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Crise entre Equador e Brasil
por : Simone Ishibashi

01 Dec 2008 |

Nas últimas semanas assistimos ao recrudescimento das tensões entre o governo brasileiro de Lula e do equatoriano de Rafael Correa, por conta as obras de infra-estrutura que a Odebrecht - construtora brasileira que é uma das maiores da América Latina, que mantém obras em diversos países do mundo e lucra bilhões - realizava naquele país. Tudo havia começado em meados de setembro após as obras dirigidas pela Odebrecht - que construía a hidrelétrica San Francisco, empreitada para qual havia recebido a bagatela de US$ 243,00 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) - terem apresentado falhas imensas tendo em pouco tempo partes inteiras que desmoronaram, o que levou o governo equatoriano a exigir reparos, que foram negados pela construtora brasileira com o apoio de Lula. De lá para cá a disputa cresceu até se tornar um incidente diplomático de proporções, resultando na retirada do embaixador brasileiro de Quito, e na ocupação militar por tropas equatorianas das instalações outrora ocupadas pela Odebrecht. Como resposta, Correa havia ameaçado expulsar também a Petrobrás e retomar o controle de campos de petróleo explorados pela empresa no Equador.
Apesar do recente recuo de Rafael Correa, cujas últimas declarações foram no sentido de buscar uma saída dialogada, restabelecendo a relação com o Brasil e com Lula, e mostrando que tampouco está disposto a tomar medidas radicalizadas, a crise entre os dois governos pós-neoliberais assume um caráter importante na medida em que é uma mostra cabal da falácia do discurso de “unidade burguesa latino-americana”, e mostra uma vez mais o caráter reacionário da liderança regional brasileira pretendida pelo governo Lula.

Lula: guardião dos interesses da grande burguesia

Não é de hoje que a liderança regional de Lula é reacionária. A despeito do demagógico discurso que usa nos fóruns internacionais de pretenso “porta-voz” dos países pobres no regateio com os imperialismos, Lula já havia defendido antes os interesses da Petrobrás na Bolívia, onde esta empresa desaloja milhares de bolivianos, superexplora os trabalhadores e acumula lucros exorbitantes. Politicamente usou sua influência política para atuar em nome da “pacificação” da luta de classes em países como a Bolívia - quando, para citar um exemplo recente, interveio em setembro defendendo a “democracia” e a estabilidade na disputa entre a direita autonomista e Evo Morales. Não ã toa foi o governante sul-americano preferido de Bush E agora sai em defesa da Odebrecht, representante do seleto grupo de empresas de capital tão concentrado que competem lado a lado no mercado mundial com os maiores monopólios imperialistas. E esta defesa se dá da maneira mais descarada que pode ser. Afinal, vale lembrar que o “feito” da Odebrecht no Equador se soma a cada vez mais crescente experiência desta em construir obras que desmoronam por sua péssima qualidade antes mesmo de estarem prontas. Esta construtora é a que há cerca de 2 anos foi responsável pelas obras do metrô de São Paulo que desabou, abrindo uma cratera gigante no meio da cidade. O motivo deste desastre foi a sede insaciável de lucro, que se materializou em obras caríssimas com materiais de péssima qualidade, negligência técnica incríveis, e total desrespeito com a vida dos trabalhadores. Fundamentos que se mostram novamente no caso do Equador.

Agora o governo Lula, que inunda os jornais burgueses com o discurso de que estaria apenas “defendendo os interesses nacionais”, não contente em apoiar a Odebrecht quer cobrar do Equador os US$ 243,00 milhões dizendo que estes haviam sido “emprestados”, quando na verdade haviam sido concedidos ã Odebrecht para que esta realizasse a obra. Obviamente que se a obra tem problemas em razão da sua péssima qualidade, não há nada a ser pago. Isso mostra que todo o discurso de união latino-americana de Lula nada mais é que a salvaguarda dos interesses dos setores mais concentrados da burguesia brasileira e de seu reacionário papel de explorador dos recursos dos países vizinhos. Não é interesse de nenhum trabalhador ou do povo brasileiro a garantia dos imensos lucros acumulados por empresas como a Odebrecht, ao contrário do que a burguesia e seus meios nos querem fazer crer.

A falácia da unidade burguesa latino-americana

Assim, a perspectiva aguçada pela crise econômica que assola o mundo, é que cada vez mais se coloque no cenário político regional, a exemplo do que já vem acontecendo com a União Européia, crescentes tensões e disputas políticas, econômicas e comerciais, entre os governos e as burguesias das semicolonias latino-americanas. A bonança econômica dos últimos anos, que chega ao seu fim, tinha sido o pano de fundo para os demagógicos discursos de “unidade” latino-americana através de projetos como a Unasul e a ALBA.

Agora quando os petrodólares da Venezuela, e os altos lucros dos exportadores de commodities dos países do cone Sul, como o Brasil, começam a despencar, mostra-se de maneira mais explícita a mentira da unidade burguesa dos países semicoloniais. É frente a isso, que dizemos uma vez mais que a real unidade dos países da região só pode ser efetivada pela classe trabalhadora, em luta por sua emancipação, pois trata-se da única classe que não é movida pela lucro e que pode dar uma saída progressiva frente ã crise econômica que se alastra. Lutemos por esta perspectiva.

 

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