Estamos em um mês de conflito. Nem o patrão nem a burocracia sindical, nem o governo nacional nem o de Scioli esperavam uma resistência tão longa e tenaz quando o ataque começou em 18 de agosto. A resposta da base foi extraordinária. Nesta quarta-feira 16, um grupo de burocratas do Daer com seus gerentes e líderes tentaram golpear o conflito. Membros internos, os delegados e os demitidos enfrentaram esta tentativa e conseguiram impedi-los devido ã rejeição ativa de cerca de 200 trabalhadores (quase todos) que foram abordar a burocracia e os patrões. Os Verdes tiveram que se retirar derrotados. O pequeno grupo arrebanhado que se fez servente da empresa apenas passou vergonha e isolamento. Foi apenas há uma semana que trabalhadores do turno da tarde haviam rejeitado a fiscalização que foi lá para assustar e teve que voltar de cabeça baixa no meio de gritos hostis a partir de centenas de colegas. Poucos dias antes, na segunda-feira 7, o turno da manhã havia protegido os demitidos quando a polícia tentou prende-los dentro da mesma planta. O turno da noite já fez dois cortes da Avenida Panamericana para que o conflito chame as atenções. E ainda se atrevem a dizer que esta luta é imposta por uma minoria dos trabalhadores!
Solidariedade e mobilização
A verdade é que o conflito na Kraft-Terrabusi aumentou rapidamente nos últimos dias, após a repressão de segunda-feira, 7. Na quinta-feira 10, pela manhã, o país acordou para a notícia de um novo corte da Av. Panamericana pelos operários do turno da noite. Nesse mesmo dia, algumas horas depois voltou-se a bloquear a mesma rota. Um acontecimento sem precedentes, dois bloqueios da Panamericana em um mesmo dia pelo mesmo conflito. Nesta última semana também houveram três bloqueios pelos universitários. Dois na Capital com estudantes da UBA e uma em San Miguel convocada pelo Centro de Ciências da Educação da UNLU. Houveram atos e bloqueios em Córdoba, em Rosário e em Nehuquén. Na sexta-feira 11, houve bloqueio da Ponte Pueyrredón. O conflito ganhou apoio e popularidade. No sábado, 12 foram convocados para uma reunião de solidariedade na porta da fábrica onde as novas medidas foram planejadas. Uma delegação de Rosario, encabeçada pelo CeProDH trouxe o comunicado da Câmara Municipal daquela cidade contra a repressão e em defesa dos postos de trabalho. No final, uma reunião de mais de 150 mulheres, onde haviam muitas colegas demitidas, trabalhadoras e familiares debateram medidas de luta. Eles resolveram fazer uma manifestação para a COPAL na segunda-feira. À noite, mais de 400 pessoas se reuniram em um festival que muitos colegas estavam com suas famílias. Nesse mesmo dia, o jornal Página 12 publicou uma declaração de apoio aos trabalhadores e contra a repressão, assinada por Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz para Mães e Avós da Plaza de Mayo e de outras agências de direitos humanos. A contra-capa do mesmo jornal foi escrito por Osvaldo Bayer fazendo uma grande defesa dos trabalhadores da Kraft-Terrabusi. Na segunda-feira 14, mais uma vez a TV mostrou a luta na Kraft. As companheiras bloquearam a Avenida Libertador e denunciaram a COPAL, a Câmara dos Patrões Alimentícios. Na tarde de segunda-feira a Câmara liderada por Jorge Zorreguieta, ex-membro da ditadura, divulgou uma declaração pedindo a repressão contra os trabalhadores da Kraft-Terrabusi. Canais de televisão, jornais patronais, todos deram ampla publicidade ã ordem repressiva. Agências direitos humanos presididas por Pérez Esquivel e centros universitários e Federações repudiaram este ataque com declarações.
Para o grupo Clarín que grita aos quatro ventos “sua” liberdade de imprensa deu uma enorme transcendência ás declarações de um funcionário de Videla e ocultou o expresso pelo Premio Nobel da Paz e os organismos de Direitos Humanos. Na terça a União Industrial Argentina (UIA) se somou ao pedido repressivo com um tom ainda mais reacionário. Hebe de Bonafini soltou um comunicado em apoio aos operários e León Gieco se pronunciou pela reincorporação de todos.Na terça a noite um grupo de estudantes do NP “irrompeu” o programa de Julián Weich para que milhões escutassem a reivindicação dos operários “Queremos a reincorporação de todos os operários de Terrabusi”, disseram. O deputado Macaluse expressou seu apoio no parlamento.
Acampamento e fundo de luta para prosseguir
Os operários de Terrabusi continuam sua luta. Na tarde de terça-feira, 15 de setembro, 2000 pessoas encabeçadas por um grupo de trabalhadores foi até a Embaixada norte-americana para exigir a re-incorporação de todos. Na quarta-feira, 16, 250 estudantes da Universidade de Lujan e de General Sarmiento junto a professores e trabalhadores da região, pararam a rota 8 e 202 novamente. Enquanto uma nova reunião de solidariedade na porta da fábrica definia novas medidas, entre elas, fazer um acampamento massivo durante o fim de semana como propusemos desde o PTS frente a ameaça de repressão.
A patronal insiste em sua política repressiva e pressiona sobre a Câmara de Apelações para que envie a polícia a atacar os operários e as operárias de Kraft Terrabusi. A empresa pediu ã justiça também a retirada de toda a Comissão Interna, enquanto a sentença de um juiz determina que o delegado Javier Hermosilla não tome tarefas trabalhistas numa tentativa de impedir que permaneça dentro da fábrica para desorganizar os trabalhadores. A assembléia do turno noturno, na quarta-feira, 16, votou a defesa incondicional do companheiro.
O governo de Cristina e o de Scioli agem pelo desgaste da luta, para conseguir a rendição e senão, a repressão. E por isso, a bonaerense continua a postos na fábrica. A empresa ameaça não pagar a quinzena. A CTA deve abandonar sua presidência, que esta altura é vergonhosa e deve apoiar decididamente esta grande luta.
Mas enquanto isso, a solidariedade se estende e se multiplica em todo o país. É necessário que a enorme força que existe dentro e garante que a produção não arranque. Desenvolver o fundo de luta, questão que tomam em suas mãos valiosíssimos companheiros que fora da fábrica, dia-a-dia recorrem a faculdades e locais de trabalho, manter a unidade dentro da fábrica e preparar medidas contundentes se a justiça e o governo finalmente tentarem derrotar esta luta com repressão. E também alertas ás novas manobras que queiram fazer.
Passa-se um mês da luta em Terrabusi. É parte da história da classe operária argentina. Nos esforçamos ao máximo para que triunfem. Fora a polícia da fábrica e seus arredores. Não a Repressão. Reconhecimento do Corpo de Delegados. Re-incorporação de todos os demitidos. Pelo pagamento integral dos salários.
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