Em meio ã pior revolta social dos últimos 30 anos, a Grécia ficou totalmente paralisada por uma greve geral de 24 horas. As escolas, prédios públicos, aeroportos e bancos permaneceram fechados, os hospitais prestavam somente serviços de emergência, os transportes estavam completamente parados e a maioria do comércio fechou suas portas. A paralisação geral de 24 horas no dia 10 de dezembro havia sido programada pela Confederação Geral do Trabalho da Grécia (GSEE) antes dos choques com a polícia durante este último fim de semana. Porém, a medida assume uma importância política diferente quando o país se encontra mergulhado num mar de protestos contra o governo e a violenta repressão da polícia.
O brutal assassinato de Aléxis comoveu profundamente os setores populares e a sociedade grega, em particular a juventude, que está cansada de pagar as conseqüências do aumento do desemprego, da deterioração da educação e da crise econômica. Razão pela qual os alunos, com o povo e os professores, abandonaram suas escolas para se somar aos protestos. No dia do funeral do jovem morto os alunos não foram ã aula e os sindicatos docentes chamaram uma paralisação em solidariedade.
A greve foi convocada por duas organizações: a Confederação Geral do Trabalho da Grécia (GSEE), e o Conselho Administrativo Supremo dos Empregados Estatais (ADEY). Somados, ambos representam 2,5 milhões de trabalhadores, quase a metade da força de trabalho grega. Reivindicam um aumento dos gastos sociais do estado para as famílias com baixa renda e aumento dos salários e das aposentadorias. Apesar de não ser sua política, as direções sindicais lideradas pelo partido opositor social- democrata PASOK, se viram obrigadas a chamar uma concentração na praça principal em frente ao parlamento. Para lá foram as colunas de trabalhadores e grupos de jovens e estudantes.
Enquanto os setores mais ã esquerda pediam a demissão do primeiro-ministro Kostas Karamanlís, as direções sindicais ligadas ao PASOK e ao Partido Comunista Grego (KKE) brigavam pela implementação de medidas de ajuda por parte do governo para apaziguar os ânimos e pressionavam pelo adiantamento das eleições.
Em meio deste mal-estar social, a juventude emergia com o grito de “Polícia, porcos e assassinos!” com toda a sua força contra a brutalidade policial e a falta de um futuro fazendo uso dos métodos de luta muito mais radicalizados. A chamam de “geração perdida”. São os jovens sem trabalho, e que quando o conseguem são precários que apenas chegam a 700 euros. Uma cifra com a qual é impossível viver. São os jovens que sofrem com os cortes no orçamento para educação. São os mesmos jovens que hoje tomaram as ruas e as praças das cidades mais importantes da Grécia para repudiar o brutal assassinato de Aléxis, tão jovem como eles. O assassinato atuou como catalisador da raiva contida ante um governo anti-operário que não se cansa de aplicar medidas privatizantes e neoliberais, senão que hoje ante o descontentamento generalizado não pensa duas vezes em reprimir.
A popularidade do governo caiu estrondosamente nas últimas pesquisas. Sua inoperância chega ao ponto de não poder sequer responder frente ã emergência dos incêndios que arrastam meio país ao último ato. Um governo completamente desprestigiado por acusações de corrupção e na mira pelo seu manejo da crise econômica que cruza o país. Ante isso a classe operária não permanecerá passiva, saindo em cena em luta contra os ataques, privatizações e demissões, em alguns casos chegando ã ocupação de seus locais de trabalho.
Esta resistência que até agora poderia ser vista como um fenômeno específico de uma das partes mais pobres da União Européia pode ser a antecipação de futuras resistências e marcar o caminho das lutas que haverão de ser dar no movimento operário europeu num futuro próximo.
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