Kraft-Terrabusi é uma das maiores multinacionais do mundo do setor de alimentação. No Brasil detém o grupo integrado pela Lacta. Há mais de um mês a patronal da Kraft-Terrabusi argentina, com fábrica situada em Pacheco, demitiu160 trabalhadores numa clara tentativa de quebrar as bases de organização dos trabalhadores. Os trabalhadores, cansados da falta de resposta da burocracia sindical, começam a se organizar para enfrentar conseqüentemente os ataques, se mobilizando em suas comissões internas e com delegados de base. Desde então, a resposta dos trabalhadores não tardou. Iniciou-se um grande processo de mobilização que envolve a ampla maioria dos 2600 trabalhadores da fábrica. Esta luta se marca pela retomada de métodos combativos da classe trabalhadora, como cortes de ruas, acampamento em apoio e a ocupação da fábrica. Estes métodos aliados ã consciência dos trabalhadores de sua força quando unidos, fizeram com que nem a repressão, nem a chantagem patronal, que estes dias se negou a pagar a totalidade dos salários aos trabalhadores numa tentativa de quebrar a unidade da luta, conseguissem impor um retrocesso. Por tudo isso, esta é uma luta cujas lições devem ser tomadas pelos trabalhadores brasileiros, e deve ser apoiada por todos os que se colocam na defesa de nossa classe.
A mudança da realidade política a destacar das últimas semanas é a irrupção de uma greve operária na cena nacional. São 35 dias de conflito que já levam os 2600 trabalhadores de Kraft-Terrabusi, conseguiram uma repercussão como não se vê em décadas. Suas ações não puderam ser ocultadas nos grandes meios de comunicação. São centenas de pronunciamentos de organizações sindicais, de direitos humanos, autoridades universitárias, deputados e personalidades da arte e da cultura. Terrabusi começou a mostrar como fazer de uma luta operária uma causa nacional e este já é o primeiro triunfo da greve.
Os Kirchner apresentam seus atos de governo como gestos contra as corporações patronais e a direita. Mas deixa via livre aos “batalhões pesados” da classe empresária como a multinacional ianque Kraft - respaldada pela COPAL (Coordenação das Indústrias de Produtos Alimentícios) de Zorreguieta, ministro de Videla nos anos de chumbo -, para que arremetam contra a classe trabalhadora.
Do governador Scioli da província de Buenos Aires, a patronal ianque obteve a polícia que fustiga aos trabalhadores em greve. Do ministro Tomada (ministro do Trabalho, Emprego e Segurança Social da Argentina) logrou a vista grossa para violar as “conciliações obrigatórias” (determinação da justiça que obriga que patrão e trabalhadores retrocedam em suas medidas , voltando ás atividades normais, pelo prazo de 15 dias para “negociar sem conflitos”). É claro que o objetivo do governo é isolar e derrotar o desafio que lhes apresenta este importante exemplo de luta.
A magnitude se pode medir em como a considera seus inimigos de classe. “A União Industrial Argentina (UIA) foi cenário ontem de uma verdadeira sessão de catarse”, relata o diário ámbito Financiero, na que estiveram presentes “os conflitos trabalhistas ‘selvagens’, protagonizados por ex-delegados de empresas como Kraft/Terrabusi”.
O termo “selvagem” não é novo, tem sido utilizado sempre que a classe trabalhadora obtém genuínas expressões de luta, a quebra da disciplina da ditadura patronal na fábrica, o passo ã confraternização entre os distintos setores operários e quando se rompem os moldes em que querem mantê-los a burocracia sindical. O que lhes preocupa é o exemplo que se está mostrando para toda a classe trabalhadora desde uma das zonas com maior concentração industrial da grande Buenos Aires. Aí, onde domina o aparato peronista de burocratas sindicais, tem reaparecido o método da greve longa sustentada massivamente. Esteve precedida pela dos petroleiros de Santa Cruz que paralisaram a produção por 20 dias, e em ambos os casos, é um método que se impõe contra a dureza das multinacionais. A greve longa de Terrabusi já está deixando muitos ensinamentos. Os inevitáveis enfrentamentos diários contra os apertos da patronal e dos chefes. A defesa de suas medidas de luta votadas pela maioria, contra os piquetes de fura-greves, dirigidos pela patronal e alentados pela burocracia de [Rodolfo] Daer (Secretário Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação - STIA), uma necessidade que se impôs sempre em toda luta operárias séria. A combinação de paralisação da produção com o fechamento de rodovia da Panamericana (importante rodovia que liga o interior do estado a Buenos Aires) para ir além do território da fábrica e impactar sobre o conjunto da população. As experiências políticas que os trabalhadores fazem com o governo, a polícia e a justiça. A busca de recursos para sustentarem-se com o Fundo de Greve para bancar os despedidos, a Comissão de Mulheres que mobiliza a família operária. É uma experiência de milhares que adianta o caminho que amanhã seguirão milhões.
Ao calor desta grande ação operária, o conflito de Terrabusi aportou com um efetivo método de solidariedade posto em prática desde vários centros acadêmicos que estamos orgulhosos de haver proposto e impulsionado: o bloqueio do trânsito nas ruas da Capital e outras cidades que provocam um chamado de atenção pública e desafia o cerco dos meios de comunicação. Esta utilização da ação direta do movimento estudantil militante está mostrando, também, um grande exemplo na perspectiva de convergência com a causa da classe operária.
Hugo Moyano, dirigente da CGT, também se comoveu com a luta de Terrabusi. Na primeira grande greve da classe operária industrial sob os Kirchner, o chefe da CGT (Confederação Geral do Trabalho, maior sindicato da Argentina, como a CUT brasileira) tem mostrado o verdadeiro caráter da “corrente político sindical” que na semana passada convocou a construir desde um ato em Mar del Plata junto ã cúpula dos sindicatos afins e com presença e aval oficialista (dos Kirchner). O “projeto nacional e popular” como o chama Moyano, transformou-se em um aberto rol a favor dos capitalistas estrangeiros de Kraft e definiu como uma ação da “ultra-esquerda” que “politizam” as demandas a uma enorme demonstração do “poder do movimento operário”. Seu papel é o de auxiliar da patronal e do Ministério do Trabalho para quebrar a unidade entre os despedidos, a base da greve, e facilitar o objetivo de liquidar o Corpo de Delegados de seção, eleito por todos os turnos da fábrica, a genuína representação dos trabalhadores junto ã Comissão Interna.
O PTS chama a redobrar o apoio ativo a esta dura e exemplar luta que é seguida com atenção e com enorme simpatia em centenas de lugares de trabalho. Nela estão se formando novos dirigentes com estreitos laços com a base operária que estão começando uma experiência política pela qual atravessará o conjunto da classe trabalhadora. Nenhum triunfo está assegurado, mas o enfrentamento com os traidores do movimento operário e agentes da patronal é inevitável se o que se quer preparar é uma luta para vencer em uma crise que os capitalistas mostraram, como a multinacional Kraft, toda a vontade para derrotar-nos Neste combates se preparam as verdadeiras organizações e partidos para a luta de classes.
É indispensável lançar, como viemos defendendo desde estas páginas, uma corrente político sindical com todas as organizações sindicais anti-burocráticas, as comissões internas e corpos de delegados combativos, que lute por recuperar as organizações operárias das mãos da burocracia sindical e pela independência política dos trabalhadores, como propõe os trabalhadores de Zanon e do Sindicato Ceramista de Neuquén.
BOX: Por uma ampla campanha de solidariedade internacionalista com esta luta!
No dia 23/9 uma comitiva do Sindicato de Trabalhadores da USP, jundo com estudantes da PUC-SP, USP, Unesp e da Unicamp, foram até o Consulado Argetino em São Paulo manifestar seu repúdio ás demissões arbtirárias da Kraft argentina, e exigir que o governo faça como mínimo que as determinações previstas pelas leis argentinas, que favoreceram os trabalhadores, sejam cumpridas por esta patronal ianque, que aqui no Brasil também superexplora os trabalhadores.
Após termos exigido ser recebidos pelo cônsul, Claudionor Brandão – dirigente do Sintusp – e Felipe Campos – membro da executiva nacional da ANEL (Coordenadora de estudantes nacional) entregou a moção protocolada junto a várias, assinadas pea Conlutas, Apropuc-SP e diversos intelectuais.
Seguiremos com esta campanha de soidariedade internacionalista, pois a luta que está sendo levada adiante pelos operários e operárias da Kraft é um exemplo para nós de como os trabalhadores podem lutar de maneira decidida em defesa de seus direitos e contra a patronal imperialista.
Pela reincorporação imediata dos trabalhadores demitidos!
Viva a luta dos trabalhadores da Kraft!
Viva a unidade da classe trabalhadora mundial
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