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"Nova Era" ou continuidade do imperialismo?
por : Celeste Murillo

02 Feb 2009 |

Em meio a grandes expectativas dentro e fora dos Estados Unidos, Barack Obama na última quarta feira dia 20/01 fez seu juramento como o 44° presidente norte-americano. Em frente a 2 milhões de pessoas que presenciaram a cerimônia em Washington e milhões que o acompanharam por televisão no mundo inteiro, Obama pronunciou o discurso de inauguração de sua presidência que começa com nada menos que 2 guerras em curso, Iraque e Afeganistão, e uma crise econômica de magnitude histórica.

Porém, as ilusões e expectativas no governo de Obama se chocarão em algum momento com a realidade, assim mostrou em parte Wall Street que recebeu Obama com a pior queda de sua história durante a ascensão de um presidente. O agravamento da crise econômica é um fato, não só nos Estados Unidos, mas também entre as economias européias, mostrando que os resgates multi-milionários dos últimos meses foram completamente insuficientes (no fechamento dessa edição se anunciava que a Alemanha sofrerá a pior recessão em anos). Os recentes anúncios das perdas milionárias por parte dos bancos norte americanos e europeus, depois de terem sido “resgatados” durante os meses anteriores, não fazem mais do que mostrar a gravidade da situação econômica que se soma a um cenário internacional no qual a crise pressiona a maiores enfrentamentos entre as classes e os estados, com conflitos agudos como no Oriente Médio.

Nesse complexo cenário internacional, Obama e seu gabinete se preparam para responder aos numerosos desafios que enfrenta a maltratada hegemonia estadunidense, cuja decadência veio se acelerando nestes últimos 8 anos de governo republicano.Os mesmos fatores que levaram ao triunfo de Obama, as crises e as guerras, são hoje os principais desafios do governo democrata que ainda contará com a maioria dos parlamentares em ambas as câmaras. Nesse sentido, advertiu Obama: “...não menos profunda é a perda de confiança no nosso país, um temor persistente de que o declínio dos Estados Unidos é inevitável (...) Os desafios que enfrentaremos são reais. São graves e são muitos. Não os enfrentaremos facilmente e num curto período de tempo”.

A substituição imperialista que expressa a eleição de Barack Obama e as expectativas do “establishment” (estabelecimento) financeiro e político de restaurar a localização dos Estados Unidos no mundo serão postos a prova, assim como as ilusões de amplos setores do movimento de massas, imediatamente depois dos festejos em Washington.

Ilusões e realidades do novo governo

O peso simbólico da chegada na Casa Branca do primeiro afro-americano, com pouca experiência em Washington e representando uma suposta nova geração, somado ao amplo rechaço a George W. Bush e ás marcas que deixam seus dois governos, têm alimentado as expectativas de amplos setores da população, especialmente a juventude, as mulheres e as comunidades afro-americanas e latinas no EUA.

Entretanto, esses últimos meses de “transição” têm demonstrado que apesar das promessas e da retórica de mudança da sua campanha, Obama está na primeira fila do resgate milionário dos bancos e das empresas responsáveis pela crise, que significa crescente desemprego e pobreza para milhões de famílias trabalhadoras nos EUA. Outra amostra tem sido seu silencio frente ao brutal ataque do Estado de Israel contra a faixa de Gaza.

Como expusemos no artigo “Obama, candidato da mudança, presidente da continuidade ” no novo número da revista Estratégia Internacional: “Mas esta promessa de mudança está se mostrando completamente vazia. Longe de expressar alguma mudança no sentido que esperava grande parte de seus eleitores, a cúpula do futuro governo mostra uma clara continuidade com as últimas décadas da política norte-americana, uma síntese bipartidarista entre a ala moderada dos republicanos e figuras chaves da “Era Clinton”, o que indica que não implicará uma mudança radical, mas tentará recuperar o ‘centro’ do espectro político”. Ainda que as primeiras medidas do novo governo pareçam ser gestos que buscam deixar para atrás algumas políticas odiadas de Bush, como a suspensão dos julgamentos em Guantanam e o plano de retirada gradual e “responsável” do Iraque, no essencial Obama e seu gabinete – que tem mais caras velhas do que novas- darão continuidade a política imperialista dos Estados Unidos.

Assim, com suas palavras, deixou claro no dia 20 de janeiro: “Não vamos pedir perdão pelo nosso estilo de vida, nem vamos vacilar em sua defesa, e para aqueles que pretendem querer seu fim mediante o incentivo do terror e da matança de inocentes dizemos desde agora que nosso espírito é mais forte e não se pode romper; não podem durar mais que nós, e os venceremos”. E, com uma promessa aparente de volta ao multilateralismo, confirmo mais uma vez a continuidade da política imperialista e sua “guerra contra o terrorismo”, concentrada agora no Afeganistão: “Guiados de novo por esses princípios, podemos fazer frente a essas novas ameaças que exigem um maior esforço, inclusive maior cooperação e entendimento entre as nações. Começaremos a deixar o Iraque de maneira responsável a seu povo, e forjar uma paz ganha com dificuldade no Afeganistão”.

Tampouco se esperam mudanças radicais com respeito ã América Latina, começando pela continuidade do bloqueio contra Cuba (vigente desde 1962), que não será revogado agora (só se fala do envio de remessas e da liberação de viajantes ã ilha). Inclusive para acabar rapidamente com as expectativas que o próprio Chávez havia se encarregado de semear em anteriormente, Obama declarou que “Chávez tem sido uma força que tem impedido o progresso da região” e que “a Venezuela está exportando atividades terroristas e apóia entidades como as Farc”.

Nas primeiras semanas de governo se espera que Obama e seu gabinete acelerem as negociações com o Congresso e o Senado para a votação do pacote de estímulo e ajuda de 825 milhões de dólares, além de seguir com as medidas de resgate ás empresas (continuando o resgate milionário iniciado pelo governo republicano), e a criação de empregos, algo que economistas “neokeynesianos” como Paul Krugman consideram completamente insuficientes para uma economia que já perdeu mais de 2 milhões de postos de trabalho.

Para além de ser o primeiro presidente afro-americano, Obama e o Partido Democrata defendem e representam os interesses da burguesia imperialista, buscando resguardar e garantir os negócios de seus bancos e empresas. Já os trabalhadores norte-americanos estão pagando a crise com desemprego e redução salarial. À medida que esta se aprofunda, a tendência não será ter saídas reformistas, mas de novos ataques contra as massas populares. Isso combinado com um aprofundamento das contradições a nível internacional, pode fazer com que a experiência dos trabalhadores com o governo Obama seja mais rápida do que se havia pensado, dando lugar a um novo cenário de lutas de classes. Somente a mobilização da classe operária estadunidense, junto com a luta antiimperialista de todo o continente, pode oferecer uma perspectiva progressiva ante o horizonte da miséria e barbárie do capitalismo imperialista.

 

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