Por Eric Hurtado e Mario Caballero, correspondentes em Coahuila
A morte de 65 mineiros em Coahuila, região norte trouxe ã tona as condições extremas em que este setor do proletariado trabalha. Nesta zona carbonífera, a morte de mineiros é tida como rotineira. Trata-se de um trabalho de alta periculosidade, em detrimento das terríveis condições de trabalho mantidas pela patronal, que de forma voraz semiescraviza seus trabalhadores. Dois dias antes da tragédia, no dia 19 de fevereiro faleceu um trabalhador, e desde então morreram outros três no mesmo país. Nas últimas semanas, morreram dois mineiros em Chiapas. O que é inevitável, já que os patrões violam sistematicamente as normas mínimas de segurança e higiene para aumentar suas ganâncias. Sequer disponibilizam equipamento adequado aos seus trabalhadores, tal como ocorreu com um dos 13 mineiros que conseguiu escapar da morte. Em muitos casos trabalham com sandálias dentro da mina. Nos dias anteriores, alguns trabalhadores denunciaram as altas concentrações de gás e as condições deploráveis de trabalho. A resposta levou um tom de ameaça: “Precisa de dinheiro? Então volte ao trabalho”.
Os salários raquíticos são comuns na região, já que equivalem aos salários de trabalhadores de construção, não de mineiros (sem as prestações que o grêmio recebe). Ante a esta situação, o governo - tanto federal como estatal-, atua como protetor e cúmplice dos patrões e, ao invés de realizar inspeções em nível de trabalho, deixa o cumprimento das medidas de segurança sob a tutela empresarial do Grupo México. É neste patamar que se expressa o critério desta patronal ladra e assassina. Trata-se da cumplicidade foxista do “governo dos empresários, pelos empresários e para os empresários”.
A paralisação geral de 2 de março
Após o fatal incidente da mina 8 em Pasta de Conchos, o sindicato mineiro (que aglutina também a metalúrgicos) impulsionou uma paralisação nacional. Napoleón Gómez Urrutia, líder charro imposto como secretário geral por herança paterna, entrou em conflito com a empresa IMMSA pela responsabilidade quanto ã morte dos trabalhadores. No momento, o governo teria o destituído através de uma artimanha jurídica, para substituí-lo por Elías Morales, abertamente pró-patronal (um burocrata afastado), provocando como resposta a paralisação de 2 de março, acatada por quase 270 mil trabalhadores do ramo.
Por outro lado, a base trabalhadora expressava insatisfação em relação a suas condições de trabalho e indignação com o incidente de Pasta de Conchos. A burocracia, porém, se prestou a levantar a paralisação logo no dia seguinte, ante ao temor de que os trabalhadores tomassem-na em suas mãos. Não obstante, as greves em Zacatecas e San Luis Potosí se estenderam por mais uma semana e meia, redundando num aumento de 10% para os trabalhadores, tal como na revisão das condições de trabalho. É indiscutível a expressão da potencialidade dos trabalhadores do setor, que, com seus métodos de luta como a greve e a paralisação, podem enfrentar e driblar a patronal. Esta é a única via de impormos aos empresários mineiros, melhores condições trabalhistas, salariais e de segurança na mina.
Há mais de um mês, permanece a insatisfação
Ainda que vários parentes dos mineiros presos na mina tenham recebido suas indenizações, permanecem no acampamento instalado na mina, ã espera dos corpos de seus entes queridos. Como se não bastasse todas as mentiras contadas pela empresa com relação ao resgate, estes ainda fazem questão de amedrontá-los e ameaçá-los. Aproveitam-se de que muitas destas famílias ainda dependem do trabalho mineiro, assim como seus amigos e parentes.
A vontade de permanecer na luta pelo resgate dos mineiros se resguarda na certeza de que o resgate e a determinação das causas da explosão redundarão na punição dos responsáveis. Os patrões, seus aliados no governo e a própria cúpula sindical charra, não tem o menor interesse em melhorar as condições de trabalho dos mineiros. Os familiares começaram a pensar em ações mais contundentes, como a paralisação na região acompanhada de bloqueios de percurso, que detenham a produção e o transporte do carvão extraído. “É aí onde mais vai doer e terão que nos escutar”, diziam antes mesmo da consolidação do isolamento, imposto pelo governo estatal, bem como a empresa, com base em intimidações.
Lutar pela punição aos culpados e pela expropriação da mina
Enquanto LTS, impulsionamos o mais amplo apoio aos mineiros e ás famílias dos trabalhadores soterrados em Pasta de Conchos, com a arrecadação de provisões e solidariedade nacional e internacional (ver o box). Ao mesmo tempo, nos dispomos a lutar pela punição dos responsáveis por esta tragédia, tanto do ponto de vista político, como material, mediante a uma comissão investigadora independente controlada pelos trabalhadores e familiares. Pensamos que para garantir a segurança e os salários dos trabalhadores, é necessária a expropriação da mina, sem indenização, sob o controle dos trabalhadores (nos moldes da conhecida “Fábrica sem patrões” de Zanón na Argentina).
Por outro lado, ante a ofensiva governamental contra o sindicato, e em sua defesa, não concedemos nenhum respaldo político a Napoleón Gómez Urrutia, responsável pelos contratos coletivos de trabalho sob os quais os mineiros são submetidos, bem como a antidemocracia sindical. Os trabalhadores, por sua vez, devem ter a liberdade de exigir contas a seus dirigentes e depô-los mediante assembléias democraticamente realizadas. De igual forma, os trabalhadores não devem permanecer sob tais contratos coletivos improcedentes, firmados entre a direção sindical e as empresas; os contratos devem ser discutidos e votados pela base em assembléias gerais.
O elemento motriz deste programa e destas demandas, não pode ser outro que não uma paralisação nacional do setor mineiro, em conjunto com uma coordenação dos operários mineiros que fomente um verdadeiro plano de luta e elabore um rol de demandas unificado. Os sindicatos como a UNT e o SME, que declararam oposição ao governo, deveriam convocar a uma grande paralisação nacional em solidariedade, para concentrar forças contra o ataque patronal e o governo, disponibilizando inclusive seus recursos materiais a serviço dos mineiros, suas famílias e sua luta.
Por uma grande campanha internacional de apoio e solidariedade
A LTS impulsionou, junto a organizações sindicais como o Sindicato da Universidade Autônoma Metropolitana, a Hoja Obrera, a Alianza de Trabajadores de la Salud, bem como diversos coletivos e agrupamentos como Votan Zapata, El Caracol e El Cubo de Prepa 6, e Angulo Agudo da UAM, organizações como “Barricada” de Ecatepec e “Rompiendo Cadenas”, docentes, estudantes e companheiros independentes, una campanha de solidariedade nacional e internacional de arrecadação de provisões para as famílias. Igualmente, realizamos conferências e atividades na cidade do México.
Os companheiros Erik Hurtado e Mario Caballero passaram uma semana em Pasta de Conchos, Coahuila, solidarizando-se e colaborando com as atividades dos parentes. A LTS elaborou um suplemento de emergência dedicado a esta tragédia, difundido em fábricas, clínicas e universidades. O importante apoio do Sindicato de Trabalhadores de La Jornada conseguiu a publicação de uma nota no jornal com a solidariedade de numerosas organizações e companheiros do México (assim como o SME, a Promotoria Nacional contra o Neoliberalismo ou a Seção 22 da CNTE), e solidariedade internacional - captada pelas organizações da FT- provenientes da Bolívia (onde compromete-se a FSTMB - Federação Sindical de Trabalhadores Mineiros, a Central Operária Boliviana e Sindicato de Trabalhadores de Serviços Aeroportuários Bolivianos - El Alto); na Argentina (a APDH, o Sindicato Ceramista de Neuquén, a Asociação Gremial Docente da UBA, entre outros); Chile (a Central Unitária de Trabalhadores, a Federação de Trabalhadores do Cobre e o Sindicato Caletones - El Teniente); na Espanha e nos E.U.A. (contemplado pela assinatura do jornalista de esquerda Tariq Ali e centenas de ativistas políticos e sindicais). Erigimos o Comitê de Solidaridad com os Mineiros de Pasta de Conchos, no qual também participam os mineiros aposentados de Real del Monte, que estão organizando una conferência de imprensa e diversos atos para a última semana de abril, com a participação dos familiares de Coahuila, os mineiros em luta de Lázaro Cárdenas e de Real del Monte.
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