O primeiro tema que me parece importante discutir é que os capitalistas celebraram de forma relativamente mesurada os 20 anos da caída do muro de Berlim. Fizeram alguns shows, foram alguns dos grandes referentes, sobretudo a direita mundial, mas não estavam muito contentes. E não o estavam porque estes 20 anos se dão em meio de uma crise capitalista de grande envergadura (...)
Mas quero me referir ao termo inicial do debate, a respeito do passado. A primeira referência que quero fazer é ã natureza daqueles Estados onde seus regimes caíram e se deu lugar ao processo de restauração capitalista. Eu creio que de todas as teorias que se tem desenvolvido com respeito ã interpretação e ã definição, primeiro da URSS e logo dos Estados onde, alguns produtos de revoluções desde baixo e outros produto da intervenção do Exército Vermelho, foi a burguesia expropriada; a definição de Trotsky que logo estende ã Quarta Internacional de “Estados operários degenerados e deformados” é a que mais passou ã prova da história. Creio que nenhuma das teorias alternativas na esquerda mundial, inclusive de raiz trotskista (digo, para separar das teses do stalinismo que diziam “isto é o socialismo”, “isto é o comunismo”): uma foi a de capitalismo de Estado, que sustentou um dirigente trotskista em sua origem, Tony Cliff, e que também sustentou alguns intelectuais aparentados com o maoísmo como Charles Bettelheim. O primeiro problema que tinha esta tese é que sustentava que a URSS expressava a forma mais acabada de uma dinâmica geral do capitalismo, ou seja, que se dava tanto no Leste como no Oeste um domínio por parte do Estado das funções de acumulação de capital. E então frente a 1989 não houve nenhuma mudança, ou seja, passou uma questão meramente de grau.
A segunda teoria mais desenvolvida foi a do coletivismo burocrático, que formulou pela primeira vez Bruno Rizzi, contra o que polemizou Trotsky discutindo que isto não podia descartar-se como hipótese histórica, ou seja, que o mundo podia evoluir para outro tipo de modo de produção opressivo, mas que ao final dos ’30o podia descartar-se como hipira vez Bruno Rizzi, contra o que polemizou Trotsky discutindo que isto na separar das teses do st definir isto era ainda avançado. A teoria do coletivismo burocrático opinava que havia surgido um novo modo de produção explorador, que tendia a ser uma dinâmico de todo o mundo, ou seja, que os administradores tendiam a ser os que dominavam e as relações de propriedade passavam a ser um elemento secundário, e que na URSS havia surgido uma nova classe explorada, cujas características de exploração eram muito mais perfeitas que a da burguesia no ocidente. Em vez de tomar a definição de Trotsky de casta parasitária, que tinha a enorme virtude de assinalar a instabilidade, que se essa casta não era derrubada por uma revolução política iria tratar de cristalizar seus privilégios nas relações burguesas de produção, que iria encabeçar ela mesma o processo restauracionista. Os teóricos da nova classe exploradora se viram com o seguinte problema: tiveram o problema de explicar por que uma nova classe exploradora quis transformar-se em uma velha classe exploradora. Então esta teorias, desde nosso ponto de vista, fracassaram contra o processo da restauração capitalista.
A definição de Trotsky, se a vê isola, se se deixa de tomar integralmente, leva para qualquer lado. Se se toma só a definição de Estado operário, e lhe tira o de burocraticamente deformado, isso é um embelecimento do stalinismo. E se por outro lado deixa de assinalar que a nacionalização foi uma conquista história da expropriação da burguesia, só se termina levantando programas democráticos nesses Estados (que se é pela superestrutura política eram piores que muitos Estados capitalistas). Ou seja, que se não havia que defender a nacionalização como uma conquista, então tínhamos que dizer que eram Estados similares aos que tinha o nazismo. Por isso a definição trotskista é uma definição integrada, que permitia levantar um programa para intervir na luta contra a burocracia, que era o programa da revolução política.
Foram derrotadas as tentativas de desafiar desde abaixo o movimento operário ã burocracia: em Berlim em 1953 (quando os operários levantaram “por um governo metalúrgico de toda a Alemanha” e foram os tanques soviéticos a esmagá-los), na Hungria em 1956 (quando se desenvolveram os conselhos operários contra a burocracia, assinalando que só havia que lhe dar legalidade aos partidos que defendiam a nacionalização dos meios de produção), na Polônia em 1956 e 1970, na Checoslováquia em 1968 (quando o processo foi esmagado pela entrada dos tanques soviéticos novamente). Essas tentativas desde abaixo foram esmagadas pela própria burocracia, que assim ajudou a desacreditar ao socialismo, e facilitou a política imperialista de cooptação da dissidência.
Agora, a definição sobre que eram os Estados não bastava para ter uma política correta frente a estes feitos. De fato no movimento trotskista houve duas grandes interpretações, a meu juízo equivocadas no central, ainda em companheiros que coincidiam em que esses eram Estados operários burocráticos degenerados e deformados. Uma tendência depositou historicamente a confiança na auto reforma da burocracia (...). E houve outra tendência que, ainda aderindo ã interpretação dos Estados operários burocraticamente deformados, transformou a política para esses estados em uma luta anti-totalitária. Lambert e Moreno levantavam um programa meramente democrático. No caso de Moreno sustentava que a revolução política tinha duas etapas: uma primeira, que chamavam de fevereiro, anti-totalitária, onde havia que marchar junto aos restauracionistas, quase sem diferenciar-se programaticamente e que no futuro se abriria a perspectiva de lutar pelo programa já diretamente socialista que levantássemos os trotskistas.
Por isso a LIT levantou em 1989 o programa de unificação da Alemanha sem defender seu caráter socialista, e em parte eu acredito que isso levou ã corrente morenista a espatifar-se, a implodir frente aos feitos de ‘89-‘91. Porque se o vemos desde o ponto de vista anti-totalitário, os regimes totalitários caíram. O problema é que não caíram pela esquerda, terminaram caindo pela direita. É como se nós não nos puséssemos contentes porque começa uma mobilização contra Moyano e toda a burocracia sindical, mas não a dirigimos desde a esquerda, é uma rebelião espontânea porque odeiam aos burocratas como os odeiam a grande maioria da classe operária, mas o canalizam setores da burguesia que dizem “como adiamos ã burocracia, temos que liquidar os sindicatos, agora relação individuaç burguês-patrão”, e nós dizemos “que bárbaro, que grande triunfo das massas, derrubamos ã burocracia”.
É uma discussão do passado, mas que se reporta a problemas do presente, para ver como os revolucionários nos situamos frente ã defesa de cada conquista. Porque não é isso que nós queremos fazer. Nós queremos uma coisa completamente distinta ao que era o regime de domínio da burocracia. (...) Então o estado de transição pelo que nós lutamos é um estado infinitamente mais democrático que qualquer dos fenômenos que tenham existido. Nosso antecedente é a democracia dos conselhos que surgiu na Rússia em 1917. E esse é um ponto programático que não sai do nada. Nas lutas que temos hoje pela coordenação do movimento operário, pela pluralidade de todas as tendências, por enfrentar ã burocracia, pela democracia operária no seio de todas as organizações dos trabalhadores, pela unidade de todos os setores da classe operária, e métodos democráticos de deliberação e decisão da base permanentemente; estamos preparando os conselhos de amanhã, estamos preparando-nos para enfrentar ás burocracias de amanhã. Quando nossos companheiros se opuseram a assinar em Kraft, contra o PCR que opinava que pese as assembléias havia que afirmar qualquer coisa; ou quando nos enfrentamos a quem dizem que ser dirigente é decidir sem consultar ã base e assinar ad referendum, é a preparação para que no Estado dos trabalhadores de amanhã tenhamos maiores anticorpos para enfrentar qualquer tendência ã burocratização, que todo estado operário terá que enfrentar (salvo que se dê em algum dos países capitalistas centrais, onde o poderão enfrentar em melhores condições que em Estados atrasados).
Porque os partidos revolucionários não surgem do nada. Os Godoy’s não saem do nada. Os companheiros como Hermosilla não saem do nada. Os companheiros como Dellecarbonara não saem do nada. A nova vanguarda operária que desafia ã burocracia se prepara estratégica e programaticamente. Sem um programa e uma estratégia pelos quais lutar a gente se burocratiza, a gente não luta até o final, não vê ã classe operária de conjunto. As tendências da realidade são ao corporativismo, não a olhar ã classe operária de conjunto, não a enfocar-se a levar a luta do terreno corporativo ao terreno da luta contra o governo, contra o Estado, ao internacionalismo e a ver a classe de conjunto. Então ter claras as lições do passado é o melhor que podemos fazer para projetar o programa pelo que queremos lutar. E esse programa, que é o da perspectiva da revolução socialista nacional e internacional, esse programa é retomar a herança da terceira e da quarta internacional, esse programa é defendermos a luta por um regime de transição, baseado nos soviets. E esse programa coloca a necessidade de construir a ferramenta revolucionária para varrer ã burguesia novamente e empreender o caminho novamente da construção do socialismo.Porque los partidos revolucionarios no surgen de la nada. Los Godoy no salen de la nada. Los compañeros como Hermosilla no salen de la nada. Los compañeros como Dellecarbonara no salen de la nada. La nueva vanguardia obrera que desafía a la burocracia se prepara estratégica y programáticamente. Sin un programa y una estrategia por los cuales luchar la gente se burocratiza, la gente no lucha hasta el final, no ve a la clase obrera de conjunto. Las tendencias de la realidad son al corporativismo, no a mirar a la clase obrera de conjunto, no a plantearse llevar la lucha del terreno corporativo al terreno de la lucha contra el gobierno, contra el Estado, al internacionalismo y a ver la clase de conjunto. Entonces tener claras las lecciones del pasado es lo mejor que podemos hacer para plantearnos el programa por el que queremos luchar. Y ese programa, que es el de la perspectiva de la revolución socialista nacional e internacional, ese programa es retomar la herencia de la tercera y la cuarta internacional, ese programa es plantearnos la lucha por un régimen de transición, basado en los soviets. Y ese programa plantea la necesidad de construir la herramienta revolucionaria para barrer a la burguesía nuevamente y emprender el camino nuevamente de la construcción de socialismo.
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