No dia 11 de abril passado, o presidente venezuelano anunciou a nacionalização da empresa, propriedade do grupo argentino Techint; foi um primeiro triunfo dos trabalhadores venezuelanos, e em particular dos operários sidoristas que depois de mais de 9 paralisações escalonados, conseguiram torcer o braço da patronal e do próprio governo venezuelano. Publicamos a seguir extratos do primeiro número de “Hoja Obrera” (Folha Operária), uma publicação impulsionada por trabalhadores de base da Sidor. Na fábrica se mantém a organização e mobilização dos trabalhadores, que realizaram a primeira reunião do Comitê de Fábrica (na Venezuela não existem as comissões internas) numa das gerências da empresa, cujas resoluções publicamos abaixo.
Nasce a “Hoja Obrera”
Os que escrevemos Hoja Obrera somos trabalhadores sidoristas. Depois da luta que travamos pelo convênio coletivo e a nacionalização da empresa, consideramos que é importante que comecemos a nos organizar para fazer sentir, além de nossa voz sindical, também nossa voz política. Lutamos pela unidade das fileiras operárias, mas desde a base (...) Os que fazemos Hoja Obrera, cremos que somente podemos confiar em nossas próprias forças(...) Esse triunfo foi produto de nossa luta e de ninguém mais. Fomos nós que forçamos Chávez a tomar essa decisão. Recordemos que tudo o que havia feito o ministro do Trabalho, o Governador, e o que fez a Guarda Nacional com sua repressão, tudo isso foram ordens de cima, a ordem vinha do governo nacional.
A Hoja Obrera é para começar a discutir que não podemos confiar em políticos que nos falam que o capitalismo é ruim, e do socialismo, mas terminam negociando e aliando-se aos empresários (...)
Outra das questões que queremos discutir com a Hoja Obrera, é a necessidade de organizarmos pela base, organizar os conselhos de fábrica, com um delegado por setor votado diretamente e removido quando os trabalhadores considerarem necessário, que representem a todos os trabalhadores sejamos fixos ou contratados, e constituir comitês de gestão e o controle operário por Setor e de toda a empresa. Isso faltou ã combatividade operária de nossa luta (...)
Desde a Hoja Obrera consideramos que agora que alcançamos essa nacionalização, ainda que “chucuta”(pois os representante de Ternium continuaram na empresa com uma determinada porcentagem) , é necessário empreender a luta pelo controle da produção em toda empresa, luta pelo aprofundamento da nacionalização total de Sidor com controle operário.
Desde Hoja Obrera lutamos para que nossa classe tome um curso estratégico de independência. Para isso é necessário lutar pela independência do movimento operário e pela formação nos sindicatos de firmes tendências revolucionárias que, ao mesmo tempo que defendem a unidade do movimento operário, sejam capazes de lutar por uma política de classe e uma composição revolucionária dos mesmos. Lutar por uma política quer dizer ser independente do Estado e dos patrões pois esses acabam sempre favorecendo os empresários, e reforçam a exploração e debilitam nossas forças. É por isso que a Hoja Obrera pretende ser um boletim operário militante, pela unidade operária, a auto-organizaçã o e a independência operária, antagônico aos poderes da burguesia e do Estado.
Lutemos por Comitês de Controle e Gestão Operária
(...) Na empresa, esses organismos democráticos estão sendo formados nas diferentes seções de alguns setores da empresa, e os trabalhadores a denominaram de “Comitês de controle e gestão operária”. Sua estrutura parte da eleição democrática de um delegado por cada setor das diferentes áreas dirigidas por um supervisor (...) os canditados procedem direto do seio do movimento e são eleitos por voto direto, ã mão levantada, e revogáveis a qualquer momento. Esses Comitês tem começado a criar raízes. Já se têm eleitos cerca de 24 delegados, um por cada área no departamento de Produtos Planos e no de Barra e Arame. E começam a eleger-se em outros setores. Na eleição não há diferença entre operários fixos e terceirizados, sindicalizados ou não, pois todos somos iguais.
Em princípio, esses organismos terão como função: apresentação e discussão de todas as reclamações feitas pelos trabalhadores, supervisão do cumprimento da legislação trabalhista e convênios coletivos, as normas de segurança e o tratamento digno dos supervisores com os trabalhadores, a obrigação da patronal de consultar o comitê sobre qualquer proposta seja para a produção ou administrativa, e apresentar provas efetivas da culpabilidade do trabalhador quando a empresa quiser impor alguma sanção a um trabalhador. Impulsionar a unidade dos fixos e dos contratados e a luta pela incorporação dos terceirizados no quadro de funcionários da empresa. Também terá entre suas funções a luta pelo controle da produção.
Essas funções que servirão de escola da organização da classe operária irão se ampliando de acordo com o desenvolvimento e a experiência dos trabalhadores organizados e os problemas que irão se apresentando. Os trabalhadores devemos nos preparar para o controle da empresa, a execução de planos de inversão e produção, o controle da gestão financeira, preparação em caso de conflitos globais da empresa.
Será ao calor da luta e da atividade com o máximo de clareza que esses comitês irão transformando- se em verdadeiros órgãos de luta, de democracia direta. Dessa forma, esse tipo de organização são os embriões de verdadeiros órgãos revolucionários que serão instrumento necessário para unir e fortalecer a luta contra o despotismo do capital.
A perspectiva é impulsionar esse tipo de organização operária em todas as fábricas, indústrias e empresas de toda a região de Guayana, importante bastião operário do país.
Realizou-se a primeira Assembléia Extraordinária de Delegados do Comitês de Gestão e Controle Operário da Supplychaing de Sidor
No dia 2 de julho se realizou a primeira Assembléia Extraordinária de Delegados do primeiro Comitê de Gestão e Controle Operário em Sidor dos setores de Barra e Arame, Produtos Planos e outras áreas da empresa que compõe a Supplychaing que concentram mais de 400 trabalhadores.
Como já explicamos, durante o mês anterior aconteceu a eleição dos delegados, sendo eleito 1 a cada área composta por aproximadamente 20 operários e revogáveis a qualquer momento. Essa primeira assembléia contou com a presença de 17 delegados, com a apresentação dos delegados das distintas áreas, exposição dos tópicos da Assembléia, a nomeação de um coordenador por área e um coordenador geral, abrindo espaço depois para as discussões e as tarefas imediatas. A assembléia demonstrou grande entusiasmo pela dinâmica do processo, e a maneira de síntese, que depois ampliaremos em outras edições desse boletim, relatamos alguns dos pontos tratados e que expressam os objetivos pretendidos.
1 Em função de avançar para o controle dos trabalhadores na empresa e na produção, se debateu sobre a necessidade da eleição direta dos cargos de chefia da gerência pelos próprios trabalhadores, e não como tem sido até agora, que são nomeados desde cima pela Junta Diretiva. Por isso o debate mais imediato foi eleger por votação todos os cargos de chefia da gerência sendo que para os mesmos podem-se postular todos aqueles trabalhadores que queiram exercer tal cargo; a aprovação foi unânime, dentro da assembléia (...)
2 Outro dos pontos importantes foi a discussão sobre a luta pela incorporação dos companheiros terceirizados ã trabalhadores da folha de Sidor, já que essa foi uma das demandas fundamentais quando lutamos pelo convênio coletivo até que conseguimos a nacionalização da empresa (...) A aprovação foi unânime, dentro da assembléia
3 Como parte das tarefas imediatas, e por melhores condições de trabalho, se discutiu e resolveu, no caso do benefício contratual do pagamento da meia hora de almoço por cada jornada trabalhada (...)A aprovação foi unânime, dentro da assembléia.
4 Também foi tocado o assunto da mudança de pessoal de uma área a outra, com o fim de colocá-lo provisoriamente durante o turno fora de sua habitual área de trabalho. Chegou-se ã conclusão por maioria que não se deve transladar por nenhum conceito a um trabalhador a outra área.
Como exemplo desses pontos tratados, com a constituição dos Comitês de Gestão e Controle Operário nos outros setores da empresa, lutamos para avançar realmente para que sejamos os próprios trabalhadores os que controlemos e gestionemos toda a Sidor. Por isso, expomos aos trabalhadores as outros setores da Sidor a constituição desses Comitês, para que possamos realizar uma verdadeira Assembléia Geral de Delegados de toda empresa e dar passos decisivos ao controle da mesma pelos próprios operários.
Traduzido por Beatriz Michel
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