Altamira e o caminho do confronto com a realidade
Por: Lucas Pizzutti
De forma altissonante o que Altamira trata de ocultar é que Marco Ferrando, do Progetto Comunista, e seu sócio na CRCI chamam a votar “com um programa próprio” no candidato “mais ligado aos interesses gerais do capitalismo italiano”.
Com uma ousadia sem par, a partir da Prensa Obrera, Jorge Altamira escreve um altissonante artigo intitulado “O PTS do outro lado da barricada”, para encobrir as capitulações dos grupos de sua corrente internacional. Descaradamente nos acusam de nos somarmos a uma “campanha” de tipo macartista contra o dirigente de sua corrente italiana Marco Ferrando. Nada mais distante da verdade; pelo contrário, o que dizemos é que capitula ã centro-esquerda burguesa italiana.
Como recordarão nossos leitores, Progetto Comunista (PC), o grupo italiano da CRCI (agrupamento internacional liderado pelo PO), se partiu produto da aceitação de uma candidatura a senador pela Refundação Comunista (RC). Seus opositores, a metade do grupo, o acusaram de ter aceitado como condição confiar no futuro governo burguês de Prodi. Esta acusação nunca foi desmentida. Em seguida foi expulso das listas de RC por fazer declarações de esquerda, mas não obstante seguiram chamando a votar em RC, ou seja em um partido da aliança burguesa de Prodi, a Unione.
Simples, aprofundam o caminho ã direita iniciado quando chamaram a votar em Evo Morales com o voto na coalizão burguesa imperialista encabeçada por Prodi. Deixemos Ferrando “Jornalista” falar: Mas há alguma coisa que o mancomuna com Prodi com a DS, com a Unione? Ferrando: Sim, nos comprometemos a expulsar Berlusconi. Mas isto deve ser feito com as demandas dos movimentos populares, não sob o interesse das grandes empresas” (Corriere della Sera, 13/2).
O artigo “Crise na esquerda italiana pelo ‘caso’ Ferrando” publicado no LVO n° 181 tinha uma clara intenção: demonstrar que Progetto Comunista não rompe com a lógica “anti-berlusconismo” burguês. Que Progetto Comunista não tinha desmentido nunca que se chegassem ao Senado dariam seu voto de confiança a Prodi, e que (até este momento) não diziam claramente em quem chamavam a votar. Além disso esclarecemos que nos colocamos ao lado de Ferrando frente aos ataques macartistas dos políticos da burguesia italiana. Como conclusão dizíamos que tinham que romper com RC para não estar mais atados ao carro da burguesia “opositora italiana”. Nada a ver com o que diz Altamira. Chama de “astuto” seu amigo Ferrando para encobrir uma enorme capitulação.
Altamira afirma justamente “Ainda que vá com listas próprias, o PRC forma parte da coalizão da burguesia imperialista de centro-esquerda Unione, que é liderada pelo ex primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Européia, Romano Prodi.” Nós estamos de acordo com esta afirmação. E Ferrando “Jornalista”? Em 9 de abril você votará em Romano Prodi? Ferrando: Nós fazemos a campanha eleitoral por RC sobre a base de um programa autônomo de partido (?!), não pela Unione. Naturalmente portando votos a nosso (sic) partido contribuiremos para a derrota de Berlusconi, ã qual nós queremos incondicionalmente (incondicionalmente, sic). Mas queremos tirá-lo ao lado dos reclamos e das reivindicações sociais, não para fazer uma operação transformista das classes dirigentes do país que substituem Berlusconi com um governo, cem certos aspectos mais ligados aos interesses gerais do capitalismo italiano” (http://www.dilloadalice.int.n.94 de 01/03/06).
Ou seja, vão fazer campanha para a RC, parte da coalizão da burguesia, segundo Altamira porque querem “incondicionalmente” a derrota de Berlusconi. Quer dizer que se localizam como ala esquerda da frente dirigida pro Prodi. Por esta razão votam em RC, para “contribuir ã derrota de Berlusconi”. Entretanto, Ferrando segue chamando “nosso partido” a um partido que forma parte da “coalizão da burguesia de centro-esquerda” e que ademais os tira das lista por ordem de Prodi. Para não romper com a “opinião pública” anti-berlusconiana. Mas o que é mais perigoso é que chamam a votar em RC, ou seja ã Unione, “do lado dos reclamos e das reivindicações sociais”, vale dizer, cobrindo seu flanco esquerdo.
Se Altamira pensa que estamos exagerando deixemos que Ferrando nos explique porque farão uma campanha eleitoral “paralela”, de “esquerda”, mas sempre chamando a votar em RC: “isto assegura o ex candidato suprimido das listas de RC - é paradoxalmente a melhor ajuda que lhe podemos dar a Refundação Comunista e ã centro-esquerda (sic). Com nosso programa, ao menos, tentamos conter o dano provocado pela Secretaria (Bertinotti) com a decisão de alienar-se completamente (!!) ao programa da Unione” (“Il ritorno di Ferrando”, Il Manifesto 7/3). Os comentários sobram: sua verborragia “esquerdista” serve como “a melhor ajuda” para a burguesa Unione.
Altamira do “outro lado da verdade”
No artigo do PO não se lê uma só linha sobre o fato de que Progetto Comunista se dividiu entre a aceitação da candidatura por parte de Ferrando, que foi acusado de capitulador a Prodi. Esta ação provocou uma ruptura importante em nível de direção e da base, deixando enormemente debilitado o grupo italiano da CRCI.
Recordemos a Altamira a declaração - que este nem nomeia - do grupo dissidente do PC encabeçado por Ricci: “Mas o fato mais grave é o compromisso de disciplinar-se: não serão admitidos os “votos em dissenso” com o grupo parlamentar, isto é com as indicações de Bertinotti. Esta aceitação da disciplina era e é do nosso ponto de vista inaceitável” (Bertinotti com Ferrando na jaula da Unione, www.progettocomunista.org). Como contam os jornais, o grupo de Progetto Comunista na direção nacional de RC estava dividido, 10 estavam com Ricci e 07 com Ferrando.
Bertinotti chegou a um acordo com o grupo aparentemente minoritário do Progetto Comunista (Ferrando) deixando de fora o grupo de Ricci. Por isso é que, ainda que Ferrando negue todo acordo para ter sua banca, (questão que ainda que para nós não nos conste denúncia pública de que de Ricci membro até então da mesma organização de Ferrando), nunca desmentiu publicamente que ia votar confiança a Prodi porque seu parceiro Bertinotti o negaria de imediato. Desafiamos a Altamira que nos mostre uma só declaração de Ferrando na que desminta claramente que estaria por votar confiança em Prodi.
É evidente que a política de 15 anos de “entrismo”, construindo uma ala de um partido reformista, os leva a adaptar-se a opinião pública “anti-berlusconiana” burguesa, o que lhe impede ter independência de classe. Por isso chegam ao cúmulo de votar em RC ainda que os tirem das listas. O problema é que Ferrando sempre fez declarações “esquerdistas”, enquanto RC co-governava com Olivo regiões e municípios durante 15 anos. Mas o que fizeram atuando como a oposição ã sua majestade, já que enquanto falavam de “socialismo” jamais pediram a saída de RC destes governos com o “centro liberal”, os quais “massacraram os povos da Iugoslávia” como saída da RC destes governos com o “centro liberal”, como justamente disse Altamira.
Tampouco romperam com RC quando apoiava no parlamento ao anterior governo de Prodi (96-98) que, entre outras calamidades, mandou tropas ã Albânia. Por que o fariam agora quando a tarefa é derrotar “incondicionalmente” Berlusconi? Seu “entrismo de longo alento” nos deixa a par historicamente de Pablo e Mandel, ou da corrente de Ted Grant com o qual compartilham reuniões há 15 anos em RC.
Por último, a comparação que faz Altamira de Ferrando com o revolucionário alemão Karl Liebchneckt seria graciosa se não fosse uma falta de respeito para o velho revolucionário alemão. Este revolucionário social-democrata denunciou os créditos de guerra em 1914, e saiu a fazer agitação nas ruas contra a guerra imperialista.
Foi um exemplo de firmeza e morreu assassinado em 1918. Ferrando, em troca, chama a votar em Bertinotti, que apóia o envio de tropas imperialistas “sob mandato da ONU”, o que impede que enviem ao Iraque “tropas da ONU, sob o mandato de países que não participaram da guerra” (como França, por exemplo).
Altamira quer tapar o sol com a peneira, mas não pode negar a realidade: os efeitos se sua longa experiência política capituladora estão afundando política e numericamente sua seção italiana. O apoio a Refundação Comunista (e pelo seu intermédio a Prodi) é um grande divisor de águas da esquerda mundial. A CRCI está se desmoronando e tomando o mesmo caminho que o SU, SWP, e o resto do centrismo trotskista.
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