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A resistência hondurenha em pé de luta
por : Sandra Fuentes, corresponsal en Honduras

25 Sep 2009 | Milhares de pessoas em todo o país começaram a chegar ao lugar para confirmar a notícia. Em algumas horas a manifestação rodeada de felicidade era de dezenas de milhares, que cantavam cânticos e consignas contra os golpistas e em repúdio ao Exército, que se encontrava vigiando a (...)

Milhares de pessoas em todo o país começaram a chegar ao lugar para confirmar a notícia. Em algumas horas a manifestação rodeada de felicidade era de dezenas de milhares, que cantavam cânticos e consignas contra os golpistas e em repúdio ao Exército, que se encontrava vigiando a manifestação.

Ao ser anunciado que Zelaya se encontrava na Embaixada do Brasil, a multidão se deslocou para lá, algumas ruas da sede local da ONU, com a disposição de respaldá-lo e ao mesmo tempo se começaram a organizar de forma independente cordões de segurança com centenas de pessoas, que fizeram o Exército retroceder e tomaram o controle da Embaixada, enquanto começavam a se deslocar grandes caravanas do interior do país para a capital.

Durante o primeiro dia se deram poucos enfrentamentos na Embaixada e parecia que o regime golpista estava discutindo o que fazer, até que subitamente se anuncia o toque de recolher desde as 4hs da tarde, a partir do qual começou a repressão em massa. Se instalaram em algumas horas cordões policiais para revistar a documentação e se deu tempo a que a população chegasse a suas casa em meio a um congestionamento que não terminou até a meia-noite. Carros militares se dirigiram ás estradas e acessos ã capital, e foram detidos os ônibus e caravanas da resistência que pretendiam chegar á embaixada do Brasil.

A resistência de milhares de pessoas manteve o controle da Embaixada ainda com toque de recolher durante todo o dia e a noite de 21/9. Durante todo o primeiro dia, a direção da Frente Nacional de Resistência teve como única política a de chamar as pessoas ã Embaixada para defender a permanência de Zelaya, e com isso pressionar os golpistas para que lhe restituísse a presidência. Mesmo assim, as organizações como a União Democrática, que desde o interior da Frente mantém suas candidaturas independentes, viam a chegada de Zelaya como a possibilidade aberta de chegar ás eleições sem golpe de Estado, pois durante todo o conflito não quiseram defender o boicote das eleições, a espera de que no último momento Zelaya voltasse e estas poderiam se realizar. Esta política pôs um enorme freio nas ações de auto-defesa contra o toque de recolher da resistência. Pois ante a possibilidade aberta de que o regime golpista caísse com a mobilização e a ação organizada do movimento de massas, se mantém como saída política de “negociação e não violência”, que “desarma” a resistência que se enfrenta heroicamente ao Exército com suas mãos e pedras. Recordemos que os chamados ã negociação e ao diálogo, como o Plano Arias e as negociações respaldadas pelos EUA só permitiram aos golpistas ganhar tempo para fortalecer seu regime.
Apenas 5 minutos após a brutal repressão na Embaixada, que deixou dezenas de pessoas desmaiadas na rua, Zelaya estava chamando Micheletti a negociar.

La heróica defesa da população e a resistência contra a repressão e o toque de recolher

As 4 hs da manhã de 22/9 na Embaixada do Brasil se deu um brutal desalojamento da manifestação que passava por ali ã noite. O enorme contingente de mais de 30.000 pessoas resistiu durante quase duas horas, enquanto a polícia e militares os atacavam com bombas de gás, balas de borracha, com o objetivo de tomar o controle da sede diplomática. Dezenas de pessoas ficaram desmaiadas no chão, com os militares passando sobre elas.

Desde este momento, se seguiram lançando uma quantidade impressionante de bombas de gás pelas janelas da Embaixada para obrigar Zelaya a sair da mesma, tomando as casas ao redor e o controle da zona, mantido por policiais e militares especializados. Da sede se escutam gritos de socorro ã população para repelir o Exército, mas ao mesmo tempo Zelaya meia hora antes da repressão chamava o diálogo com os golpistas. Uma centena de pessoas que resistiram ã repressão até o final na porta da Embaixada, até o momento, se encontram dentro da mesma. A onda de denúncias pela Internet não para na Radio Progresso que transmite clandestinamente. Há denúncias de ao menos uma dezena de pessoas mortas, uma delas é o dirigente do Sindicato de Trabalhadores do Instituto Nacional Agrário.

Apesar da permanência do toque de recolher, saíram ás ruas de todas as partes do país milhares de pessoas, em uma franca rebelião contra esta medida e chamando ã resistência. Durante duas noites se deram duros enfrentamentos, instalando barricadas em muitas colônias. Se abriram centros de detenção clandestinos, onde há centenas de detidos, muitos arrancados de suas casas e hospitais. Não se permite a entrada de advogados nem de alimentos. Homens encapuzados estão “caçando” as pessoas nas avenidas e arredores da Embaixada com armas de fogo. O Hospital Escola recebeu cerca de 1000 feridos a bala, muitos deles com queimaduras de cigarro. Invadiram várias casas, principalmente nos bairros mais populares. Os militares entram diretamente, ou põem fumaça para obrigar as pessoas a saírem. Também se entrou no local do Comitê de Familiares de Desaparecidos de Honduras, COFADEH, pois este lugar permanecia com as portas abertas oferecendo refúgio ás pessoas. Na entrada dos militares foram destruídos o equipamento de rádio, e vários foram presos, entre eles a “avó da resistência”, uma mulher de mais de 80 anos que é uma emblemática figura da resistência hondurenha, por ter estado ã frente em todas as marchas há 88 dias, e que hoje foi

A auto-organização da resistência nos mostra o caminho para acabar com os golpistas

Ainda que a escalada repressiva tenha sido impressionante, também o foi a resposta do movimento de massas. Se mantém barricadas em distintos pontos da cidade, e no dia de ontem o repúdio ao toque de recolher nos mesmos próprios meios golpistas foi impressionante, estes foram inundados por milhares de mensagens rechaçando esta medida. Setores da população após ficar sem comida em suas casas, saquearam os centros comerciais ã noite, e se enfrentaram com o exército.

A disposição do movimento de massas, a radicalização da vanguarda, as barricadas, os desafios ao toque de recolher, a permanência da mobilização do magistério por quase 3 meses e a extensão nacional da resistência mesmo com a repressão, são os elementos que colocam a possibilidade de que os trabalhadores e o povo hondurenho se coloquem a queda dos golpistas pelos seus próprios métodos de luta, mediante uma greve geral insurrecional que acabe com o regime. É que a via de negociação buscada por Arias e a OEA, assim como os chamados a uma solução eleitoral, só permitiram o posicionamento dos golpistas e seu fortalecimento com setores da burguesia nacional. Apesar desta política, o movimento de massas decidiu ficar nas ruas.

Em 23/9 o governo de Micheletti teve que levantar o toque de recolher desde as 10hs da manhã até as 5hs da tarde para evitar que continuem os saques. Ao mesmo tempo a resistência convocou uma manifestação que saiu da Universidad de Pedagogía com umas 10.000 pessoas ás 10hs da manhã e foi duramente reprimida. A rota da marcha passou por vários bairros que são bastiões da resistência,e perto da Embaixada do Brasil, para moralizar e chamar a não se render, muita gente recebia os manifestantes com gritos e consignas, até que passando pelo centro de Tegucigalpa e a umas ruas da Embaixada do Brasil foram reprimidos, o grosso da manifestação correu para longe do exército, enquanto centenas de jovens lançavam pedras e tentavam repelir as bombas de fumaça e disparos de bala.

As forças armadas deram declaração dizendo que o Exército usará as armas e a força extrema. Ante isso é necessário que a resistência centralize as ações que hoje já leva adiante, as ações de defesa devem ser coordenadas, planificadas e estendidas em todo o país para frear a repressão com o menor número de mortos possível. A repressão dos golpistas exige a formação urgente de comitês de auto-defesa, na perspectiva de organizar milícias operárias, camponesas e populares.
O governo golpista encabeçado por Miceletti se encotra muito debilitado e desgastado, apesar de que ainda segue apoiando-se nas forças armadas e é respaldado pelo grosso da burguesia local e multinacionais imperialistas. A OEA, seguindo a política norte-americana, junto com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, tentarão mediar a crise para evitar a queda revolucionária do regime golpista. Zelaya já declarou que está disposto a isso, se colocando como aberto ao diálogo e ã saída “pacífica”. Para a resistência, a tarefa urgente é organizar a auto-defesa contra a repressão e uma greve geral insurrecional, que divida o Exército e destrua os pilares do regime golpista.

Os trabalhadores, camponeses, jovens e setores populares hondurenhos são os únicos que podem derrotar os golpistas e impor um governo provisório das organizações operárias e populares que vem lutando contra o golpe, que convoque a Assembléia Constituinte Revolucionária, onde se discutam os grandes problemas das massas operárias e populares, como a dominação imperialista, o problema da terra, dando um passo adiante no combate por um governo operário, camponês e popular, baseado em organismos de autodeterminação das massas.

É preciso uma forte campanha em defesa dos trabalhadores e do povo hondurenho

No dia 23/09 a LER-QI, junto ã Conlutas, das correntes do PSOL C-Sol e MES, além de setores do PT, se dirigiram ã embaixada hondurenha em São Paulo para prestar solidariedade ao povo hondurenho, e repúdio ã repressão sofrida pela resistência por parte do governo golpista. Neste momento crítico, em que os trabalhadores e o povo hondurenhos, dão mostras de imensa coragem desafiando os golpistas é fundamental que todas as organizações de esquerda, sindicais, estudantis, de mulheres, de direitos humanos, etc, se lancem numa forte campanha de solidariedade com a luta do povo hondurenho.

Um novo ato, chamando para o dia 2 de outubro ás 17hs no vão livre do MASP, está sendo discutido. Apesar de estar distante, já que a situação em Honduras exige respostas contundentes e ágeis, é preciso fazer com que este não seja mais um ato de crachás das entidades, mas que estejam presentes os trabalhadores e jovens cujas organizações convocantes influenciam. Só realizando ações importantes, é que poderemos cercar de solidariedade internacionalista ativa esta importante luta.

 

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