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O novo governo de Obama sacudido pela crise
por : Juan Chingo

13 Feb 2009 |
O novo governo de Obama sacudido pela crise

No calor da brutal crise econômica que destruiu 598.000 empregos no último janeiro, o entusiasmo entre a eleição de Obama e seus primeiros dias de governo se dissipou rapidamente. Isso já é uma mostra dos problemas que afronta e do excepcional tempo que vivemos. A lua de mel de 100 dias outorgada ao novo presidente norte-americano ainda não terminou. Mas em apenas 20 dias o presidente Obama parece confuso, preso entre a pressão dos bancos e a aristocracia financeira que dirige o país e que pressionam para que os custos da crise caiam sobre as costas do povo trabalhador e as expectativas destes que em apenas vinte dias seu governo parece confuso, preso entre a pressão dos bancos e da aristocracia financeira que dirige o país e pressiona para que os custos da crise caiam sobre as costas do povo trabalhador, e as expectativas destes de que sua ascensão ao poder significaria uma mudança nas condições desesperadas de deterioração da economia.

A crise do caminho conciliador eleito

Para alguns analistas a administração Obama já se mostra mais incompetente que a de Bush em seus piores dias. Alguns analistas burgueses ultra-liberais respeitados como Martin Wolf começa seu artigo de 11/2 no Financial Times perguntando-se inclusive se sua presidência já fracassou “A presidência de Barack Obama já falhou? Em tempos normais esta seria uma questão impensável. Mas estes não são tempos normais. Estes são tempos de grande perigo... Hoje se tenta estar no controle da situação; amanhã os acontecimentos nos controlarão. Fazer pouco é muito mais arriscado que fazer muito. Se falhar em agir com decisão, os riscos para o presidente serão imensos, como para seu predecessor. Os custos para os EUA e o mundo de uma nova falha do presidente não terá precedentes”.

Esta incipiente crise política a pouquíssimos dias de ter assumido é uma conseqüência do caminho extremamente contemporizador e de unidade nacional eleito pelo novo presidente, muito longe ainda da política de ruptura de Franklin Delano Roosevelt durante a Grande Depressão que evitou o descontentamento das massas se fortalecesse e sua radicalização independente dos dois grandes partidos da burguesia apesar das grandes mobilizações que se desenvolvem, ainda que não tenha tirado a economia da depressão. Isso é o que pode se observar tanto no Plano de Estímulo aprovado em 10 de fevereiro no Senado, que no dia seguinte foi acordado antes de sua promulgação pelo presidente com a versão adotada pela Câmara de Representantes, como nos detalhes do novo plano de estabilidade financeira anunciado pelo novo secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, no mesmo dia. No primeiro caso sua opção política de costurar um consenso bipartidário não conseguiu que nem um só republicano votasse a favor da versão da Câmara de Representantes do plano de estímulo, ao qual denunciam demagogicamente como uma “socialização” da economia que trará consigo a posta de marcha de um “Estado de Bem-Estar” ã européia, dito isso desde o programa da direita republicana que consiste em baixar ainda mais os impostos aos ricos e a destruir o pouco que resta da segurança social, transferindo o dinheiro público ao grande capital, mas por outras vias que os democratas propõem.

Mas sua pressão na Câmara de Senadores, onde os democratas somaram o apoio de três senadores republicanos, conseguiu liquidar os mínimos paliativos que este plano tinha para torná-lo palatável ás massas, como a ajuda aos governos estatais, a construção de escolas ou o incremento dos cupons de alimentos, que é o central dos mais de 80 bilhões de dólares que foram tirados da versão adotada no Parlamento. Por outro lado, se incorporaram alguma cláusulas como um crédito impositivo para compradores de casas, que alguns analistas chamaram como “cláusula transfira sua casa a seu irmão”, que custará muito dinheiro e não fará nada para impulsionar a economia. Não por casualidade tem diminuído o respaldo da população, como mostraram as pesquisas de opinião antes de sua aprovação. Neokeynesianos como Paul Krugman decepcionado pela lei votada, que responsabilizam a estratégia bipartidária seguida por Obama: “...esta foi sua melhor oportunidade de ter uma ação decisiva, e foi desperdiçada”. Por outro lado, o novo plano de resgate financeiro mostra que Obama serve aos interesses de Wall Street, como Bush. O conteúdo de seu novo plano pode ser resumido em não ã nacionalização dos bancos nem em castigar os acionistas. Estes são os limites políticos que o governo não está disposto a questionar. Neste sentido, ainda que Geithner tente apresentar o novo plano de resgate chamado Financial Stabillity Trust, como algo totalmente distinto do infame Troubled Asset Relief Program (TARP) impulsionado pelo ex-secretário do Tesouro de Bush, Henry Paulson, dizendo que inclui fortes requerimentos de exigência e responsabilidade e duras restrições nos bancos que recebam fundos adicionais de resgate, em realidade seguiu o mesmo esquema. Os supostos limites ao pagamento dos executivos e outros requerimentos sobre os bancos são, na realidade, em grande parte efêmeros, designados para aliviar o receio da população e ocultar a realidade de uma nova e vasta transferência de recursos públicos ã elite financeira.

Mas apesar destas garantias para os investidores e banqueiros, nunca um plano havia sido tão abertamente rechaçado por estes mesmos setores, como demonstra a forte queda da bolsa enquanto Geithner estava dando uma entrevista coletiva, ainda que no dia seguinte subiram um pouco ã espera de novos detalhes. É que a ausência de especificidade e de uma direta e aberta promessa de liberar as perdas dos bancos a expensas da população inflamaram o ceticismo e uma aberta hostilidade dos mercados financeiros. Como coloca Nouriel Roubini “A pesada proposta do Tesouro norte-americano para dispor de ativos tóxicos pode ser melhor entendida como uma combinação entre tomar ativos tóxicos dos balanços dos bancos e outorgar garantias governamentais ã aqueles investidores privados que os comprem (e/ou provisão de capital público para financiar um “banco ruim” privado-público que compraria tais ativos). Mas este plano é tão pouco transparente e complicado que foi recebido por uma queda brusca nem bem havia sido anunciado, enquanto todos os principais índices de equidade dos EUA caíram agudamente”. (RGE, 10/2)

Uma crise de insolvência que abre a Segunda Depressão, se é que já não começou

A questão de fundo é que como já dissemos várias vezes estamos frente ã bancarrota completa do sistema bancário norte-americano , inglês e de alguns países da Europa. Como assinala Martin Wolf na nota citada mais acima: “... Uma proporção considerável das instituições financeiras é insolvente: seus ativos valem de acordo com análises plausíveis, menos que seus passivos. O FMI coloca que as perdas potenciais só dos ativos creditícios originados nos EUA são hoje de 2,2 trilhões de dólares (1,7 trilhões de euros, 1,5 trilhões de libras), 1,4 trilhões de dólares mais que em outubro passado. Isso é quase idêntico ás últimas estimativas da Goldman Sachs. Em comentários recentes ao Financial Times, Nouriel Roubini estima as perdas máximas sobre os ativos gerados nos EUA em 3,6 trilhões de dólares. Felizmente para os EUA a metade destas perdas se darão no exterior. Mas, o resto do mundo responderá: ao implodir a economia mundial, as enormes perdas no exterior – sobre a dívida soberana dos lares e das empresas – recairão seguramente sobre as instituições norte-americanas com efeitos nefastos”.

O novo plano do governo de Obama segue tratando a questão como se a crise financeira só fosse de liquidez, apostando ilusoriamente em uma melhora das perspectivas econômicas. O risco desta política como alerta de Roubini é que: “O atual enfoque dos EUA e da Grã-Bretanha pode terminar se parecendo aos bancos zumbis do Japão que nunca foram devidamente reestruturados e terminaram perpetuando a seca e o congelamento do crédito”.. Por isso este guru da atual crise propõe uma nacionalização mas lamenta que por agora é politicamente inviável. Para que isso seja justificável desde o ponto de vista da propriedade capitalista a maioria dos bancos (os quatro maiores e uma boa parte dos bancos regionais) todos teriam que estar claramente em insolvência. Hoje só o Citigroup e o Bank of America parecem estar neste estado, mas não ainda o JP Morgan e Wells Fargo. Mas esta poderia ser a realidade se a economia não melhora como anseia o governo dentro de 6 e 12 meses.

Além dos grandes bancos, algumas consultoras como o RBC Capital assinalam que nos próximos 3 a 5 anos fechariam nos EUA até 1000 entidades financeiras como conseqüência dos créditos concedidos para financiar investimentos terciárias imobiliárias, categoria que ameaça em se converter no próximo setor problema. Seu anterior prognóstico era de 300. Em 2008 fecharam 25, a perspectiva para 2009 é de 9, o que implica que provavelmente se alcancem as 100 neste ano. O pior chegará em 2010 e 2011. Por sua vez, um informe do Credit Suisse assinala que as perdas pendentes do setor imobiliário norte-americano são de 1,6 bilhões de dólares, isto é, cerca de 18% do total do mercado imobiliário norte-americano, com os pagamentos muito concentrados nas hipotecas Alt-A, aquelas constituídas com documentação incompleta.
Dito de outra maneira, tudo teria ainda que cair mais para que seja factível tomar medidas mais radicais. Mas o risco para a economia de conjunto poderia ser pesadíssimo como alerta Roubini: “A estratégia atual, do Plano A pode não funcionar e o Plano B (ou melhor, Plano N de nacionalização) pode terminar de dando muito tarde neste ano. Perder outros 6-12 meses para fazer o certo pode ser um erro, mas as restrições políticas da nova administração – e a pequena probabilidade restante de que a atual estratégia funcione graças a algum milagre – sugerem que deveria se esgotar o Plano A antes de avançar em direção ao Plano N. Gastar outros 6-12 meses pode significar o risco de transformar uma recessão em forma de U em uma em forma de L próxima da depressão, mas atualmente o Plano N não é politicamente factível”.

E isso sem levar em conta que ainda no caso da nacionalização o estado responderia por toda uma série de dívidas lixo que deverá mais cedo que tarde declarar a perda, isto é, que deverá declarar a perda, isto é, que deverá encarar uma reestruturação da dívida para recompor a acumulação capitalista. E que isso é necessário não só no setor bancário e financeiro, como também nas outras partes da economia, como importante corporações, o setor hipotecário de moradia, e os próprios lares, que se encontram super-endividados em relação ã sua renda. Mais precisamente, o serviço da dívida em relação ã renda é o mais alto desde a Grande Depressão. Até agora se veio cortando os custos em relação ás corporações ou o consumo em relação aos lares para cobrir a dívida. Mas até agora não houve muita reestruturação: por isso é provável que 2009 e 2010 sejam anos de falências e reestruturações, o que será enormemente doloroso e testará o sistema político.

Nesta marco, cada vez mais fica claro que a aristocracia financeira que concentra o poder dominante nos Estados Unidos e ã qual as cúpulas dos partidos democrata e republicano atendem, se apresenta como um obstáculo insuperável para uma solução para a crise, arriscando – com sua contenção de capital que exacerba o racionamento creditício e a queda em espiral da “economia real”, confiada de que pode eventualmente forçar o governo a absorver o custo total de suas perdas – a entrada na segunda depressão, se é que já não entramos nela. A forte alta do desemprego, a contração do comércio mundial que está caindo muito mais rápido que em qualquer momento da Grande Depressão e o colapso da produção industrial pareciam confirmá-lo. Ou no terreno financeiro a subida do rendimento dos bônus do Tesouro a 10 anos que cresceu de 2% a 3% desde o Natal, apesar dos enormes esforços de baixar as taxas. Isto é, o custo real do capital está crescendo apesar da queda econômica que se aprofunda, o que em termos econômicos se chama deflação da dívida.

Esta perspectiva obscura, que poderia desatar o descontentamento da população, hoje fortemente contida pelas ilusões que o triunfo de Obama despertou poderia ser muito custosa para o conjunto do sistema dominante que poderia esgotar antes do pensado esta válvula de contenção em função de salvar os interesses de seus setores mais altos.

 

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