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Não podemos confiar nos partidos patronais e nessa democracia dos ricos
por : Thiago Flamé

24 Sep 2008 | ...segundo o presidente Lula, os brasileiros podem dormir tranqüilos. Segundo ele, os efeitos da crise americana serão praticamente imperceptíveis no Brasil...

No momento em que finalizamos esta edição do Jornal Palavra Operária o mercado financeiro dos EUA tenta desesperadamente escapar de uma quebradeira generalizada de conseqüências que muitos analistas remetem ã crise de 1929. Um colapso do sistema financeiro dos EUA arrastaria o mundo inteiro para uma longa e profunda recessão.

Mas, segundo o presidente Lula, os brasileiros podem dormir tranqüilos. Segundo ele, os efeitos da crise americana serão praticamente imperceptíveis no Brasil, pois a nossa economia teria “fundamentos sólidos”. Quais fundamentos sólidos? As reservas de 200 bilhões de dólares? Mas nos últimos dias as bolsas russas tiveram que interromper seu funcionamento para evitar um colapso da economia deste país, apesar do governo Putin contar com reservas em dólares cerca de três vezes maiores do que as brasileiras. Ou será que Lula se refere ás exportações brasileiras? Neste caso, a perspectiva é que os preços dos produtos que exportamos sigam caindo, enquanto os mercados para os quais exportamos entram em recessão ou sofrem uma profunda desaceleração. Se o argumento seria que o Brasil se tornou confiável para os investidores internacionais e o consumo interno baseado no crédito continua crescendo, a verdade é que a crise internacional já abalou essa confiança: o dólar está em alta, os capitais estrangeiros fogem da Bovespa em ritmo acelerado, os juros pagos pelo governo para rolar a dívida externa começaram a subir e o crédito para os bancos e empresas brasileiras está secando e ficando mais caro pelo aumento dos juros.

Enfim, ao contrário de imperceptíveis as conseqüências da crise internacional prometem ser duras - talvez catastróficas - para a economia brasileira. As negociações coletivas de bancários e metalúrgicos já mostram como a patronal pretende se preparar para a crise econômica atacando os trabalhadores. No próximo período, a economia brasileira vai desacelerar e os trabalhadores podem esperar por ataques ao seu salário, direitos, além de ameaça de demissões. É nesse marco que Lula, tentando nos tratar como idiotas, pede para não nos preocuparmos... Porém, muito preocupado com os capitalistas, Lula declara que o governo bancará dinheiro do BNDES, inclusive mudando leis se necessário, para socorrer os empresários que tiverem “dificuldade” em encontrar empréstimos no exterior e nas negociações de dívidas com os bancos e fundos de investimentos.

As eleições longe da realidade

Nessa situação, os principais candidatos, seja do governo ou da oposição, não têm qualquer solução a oferecer para resolver os principais problemas da população. Nenhum deles sequer tenta dar uma explicação de por que, apesar do crescimento econômico dos últimos anos, ainda existem tantos desempregados e tanta violência social; por que os trabalhadores continuam morrendo nas filas dos hospitais e postos de saúde; por que a educação pública continua tão ruim; por que tanta gente segue morando em condições precárias; ou por que o transporte coletivo continua tão caro. E todos tentam esconder que é só uma questão de tempo para que a crise econômica comece a afetar o Brasil.

Esse silêncio não é ã toa. Todos os principais partidos dominantes no país, incluindo o PT e o PCdoB, assim como todos os principais políticos, a começar pelo próprio Lula, têm acordo em manter os fundamentais ataques neoliberais implementados contra os trabalhadores e o povo durante o governo FHC: o aperto fiscal para pagar a dívida pública, a abertura ao capital imperialista, as privatizações, as medidas de flexibilização dos direitos trabalhistas. Justamente as medidas recomendadas durante anos pelos “gurus” de Wall Street... Mas o que ainda se expressa nas eleições é a inércia do período de crescimento econômico dos últimos anos, que segue empurrando a popularidade de Lula ás alturas, com a criação de novos postos de trabalho e a ampliação dos planos de assistência social. Se por um lado Lula tem conseguido alimentar esperanças em um “reformismo responsável”, transferindo parcela dessa popularidade para os candidatos que apóia, por outro lado o dia-a-dia do trabalhador e as promessas dos políticos de sempre não são estímulos “animadores” nessas eleições, muito pelo contrário. Essa é a base para a sensação de muitos trabalhadores que encaram essas eleições como “mais do mesmo”, e que não se vêem realmente identificados ou motivados por qualquer um dos candidatos, recorrendo à lógica do “menos pior” para fazer suas escolhas.

De olho em 2010 e de costas para os trabalhadores

Durante o governo Lula, os trabalhadores obtiveram poucas modificações na sua situação. Apesar do crescimento econômico se mantiveram as condições históricas de miséria e pobreza das grandes massas, a subordinação aos EUA e aos demais países imperialistas, a enorme opressão que pesa sobre o povo negro, as mulheres e os povos indígenas, a repressão sangrenta contra os trabalhadores e o povo pobre nas grandes cidades. No entanto, é enorme a popularidade do governo Lula, visto pela grande maioria dos trabalhadores do país como um presidente que se preocupa com as necessidades dos mais pobres. Se apoiando nessa popularidade, a burocracia sindical governista segue controlando a luta dos trabalhadores e dirigindo a maioria das campanhas salariais e inclusive a maioria das poucas greves que ocorrem. Não ã toa, Lula tenta fingir que a crise econômica não tem nada a ver com o Brasil: ele sabe que com o fim do crescimento econômico tendem a se reverter as condições que garantem sua alta popularidade.

Mesmo assim, num contexto em que as promessas dos candidatos pouco se diferenciam, um diferencial tem se apresentado como fator decisivo nas eleições: o apoio ao presidente Lula. Segundo as pesquisas, em 20 das 26 capitais, são candidatos dos partidos que apóiam o governo Lula que lideram as eleições. Os pontos de acordo entre PT e PSDB são tantos que em mais de mil cidades estão coligados. Como todos têm acordo em seguir governando para os ricos e oferecendo apenas migalhas aos trabalhadores, nessas eleições a principal disputa é por posições que garantam para os candidatos uma boa localização nas eleições de 2010. Todos já estão preocupados em como vão ficar as coisas no “pós-Lula”... De olho em abocanhar uma participação maior no bolo do Estado cada vez mais políticos tradicionalmente ligados ã direita embarcam no carro lulista, a melhor opção de grandes “negócios” para os políticos de todos os tipos.

Retomar a luta pela independência de classe

Nessas eleições, os trabalhadores só têm como opções mais visíveis votar em candidatos que representam os interesses dos patrões. Por isso, chamamos os trabalhadores a não confiar nas eleições e não votar no PT e no PCdoB - partidos que fingem apoiar os pobres para terminar favorecendo os ricos -, nem no PSDB, DEM, ou qualquer outro partido burguês, como o PPS da Soninha - que nem fingir sabem. Chamamos os trabalhadores a desconfiar das instituições dessa democracia dos ricos em que passam os momentos de crescimento econômico e voltam os momentos de crise e as condições da maioria explorada e oprimida da população pouco ou nada mudam.

A propaganda oficial do TSE tenta fortalecer as ilusões das massas nas eleições, dizendo que depende do seu voto o que vai ser feito das cidades brasileiras nos próximos quatro anos. Na realidade, nosso voto tem pouco ou nenhum poder de decisão sobre o futuro das cidades brasileiras. As principais decisões sobre nosso futuro são tomadas em reuniões e jantares dos políticos burgueses com as empresas capitalistas. Ao contrário da força do voto, o que prevalece na democracia dos ricos em que vivemos é a força do dinheiro. Como as organizações de trabalhadores podem concorrer de igual para igual com as máquinas eleitorais dos grandes partidos financiados pelos empresários? Além disso, as leis antidemocráticas que regem o processo eleitoral não permitem que os trabalhadores e estudantes que participaram dos processos de lutas dos últimos anos se lancem candidatos de forma independente, e impede que as novas organizações de trabalhadores, assim como sindicatos, comissões de fábrica e movimentos populares lancem seus próprios candidatos. A única forma dos trabalhadores lutarem verdadeiramente pelos seus interesses é confiando apenas em suas próprias forças, se organizando de forma independente dos patrões e recorrendo aos seus próprios métodos de luta.

 

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