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Fora o imperialismo ianque da Nicarágua
por : Brayan Brenes

27 Nov 2008 | Por uma saída operária independente frente ã crise do regime orteguista.
Fora o imperialismo ianque da Nicarágua

No dia 9 de novembro terminaram as eleições municipais na Nicarágua. O resultado foi bem favorável ao partido do governo, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) que segundo os últimos dados disponíveis, conseguiu ganhar pelo menos 101 municípios dos 146 existentes em toda a Nicarágua, [1] com um Partido Liberal Constitucionalista (PLC) que obteve aproximadamente 31 governos locais. Desde antes das eleições, a oposição burguesa encabeçada pelo PLC vinha anunciando não reconhecer os resultados se a FSLN ganhasse a disputa eleitoral na maior parte dos municípios, especialmente em Manágua, de crucial importância em termos político-eleitorais. Mas o que era uma ameaça se fez realidade quando Montealegre declarou nulos os resultados emitidos pelo tribunal eleitoral, desembocando durante praticamente toda semana em importantes enfrentamentos entre seus simpatizantes e os simpatizantes da FSLN de Daniel Ortega Saavedra. Os principais choques entre os grupos de ambos os bandos se deram nas cidades de Manágua e de Matagalpa, com alguns incidentes em outras localidades, gerando além de dezenas de feridos, a soma de dois mortos. Para o dia16 de novembro, Montealegre convocou as duas novas grandes manifestações, principalmente em Manágua e outra na província de León. [2]

Nesse cenário não ficou sozinho Eduardo Montealegre, que vem sendo apoiado fielmente por José Miguel Insulza, o Secretário Geral da Organização de Estados Americanos (OEA), a embaixada ianque na Nicarágua e a igreja católica. Por sua vez, Daniel Ortega tampouco ficou sozinho, vêm sendo apoiado pelo governo nacionalista burguês de Hugo Chávez, pelos integrantes da ALBA e pelo Grupo do Rio.

Os socialistas revolucionários frente ã crise na Nicarágua

Apesar de não darmos o menor respaldo ou apoio ao governo de Daniel Ortega na Nicarágua, rechaçamos categoricamente a ingerência do imperialismo norte-americano nesse país da América Central. Acontece que ainda que o imperialismo tenha mantido aparentemente um baixo perfil político, em 12 de novembro Eduardo Montealegre reuniu-se com Robert Callahan, o embaixador dos Estados Unidos na Nicarágua e “entregou-lhe uma cópia eletrônica das 977 atas (...) que não concordam com os resultados apresentados pelo Conselho Superior Eleitoral” [3]. Sem dúvida, a embaixada norte-americana tem a missão de intervir no país, buscando desestabilizá-lo e fazer contraposição ás cada vez mais profundas relações que Daniel Ortega vem estabelecendo com Hugo Chávez e seu bloco político. O imperialismo norte-americano sabe que não pode continuar permitindo um debilitamento nem na região latino-americana nem na da América Central e subterraneamente vem alentando a desestabilização e distintos golpes violentos eminentemente reacionários, como o que vem fazendo a Bolívia com os departamentos direitistas da Meia Lua e em algumas conjunturas na Venezuela.

Mas ao mesmo tempo em que rechaçamos categoricamente a ingerência do imperialismo norte-americano, chamamos aos trabalhadores nicaragüenses a organizarem-se e lutarem com uma política completamente independente da Frente Sandinista e da oposição burguesa ligada mais diretamente com o imperialismo como é o PLC. Também acreditamos que se deve manter total independência de outras frações vinculadas ã tradição sandinista como o Movimento de Renovação Sandinista (MRS) que sob o pretexto de manter limpo o regime democrático e a tradição sandinista, vem alinhando-se com o PLC em sua acusação de fraude contra a FSLN, colocando-se atrás da burguesia e do imperialismo norte-americano que dá respaldo a Montealegre.

Contra o programa burguês de reformas de Ortega e da FSLN: por um programa operário e socialista que responda ás necessidades dos trabalhadores nicaragüenses

Ainda que milhões de trabalhadores nicaragüenses se sintam iludidos com a FSLN e Daniel Ortega, o certo é que esse partido e sua direção representam os interesses dos capitalistas. Em um plano histórico, nem a Frente Sandinista nem Ortega cumpriram com as necessidades históricas mais sentidas pelas massas durante seu primeiro governo na década de 80, instaurado logo depois da queda da ditadura de Somoza: nunca expropriaram ã burguesia, nunca nacionalizaram o comércio exterior, e tampouco fizeram uma reforma agrária radical que respondesse ã demanda de terra dos camponeses pobres. Sob o pretexto de “não ser outra Cuba” tal e como recomendava o próprio Fidel Castro, a direção da FSLN se encarregou de congelar e estrangular a revolução nicaragüense convertendo a Nicarágua no cenário de uma economia morna e fraca de capitalismo misto, que terminou beneficiando ás mais abastadas famílias da burguesia, como os Pelas, que acumularam quantias enormes de capital ã custa da exploração “a toque de caixa” sobre os trabalhadores nicaragüenses, que sofriam as maiores privações em nome da “revolução”.

Na última fase, o partido de Ortega constituiu uma peça chave para que o imperialismo norte-americano pudesse avançar com o TLC nessa nação, e a FSLN votou a quatro mãos no parlamento a aprovação do TLC. Hoje, a FSLN e Ortega apesar de fingirem-se de anti-neoliberal e “socialista” nem sequer são capazes de pôr abaixo o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos que eles mesmos facilitaram; dando continuidade ã exploração e ao saque que o imperialismo norte-americano protagoniza na Nicarágua.

Para arrematar, a FSLN na voz de Ortega, disse que não faria “mudanças dramáticas” na economia durante seu governo, ou seja, que não tocará na propriedade privada dos grandes empresários, proprietários de terras e exploradores; mas sim, administrará o Estado para a burguesia nacional e o imperialismo. Nesse último caso, o governo de Daniel Ortega continua pagando a dívida externa e mantendo todos os pactos de entrega com o imperialismo.

A FSLN já teve seu teste e não passou, reprovou. É por isso que o que corresponde é uma saída operária e socialista aos grandes problemas nacionais da Nicarágua: reforma agrária para dar terra a todos os companheiros pobres, expropriação das grandes indústrias e meios de produção, estatização sob controle dos trabalhadores do sistema bancário e de crédito, monopólio do comércio exterior e construção de uma economia planificada. Todas essas medidas nacionais, completadas com a instauração de um governo operário e do povo pobre na Nicarágua, que lute pela construção dos Estados Unidos Operários e Socialistas na América Latina e Central, contra o calote da ALBA ou dos Grupos de Rio; que não são mais que variantes de distintos burgueses acomodados, com a particularidade de que se chamam “nacionalistas”, patrióticos ou “bolivarianos”.

A direita pró-imperialista debruça a cabeça com ímpeto

Apesar de que a FSLN conseguiu uma vitória eleitoral folgada sobre o PLC, inclusive passando de mais ou menos 87 municipalidades na Nicarágua a 101; o que não se pode negar é o desdobramento das distintas ações da direita pró-imperialista representada pelo partido de Eduardo Montealegre, e um ascenso importante na atividade de inúmeros setores que se encontram descontentes com a política de Daniel Ortega.
Nos primeiros meses do ano aconteceram numerosas mobilizações na Nicarágua, que frente a ilusão de amplos setores das massas na FSLN permitiram ã direita tomar bandeiras democráticas e reivindicativas muito importantes, como por exemplo, a luta contra a carestia de vida e o rechaço ao pacto Ortega-Alemán.

Apenas em 27 de junho se deu uma mobilização massiva em Manágua na qual os eixos eram o rechaço ao pacto entre Daniel Ortega e Arnoldo Alemán assim como o repúdio ao aumento desenfreado do custo de vida. Nessas mobilizações havia não só a oposição burguesa do PLC encabeçado por Montealegre como também estava envolvido o MRS e outras forças secundárias de oposição ao governo. O que é visível é que a direita pró-imperialista trata de tirar vantagem da desilusão de um importante setor da massa com o governo, para tentar capitalizar a mobilização para os interesses de um dos bandos da burguesia. Por outro lado, a passividade de Ortega frente ã propriedade privada, frente ao imperialismo, e o tratamento privilegiado que dá aos grandes proprietários de terra, tem arrebatado ainda mais ã direita.

Os revolucionários da LRS e da FT acreditamos que só se pode enfrentar a direita e o imperialismo atacando suas bases materiais de apoio: expropriando as grandes indústrias, estatizando o sistema bancário sob controle dos trabalhadores, nacionalizando o comércio exterior, planificando a economia e criando organismos de tipo soviético como conselhos operários que se encaminhem à luta por uma verdadeira mudança, revolucionária e socialista na Nicarágua.

 

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