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Um duro revés para Chávez
por : Milton D’León

01 Dec 2008 | Sem dúvida este resultado constitui um forte revés para Chávez, apesar dele retomar o controle dos chamados estados dissidentes...
Um duro revés para Chávez

Com um total de votos menor que seus níveis históricos - os 4.184.158 de votos que obtiveram significam uma perda de mais de 300 mil votos em relação ã votação de 2007 - a direita venezuelana se alçou com cinco governadores e a prefeitura metropolitana de Caracas. Por sua vez, o governo ganhou 17 estados e a prefeitura de Caracas central, além de ter obtido 5.451.325 de votos, recuperando os 1, 3 milhão que não haviam apoiado a reforma em 2007. A abstenção foi baixa para os níveis históricos de eleições regionais (34,6%). Para além de que a votação foi quase empatada nos estados onde a direita ganhou, a realidade é que esta venceu em regiões com 47,7% da população economicamente ativa e 48,4% dos assalariados e assalariadas do país, incluindo Caracas central. O chavismo se saiu melhor nas prefeituras: das 327 do país, ganhou 265, ou seja, pouco mais que 81% do total.

Se aprofunda a debilidade estratégica do governo

Sem dúvida este resultado constitui um forte revés para Chávez, apesar dele retomar o controle dos chamados estados dissidentes, pois a oposição de direita se posiciona muito bem nos estados do centro e nas grandes cidades do país. Mas uma coisa é certa, a direita continua avançando graças ã defecção do chavismo, semelhante ao fenômeno que se deu em 2 de dezembro do ano passado, ainda que em menor proporção, o que se reflete em que a direita não consegue obter o seu piso histórico.

O fenômeno de que com menos votos a direita avança em locais importantes se explica tanto por que ela se concentra nos centros populacionais mais importantes, como por que é onde se operam os índices de maior defecção do chavismo, dando-se um fenômeno combinado. O simbólico, no grande conglomerado urbano da grande Caracas, é a perda do município de Sucre, no estado de Miranda, onde se concentra o maior bairro popular do país, Petare, bastião do chavismo (onde os setores mais pobres votaram pelo chavismo e onde houve abstenção de 43%): a volta massiva das classes médias neste município inclinou a balança e seu resultado é o triunfo da direita tanto em Miranda como na prefeitura central de Caracas. Um fenômeno similar se deu em Carabobo onde existe uma considerável classe operária industrial e trabalhadores assalariados em geral.

De conjunto, para além de que tenha um aumento de 20% com respeito ás eleições de 2007, o chavismo não consegue recuperar o que perdeu neste mesmo ano, quando se inicia sua curva descendente. E apesar de a direita ter retrocedido 100% em relação a 2007, ao se posicionar em estados chave tem um avanço importante. Por isso, dizemos uma vez mais que a grande lição é que não se pode lutar pela “libertação nacional” e menos ainda pelo que Chávez chama de “socialismo do século XXI”, enquanto se estrangula a ação do movimento de massas e não se responde a nenhuma demanda estrutural.

Em direção a grandes pactos nacionais?

O forte revés que o governo sofre nestas eleições é parte da dinâmica de declínio do chavismo, que se iniciou com a derrota no referendo em 2 de dezembro. Dizíamos naquele momento que “o resultado do referendo deixa claro que esta tentativa de arbitragem permanente foi derrotada. Chávez poderia unir por cima para a articulação de suas políticas e arbitrar entre as classes, por que tinha a maioria dos votos ganhos nas eleições. Portanto, podemos afirmar que o bonapartismo plebiscitário tal como existia tende a desaparecer”, e que Chávez já não poderia seguir governando como vinha fazendo.

Hoje vemos os resultados categóricos do que dizíamos; que a “direita levantou a cabeça graças ã própria política do governo, de pactos e negociações”. É evidente que se avizinha um novo ordenamento político, e se verão obrigados a discutir, tanto as forças do chavismo, como as da oposição de direita, novas formas de domínio político no país num sentido mais estratégico, e obviamente em detrimento do movimento de massas. O interregno do equilíbrio catastrófico que se deu entre 2001 e 2003 como momento político mais álgido produto do projeto chavista e da confrontação da reação pró-imperialista gerou um reordenamento de forças que foi tomando forma após o famoso primeiro referendo de 2004, pactuado entre todas as forças políticas com a vinda da OEA e outros organismos internacionais.

Hoje terá novas características com um chavismo com uma grande debilidade estratégica, e uma oposição de direita se relocalizando com o controle de estados chave, que por sua vez optará provavelmente pela política do desgaste buscando o esgotamento gradual e talvez não o confronto radical no estilo da “meia-lua” boliviana. O regionalismo sul-americano, com o Brasil como ator preponderante e que já vinha pondo limites a Chávez, pressionarão neste sentido, mais ainda após o triunfo de Obama nos EUA e no marco de uma profunda crise econômica mundial.

Tudo isso marcado por um grande pano de fundo: as contradições sociais não resolvidas durante todos estes anos emergirão frente a crise do regime chavista, assinalado pelo espectro da sensação de decadência do chavismo em amplos setores nos quais Chávez já não consegue gerar novas expectativas no movimento de massas. Por isso caracterizamos que os chavistas sabem “que se trata de uma nova derrota, medida pela quantidade de perdas de governos e prefeituras que complicaria o cenário do futuro projeto nacional ao qual denominamos como ‘socialismo com empresários’, que não toca em um só centavo dos capitalistas e não satisfaz nenhuma demanda estrutural do povo e dos trabalhadores”. E como dizem os analistas burgueses "este é o cenário frente ao qual nos encontramos".

O trabalhadores têm que se preparar

O que é certo após o resultado eleitoral, e no marco de uma profunda crise econômica mundial que começou a repercutir no país, é que virão seguramente grandes acordos e pactos contra os quais há que se preparar para lutar. Pactos que o chavismo, debilitado, fará com a direita nas costas do povo. As declarações dos direitistas e golpistas como Henrique Capriles, novo governador de Miranda, e Antonio Ledezma, novo prefeito maior, chamando a reuniões e acordos com o governo nacional, e que Chávez já respondeu positivamente, são só sinais dos acordos e pactos que virão em detrimento dos trabalhadores e trabalhadoras e do povo, acelerados pelos fatores econômicos no plano nacional.

Mas cremos que se abre uma situação política muito mais dinâmica em nível nacional, e desde o ponto de vista do movimento de massas haverá muito menos contenção chavista aos trabalhadores em suas lutas, partindo de que não há nada estável na situação nacional. Portanto, um maior avanço do acúmulo de forças para as lutas operárias e populares, que inclusive aproveitarão as brechas nas alturas, tomando em conta que enfrentarão não só o governo nacional, como também os governos municipais e regionais da direita. Por isso cremos que o atual resultado eleitoral não significa uma derrota automática do movimento operário e do povo pobre. E neste sentido, se abrem novas perspectivas para uma política operária independente, pelo processo em curso de experiência com o chavismo, para que a classe operária abra espaço. O movimento operário venezuelano está em melhores condições para enfrentar uma eventual crise, pois não sofreu grandes derrotas e em suas concentrações mais importantes o desemprego não o golpeou, pelo contrário, vem de obter triunfos como Sidor. Assim, se abre a possibilidade de que a vanguarda da classe operária possa unificar suas fileiras e avançar com um programa próprio, de forma independente do governo para mobilizar amplos setores por suas demandas.

Neste caminho é possível dar passos para construir um partido revolucionário de trabalhadores na luta pelo fim do capitalismo.

 

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