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Os trabalhadores e as próximas eleições presidenciais
04 May 2006 |

Por: Angel Arias

Como afirmamos no artigo central sobre a Venezuela nestas mesmas páginas, o clima da política nacional começa a se dar a partir das próximas eleições presidenciais do dia 4 de dezembro, no qual desde o governo já se lançou a campanha “pelos 10 milhões de votos” para a reeleição de Chávez, quando ainda não se sabe ao certo se a oposição de direita apresentará seu próprio candidato ainda que comecem a se postular algumas possíveis figuras políticas. Frente a isto, as pequenas correntes que se reivindicam do trotskismo em nosso país têm se posicionado apoiando a campanha pela reeleição de Chávez. Discutimos aqui centralmente com a posição política que tomaram diversos membros do PRS publicamente aglutinados em sua maioria na Opção de Esquerda Revolucionária (OIR) [1] na recém criada corrente sindical C-CURA [2], identificando desde já, pelo peso político de suas figuras públicas, o compromisso do PRS no voto no Chávez, quando a discussão interna ainda está se iniciando e não se tomou oficialmente uma decisão definitiva.

Os trabalhadores venezuelanos vêm atravessando uma importante dinâmica, expressada em lutas antiburocráticas, deslocando velhas direções pró-patronais, impulsionando novos sindicatos, e dando muitas lutas por reivindicações salariais, pela defesa de sua fonte de trabalho, chegando em vários casos a ocupar as fábricas fechadas pelos patrões, exigindo sua expropriação e se propondo a colocá-las para produzir. De fato vimos como nos últimos meses são muitos os casos nos quais por qualquer conflito, os trabalhadores se propõem como resolução imediata em tomar a empresa. O surgimento de novas correntes sindicais como a C-CURA nas fileiras da UNT é expressão deste processo de reorganização dos trabalhadores se opondo a seus setores mais burocráticos e de direita.

É que já se contam sete anos de governo e de duras confrontações, e não é um segredo para os trabalhadores que, as políticas sociais do governo não resolvem seus problemas mais elementares, como o salário, o emprego, a moradia e a terra, mas percebem que toda esta situação é culpa da “burocracia” que rodeia Chávez e o “impede” de governar. Este sentimento inclusive é alimentado por correntes como a CMR (El Militante) que é fiel defensora da “revolução bolivariana” e do próprio Chávez. Sabemos que sim, há uma burocracia inoperante e corrupta, e um enriquecimento dos setores da burocracia chavista, bastante normal em qualquer Estado burguês, mas também sabemos que o caráter burguês do projeto do governo é o que marca seus limites, e impede de dar respostas ás necessidades mais candentes do povo trabalhador.

Os planos sociais via as Missões decerto se executam, mas o problema é que não dão resposta ás questões mais candentes das massas trabalhadoras. Sabemos que o problema é que Chávez se propõe a desenvolver o país na mão da burguesia nacional e na intervenção estatal, via o rendimento petroleiro, se aliando inclusive com as grandes empresas multinacionais, como faz no setor petroleiro e do gás. Por isso após longos sete anos de governo suas políticas não conseguem diminuir os sofrimentos e as misérias dos trabalhadores, dos camponeses e dos pobres urbanos, enquanto se garantem os negócios e lucros dos grandes setores econômicos do país e das transacionais do petróleo, gás, bancários e das telecomunicações.

A confiança dos trabalhadores e das grandes massas populares em Chávez sem dúvida é grande. Mas esta confiança é a principal trava que têm hoje os trabalhadores para avançar em sua organização e mobilização independente, sem se atar ao projeto burguês de governo, sem se deixar por enganar por um “antiimperialismo” e “socialismo do século XXI”, que só funcionam como retórica e como engano. Como fica claro, nada se pode questionar aos trabalhadores, que deram tudo de si na batalha contra a classe capitalista venezuelana e o imperialismo, mesmo que não tenham sido capazes ainda de articular um projeto político próprio, com suas demandas e exigências de classe bem claras e delimitadas das do governo. De maneira que foi Chávez quem “administrou” cada vitória das massas, para conciliar e deixar tudo sem maiores mudanças. A responsabilidade disto recai claramente nas direções políticas que têm ã frente os trabalhadores, que levam todas suas lutas sempre depois da figura de Chávez.

Por isso dizemos que a política que se deve ter frente ã Chávez deve ter como ponto de partida uma delimitação de classe, uma posição política de princípios, operária e socialista. O papel dos marxistas é explicar pacientemente, mas com clareza e contundência, a falsidade de que projeto de Chávez resolverá os problemas das massas trabalhadoras, demonstrar que são opostos aos interesses que representa o projeto do Chávez em seu impulso ã burguesia nacional e suas negociações com os capitais imperialistas, e os interesses dos trabalhadores. É necessário impulsionar a desconfiança em Chávez e fortalecer a idéia de que os trabalhadores devem confiar unicamente em suas próprias forças e métodos de luta, em aliança com os demais sectores explorados.

O debate sobre a política eleitoral

Como afirmamos no princípio, diversos membros públicos do PRS apoiaram nos últimos encontros sindicais a moção de chamar o voto em Chávez, quando a discussão interna está em se iniciando, mas sem existir ainda alguma resolução nesse sentido no seio do partido recém criado. Inclusive no jornal oficial defende-se esta política, comprometendo desde já o conjunto do PRS no apoio a Chávez.

Nas resoluções do último Encontro da Corrente Clasista dentro da UNT chama-se abertamente o apoio a Chávez sustentando que: “ratificamos nossa vontade política de acompanhar na batalha contra os inimigos internos e externos da revolução ao cidadão presidente Hugo Chávez Frias, pelo qual respaldamos seu nome como candidato presidencial... por encarnar o sentimento de luta e a esperança de um povo para mudar o modelo capitalista, apesar de não ser um candidato oriundo das fileiras dos trabalhadores e do movimento sindical”.

Este posicionamento é ratificado no jornal oficial do PRS, onde, em discussão com correntes do chavismo que não estão de acordo em fazer as eleições da UNT neste ano, e usam como desculpa as eleições presidenciais, o Opção Socialista diz: “...a legitimação da direção da UNT...dará mais credibilidade e autoridade aos dirigentes da central para convidar seus filiados e ao conjunto dos trabalhadores a votar pelo presidente Chávez” [3]. Assim o chamado a votar em Chávez nas próximas eleições, que encarna um projeto nacionalista burguês (como bem se define na revista política do PRS) alheio aos interesses dos trabalhadores, se opõe pelo vértice a todas as outras resoluções que se tomaram no Encontro sindical que permanentemente propõe a independência da UNT e de seus dirigentes, do Estado e do governo. Desta maneira, ao chamar o voto em Chávez, estas afirmações de "independência" caem no vazio.

Ao invés de explicar pacientemente porque é necessária uma política independente dos trabalhadores, os dirigentes da maioria do PRS cedem aos setores das outras correntes sindicais que vieram propondo que no lugar de gastar forças em organizar as eleições da UNT tinha que pôr essas energias a serviço da campanha eleitoral de Chávez. Cedendo a isto, desgraçadamente, toda luta operária, toda mobilização dos trabalhadores, todo surgimento de correntes sindicais, é condicionado e unido ã reeleição do presidente Chávez, impedindo desta maneira qualquer avanço no caráter independente das lutas em curso dos trabalhadores.

Desde a Juventude de Esquerda Revolucionária (JIR) nos opomos abertamente a esta política, pois nos fatos leva ao conjunto dos trabalhadores ao beco sem saída do projeto nacionalista burguês de Chávez. Sustentamos que a tarefa do momento é desmascarar aos olhos dos trabalhadores o conteúdo real da política de Chávez, explicando como segue defendendo os interesses e negócios dos capitalistas venezuelanos, inclusive parte dos interesses dos latifundiários e dos capitais imperialistas, e como isso é a causa central de que se continue a exploração e a pobreza das grandes maiorias trabalhadoras do país.

Os diversos companheiros do PRS que tornaram público seu apoio a Chávez afirmam ser contra o governo, mas como a imensa maioria dos trabalhadores e o povo confiam no Presidente há que chamar o vota, tudo sob considerações “tácticas”. Bem temos de explicar frente aos trabalhadores, e assim o demonstrarmos nas fábricas e nas ruas, que se pode estar na primeira linha de batalha contra a reação pró-imperialista sem que isso nos leve a apoiar o governo de Chávez, que é precisamente quem negocia com estes sectores.

A confiança das massas não pode ser uma desculpa para não brigar pela estratégia de lutar pela independência de classe, em qualquer terreno, incluído o eleitoral. Chamar o voto em Chávez, por mais “condicionado” que o voto seja, é seguir semeando esperanças neste e é se negar a ser franco com os trabalhadores e a levantar uma política independente de classe. O grande pretexto é que “as massas não compreenderiam uma política mais avançada”. O que se desprende claramente é que se negam a levantar uma alternativa operária (uma “política mais avançada”) para fazer frente ao programa de colaboração de classes de Chávez. Mas é justamente essa a desgraça do processo político no país: a ausência de uma alternativa de classe frente ao governo, a falta de uma oposição operária e socialista que dispute a direção da classe trabalhadora a Chávez.

Consideramos contrariamente a toda esta política, que é necessário levantar uma candidatura operária independente, para aproveitar o cenário eleitoral e explicar tudo o que viemos dizendo, para colocar frente aos trabalhadores um programa verdadeiramente revolucionário, que responda ás demandas da classe operária, camponeses pobres e os setores populares, única forma de enfrentar conseqüentemente e derrotar a reação e o imperialismo. O outro é fazer um cômodo seguidismo ao chavismo, e é justamente em momentos como os atuais em nosso país, onde os revolucionários devemos combater as ilusões dos trabalhadores no Chávez. Não fazer isto é se negar a combater as direções reformistas que enganam os trabalhadores. Sabemos que atualmente há algumas travas legais para poder apresentar uma candidatura operária, mas há tempo para as vencer e apresentar uma alternativa operária e socialista nas próximas eleições, mas no caso de não superar estas barreiras nossa política deveria ser, partindo da rejeição e de uma denúncia furibunda dos partidos da oposição pró-imperialista, pelo não voto no Chávez desde uma posição de classe e revolucionária, propondo o voto em branco ou nulo.

Poderá se argumentar que isto nos condenaria ã “marginalidade”. Mas, quais são os critérios para definir com respeito a quem estaremos ou não nessa suposta “marginalidade”? Este seria um argumento sem fundamento. É possível desde o processo de reorganização que se está se desenvolvendo nas fileiras importantes dos trabalhadores, e onde dirigentes sindicais do PRS têm uma influência considerável, realizar uma intervenção e um diálogo político desde uma posição de classe, propondo a necessidade de confiar só nas próprias forças dos trabalhadores, multiplicar a organização dos trabalhadores e nos prepararmos para a luta pelas grandes demandas fundamentais dos trabalhadores, dos camponeses e do povo pobre, sem depositar a menor confiança no governo de Chávez e propondo a necessidade da luta por um partido independente dos trabalhadores. É possível dar passos para o reagrupamento revolucionário da vanguarda a condição de combater a partir de uma política de classe, enfrentando politicamente de maneira conseqüente a Chávez. Na realidade, é a única forma de forjar uma alternativa operária revolucionária.

Esta é a única maneira de avançar para o necessário desenvolvimento de uma alternativa operária revolucionária em nosso país. É aí que se encerram as bases de uma política marxista, intervindo no seio do movimento operário desde uma clara delimitação de classe, demonstrando como a independência política (e não só organizativa) frente ã burguesia e qualquer projeto de colaboração de classes é a primeira condição indispensável para defender conseqüentemente os interesses imediatos e históricos da classe operária, dos camponeses pobres e demais setores explorados. É desta maneira como poderemos contribuir além de preparar os trabalhadores para os combates que virão, onde será necessária não só a firmeza contra os patrões, mas também a desconfiança em Chávez para não ceder frente a seus cantos da sereia. Fazer o contrário é fazer-lhe um favor à luta pela qual a classe operária conquiste sua independência programática e política, condição indispensável para que encabece a luta das maiorias populares contra o imperialismo e o capitalismo.

* Angel Arias é dirigente da Juventude de Esquerda Revolucionária e membro do Comitê Nacional do Impulsor do PRS.

[1] Muitos dos membros da OIR são unidos ao MST-O Socialista (UIT) e mantêm relações com o MST- Alternativa da Argentina.

[2] Corrente Classista, Unitária, Revolucionária e Autônoma (C-CURA). A maioria dos dirigentes sindicais são membros ou unidos ao PRS.

[3] OS N° 5, Pág. 4.

 

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