1. Aproximadamente ás 3:30 hs da madrugada do dia de ontem, produziu-se um dos mayores desastres naturais da história do país e o quinto na história mundial, somente comparável no Chile ao terremoto de Valdivia de 1960. Este desastre, com um terremoto de quase 9 graus na zona centro-sul da V ã IX Região, tsunamis e inumeráveis réplicas posteriores, levaram ao governo a decretar esses setores como “zonas de catástrofe”, e tem mobilizado a todos os efetivos governamentais começando a avaliar um plano de “reconstrução nacional” porque tras a catástrofe natural, emerge a crise social na que se encontram milhões de famílias trabalhadoras e pobres.
2.- Segundo palavras do ministro do Interior, o democrata-cristão (DC) Raimundo Pérez Yoma, a situação que está se vivendo em grande parte do país é um “cataclisma com proporções históricas”. Ja são mais de 300 mortos como cifra oficial e mais de uma centena de desaparecidos e nas próximas horas serão contabilizados muitos mais. É que a situação é verdadeiramente catastrófica para os setores operários e populares como mostra o número de “1,5 milhões de moradías com algúm nível de dano e 500 mil com danos severos”. Fala-se de cerca de 2 milhões de famílias do povo trabalhador danificadas”.
3.- Centena de milhares de casas, prédios e apartamentos se derrubaram, e outros tantos milhares nos bairros mais pobres pobres encontram-se com riscos estruturais e em situação de derrubamento. A situação em hospitais não é menor: o hospital de Maule encontra-se em uma crise estrutural pelo desastre. O hospital regional de Araucanía foi despejado frente ao perigo de derrubamento. A situação é parecida nos hospitais públicos de Concepción, Tomé e nas provincias do centro-sul do país. Em Lampa 3 industrias de plásticos pegaram fogo formando uma nuvem química que levou a municipalidade de Lampa a tentar evacuar o bairro, e que está se expandindo a outros bairros como Quilicura. O metrô de Santiago esteve fechado. Muitas lojas comerciais também. O fornecimento de elétrico e de água potável, enquanto foi reestabelecido em umas horas para a classe patronal, ainda não chega a numerosos bairros operários e populares que continúam desabastecidos destes serviços.
4.- Se bem toda a imprensa nacional e mundial tem seus olhos em cima do terremoto e as calamidades socialis que ele provocou, mostrando as palavras de ajuda do imperialismo norteamericano e uma série de países da Europa e da América Latina e a mobilização do governo, silencíam com total cumplicidade com as classes patronais e seus políticos, que as conseqüências sociais que estão asolando caóticamente aos trabalhadores e ao povo pobre, não são em nenhuma medida questões “naturais”, mas o subproduto dos múltiplos negócios urbanos e habitacionais da classe capitalista com os partidos patronais do governo concertacinista e a oposição direitista que iniciaram desde a ditadura e tem se aprofundado nos 20 anos da transição pactuada.
5.- Grande parte dos prédios derrubados havíam sido entregues no ano passado ou nestes anos anteriores. O mesmo ocorre em bairros populares de Santiago e ao sul do país. Durante a ditadura e os 20 anos de democracia para ricos, o desenvolvimento habitacional foi ás custas do financiamento do Estado aos empresários. Destinaram grande parte do orçamento do Ministério de Obras Públicas ao financiamento das grandes empresas construtoras e imobiliárias a través de inumeráveis subsídios. Com a carestia de moradía dos trabalhadores e do povo pobre fizeram milhonárias ganâncias ás custas de programas de moradía com as moradías PET a trabalhadores, ou o fraude das casas “Copeva”. A isto somam-se franquicias tributárias que permitem a evasão do imposto via construção de “moradias sociais” – verdadeiros fraudes de uso e habitação – além das rebaixas de impostos ás grandes empresas. Estes conglomerados capitalistas aproveitaram também junto ao negócio com os bancos privados – em cumplicidade com o Banco Central – os empréstimos creditícios, as hipotecas e ouros instrumentos de sobreendividamento das masas trabalhadoras para ter moradías para residir, e pagando taxas de juros totalmente usurárias para moradias em mal estado, como demonstra a luta ano tras ano dos devedores habitacionais endividados com os bancos e empresas construtoras e imobiliárias. É já conhecida a situação das moradias principalmente na zona centro-sul frento os meses de inverno da chuva, onde ano tras ano os governos de turno devem destinar complexos esportivos e outros imóveis como “moradia temporária” de milhares de casas com infiltrações e inundações. Este verdadeiro negócio habitacional não é uma causa natural, é o usufruto dos capitalistas sobre as massas trabalhadoras garantido pela Constituição pinochetista e pelo direito patronal de aproveitamento do terreno, o direito de “uso e habitação”. Inclusive, enquanto fizeram milhonários negócios, as construtoras não duvidaram em despedir centenas de milhares de trabalhadores da construção desde o início da crise mundial.
6.- Desde Clase contra Clase cremos que a situação catastrófica que estão vivendo as massas trabalhadoras e do povo pobre, só poderá ser resolvida integramente pelos próprios trabalhadores. A Concertação que mostra-se agora preocupada por estas calamidades sociais foi a cúmplice destes negociados que permitiram estas conseqüências. A direita foi a inventora direta destes planos na ditadura. O discurso de Piñera de enfrentar esta calamidade “com unidade nacional”, tenta esconder esta questão que está por trás das graves conseqüências sociais. Além disto, o porta-voz da direita, El Mercurio e Piñera sairam a denunciar situações de “pilhagem e delinqüência” em setores onde ocorreram saques e chamam a “reestabelecer a ordem pública”. Os trabalhadores devem denunciar esta manobra da direita, além de denunciar o seu papel junto ã Concertação como responsáveis da calamidade social que estão vivendo centenas de milhares de trabalhadores e do povo pobre.
A prefeita UDI de Concepción, capital da Região de Bio Bio, uma das zonas mais afetadas, adverte que ocorrerão saques, e reclama maior presença policial e inclusive do Exército. Frente ã fome e o desespero, muitos se viram empurrados a ingressar a supermercados para se abastecer. Não é repressão o que se necessita: em vez de pedir mais polícia e exército, a obrigação era prover as dramáticas necessidades sociais.
7. A CUT deveria encabeçar esta luta, brigando por um plano de reconstrução gestionado diretamente pelos trabalhadores e financiado pelo Estado e por impostos progressivos ás grandes empresas que se beneficiaram deste negócio ás custas da miséria dos trabalhadores. Além disso, este plano de reconstrução deve estar unido ã gestão operária e popular do racionamento de toda a ajuda e comida ás familias danificadas assim como de hospitais e serviços. Para isso é necessário um Encontro encabeçado pela CUT e organizações operárias, onde sindicatos, organizações do povo pobre, do movimento estudantil e da esquerda discutamos este plano, e que esta tarefa seja levada a cabo por Comitês operários e populares.
Clase contra Clase
28 / 02 / 2010
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