No último dia 10 de junho, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Seul para protestar contra o governo pró-norteamericano do presidente Lee Myong-bak, do direitista Grande Partido Nacional.
Ainda que o principal motivo dos protestos seja a decisão do governo da Coréia do Sul de abrir seus mercados ã importação de carne bovina dos Estados Unidos, depois de que em 2003 se suspendeu a compra pelo temor do mal da “vaca louca”, é um início de uma situação marcada pela pressão inflacionária sobre os preços dos alimentos e do combustível e um rechaço ao alinhamento do governo com Washington.
Este é um grande golpe para o governo de Lee Myong-bak, que tinha ganhado as eleições em dezembro do ano passado com a política de reconstruir a aliança política e econômica da Coréia do Sul com os Estados Unidos e de endurecer a posição contra o regime da Coréia do Norte.
O governo de Lee enfrentou os primeiros protestos do movimento estudantil que começaram um mês e meio atrás, reafirmando seu rumo pró-norte-americano e seus planos neoliberais a favor do interesse dos principais chaebols, das grandes corporações como Hyundai e de investidores estrangeiros, que contemplava a privatização de empresas públicas e o corte de gastos estatais.
A política de permitir o ingresso de carne bovina dos Estados Unidos foi uma concessão que fez o governo coreano em troca de que o Congresso norte-americano aprove o Tratado de Livre Comércio que vem negociando há pelo menos um ano e meio. Isto está arruinando os produtores locais que se lançaram massivamente nos protestos. Lee respondeu com promessas de mudanças no rumo e chamou ã “unidade nacional” para superar a crise econômica que combina uma forte desaceleração com o aumento de preços dos alimentos e dos combustíveis. Todo seu gabinete pôs a disposição sua renuncia e já há rumores de que poderiam oferecer o cargo de Primeiro Ministro a seu rival dentro do Grande Partido Nacional, a conservadora Park Geun-hye, filha do ex-ditador Park Chung-hee.
A mobilização de 10 de junho, que coincidiu com o aniversário das mobilizações democráticas que puseram fim a ditadura 21 anos atrás, marcou o renascimento dos protestos antigovernistas que tinham desaparecido de cena desde fins dos 1990, desviadas pelo governo de Kim Dae Jung. O forte tom anti-norte-americano vai mais além das importações de carne. Milhares de manifestantes voltaram a exigir a dissolução da aliança militar da Coréia do Sul com os Estados Unidos, o desmantelamento das bases e a retirada dos mais de 28.000 soldados norte-americanos que estão no país.
É verdade que, como colocam alguns meios “os manifestantes pareciam representar uma ampla gama de interesses contraditórios”. E que na mesma mobilização participaram trabalhadores, estudantes, até setores médios, produtores e alguns que diziam que estavam “ a favor do tratado de livre comércio com os Estados Unidos, mas que desaprovam o estilo autoritário do presidente Lee (...) Outras levavam dizeres com consignas anti-norte-americanas e prometiam proteger a indústria criadora de gado coreana. Enquanto que outros manifestantes diziam que principalmente estava ali motivados pela alta inflação” (NYT, 11/6). Mas também pode ser o início de um processo que alimentado pela crise econômica e suas conseqüências políticas, tome um curso inesperado, levando ao protagonismo da classe operária e seus aliados no movimento estudantil e no campo.
Traduzido por Felipe Lomonaco
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