, o projeto de Herzl se enquadrava perfeitamente com os anseios de dominação imperialista sobre o Oriente Médio, tal como atestam suas palavras: "Se Sua Majestade, o Sultão, nos desse a Palestina poderíamos nos comprometer a estabilizar completamente as finanças da Turquia. Para a Europa constituiríamos ali um pilar contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie".

Mas os sionistas eram minoria entre os judeus. Grandes comunidades judias, como a norte-americana, não compartilhavam do projeto de Weissman e Herzl. Havia ainda setores significativos de judeus que aderiram ao movimento comunista. Para fazer frente a isso, Herzl chegou a pactuar com figuras anti-semitas, como o ministro czarista Von Plewbe sob a promessa de apoio da monarquia russa para a colonização da Palestina em troca do convencimento dos judeus de abandonar os partidos operários.

Foi após a II Guerra Mundial e a tragédia do massacre judeu pelos nazistas que se legitima a ocupação da Palestina na ONU. O motor da criação do estado de Israel foi o anseio do imperialismo, agora encabeçado pelos EUA, de estabelecer uma base na região que atendesse aos seus interesses. Os EUA e a Grã-Bretanha fecharam suas fronteiras para o enorme contingente de refugiados judeus durante e após a II Guerra Mundial, tendo permitido que fossem massacrados pelos nazistas. Com a fundação do estado de Israel seguiam tirando proveito da situação dando uma resposta reacionária ao problema judeu como povo perseguido anteriormente. Isso mostra que o capitalismo em decadência não pode resolver as demandas das minorias oprimidas de maneira progressiva.

Assim o imperialismo pôs de pé um estado artificial, baseado na expulsão e no assassinato dos palestinos. Um estado teocrático, terrorista, racista, de cidadãos-soldados.

60 anos depois: corrupção e superexploração

60 anos após sua fundação, o estado de Israel enfrenta um momento de crise, ainda que siga exercendo o papel de sócio do imperialismo e opressor em nome deste em toda a região. Em primeiro lugar, colabora para isso a política desastrosa levada pelos EUA com a Guerra do Iraque, que levou ao desgaste de seus aliados em todo o mundo, e sobretudo no Oriente Médio. Isso se soma aos resultados da ofensiva desferida sobre o Líbano em 2006, quando Israel sofreu um fracasso militar após atacar as fronteiras com o país na tentativa de desarmar o Hezbollah. Naquela ocasião Israel não só não conseguiu desarmar o Hezbollah, que saiu fortalecido, como ainda sofreu o primeiro fracasso militar desde sua fundação, o que abalou o mito da invencibilidade de seu poderoso exército, base fundamental sobre a qual se assenta seu papel opressor na região.

Para reverter isso, Israel endureceu ainda mais o cerco sobre os palestinos, contanto agora com a colaboração aberta do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Abbas do Fatah. Ambos atuaram no sentido de isolar o Hamas - organização islà¢mica que combate a ocupação sionista, vencedora das eleições legislativas em 2006 - a se isolar na Faixa de Gaza, que está sofrendo duros ataques militares na tentativa de fazer com que estes desistam de seu mandato, e como um recado a todos os setores armados que lutam contra Israel de que a estes só restariam duas saídas: ou a capitulação, como faz Abbas, ou a repressão militar.

Porém, esta ofensiva não impediu que mostras da degradação do alto escalào do governo israelense se coloquem cada vez mais abertamente. Hoje o premiê israelense Ehud Olmert, segue envolvido em um escândalo de corrupção, sob acusação de ter recebido dinheiro ilegal de um empresário norte-americano, e pode cair. Este não é o primeiro escândalo envolvendo Olmert, que já foi acusado de ter se beneficiado com especulação imobiliária ilegal, enquanto o ex-ministro da Justiça fora acusado tempos atrás de abuso sexual, o falcão Ariel Sharon (em coma) foi subornado por um corrupto empresário para a compra de uma ilha grega. Se Olmert cair é provável que vençam as eleições Benjamin Netanyahu, líder do partido Likud, outro corrupto ligado a mafiosos como Jack Abramoff, conhecido por ser ligado com a ala mais duvidosa do Partido Republicano norte-americano. Apesar da hipocrisia da burguesia sionista de se alçar como uma “civilização adiantada” e colonizadora no Oriente Médio, a geração mais proeminente de seus políticos encontra-se completamente corroída pela corrupção.

Mesmo sua forte economia, cujo PIB se situa na 18° colocação mundial, avança aprofundando as contradições. Isso porque se dá graças a uma intensa exploração dos trabalhadores, e numa desigualdade social impressionante. Um milhão e meio de israelenses, de uma população total de sete milhões, vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto que 40% da receita das 500 maiores empresas do país estão nas mãos de 19 famílias. Assim, vê-se que o estado de Israel se sustenta sobre uma dupla base: opressão dos palestinos e árabes, e superexploração de sua força de trabalho.

Por uma Palestina laica, não-racista e socialista
É como conclusão de tudo isso que para os marxistas revolucionários não pode haver nenhuma solução possível por fora da destruição do estado de Israel. Que a justa aspiração pela convivência pacífica entre judeus e árabes nunca se efetivará com os "tratados de paz" orquestrados pelo imperialismo, por Israel e pelas direções burguesas árabes, que terminam conciliando, como o Fatah. Todos estes acordos (Oslo, Mapa do Caminho e as retiradas "unilaterais" de Sharon e Olmert, e agora os que se tentam com Abbas) são na prática a renúncia dos palestinos aos direitos democráticos mais elementares, como o de reaver seu território. Qualquer pretensa solução de “dois estados” serve apenas aos interesses da burguesia sionista e do imperialismo, podendo oferecer aos palestinos apenas uma caricatura de estado, sem unidade territorial e com as piores terras.

Estamos contra os ataques desferidos por Israel na Faixa de Gaza contra a população palestina e o Hamas. Por outro lado, defendemos que os trabalhadores e as massas palestinas e árabes avancem da estratégia levada a frente pelas direções islà¢micas, que oculta as divisões entre as classes substituindo-as pela divisão religiosa. Estamos pela defesa da luta de libertação nacional do povo palestino, que só poderá ser levada até o final com a destruição do estado de Israel e a construção de uma Palestina operária e socialista onde possa conviver em paz árabes e judeus, na perspectiva de uma Federação Socialista do Oriente Médio.

 

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