O presidente de Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, fugiu da capital do país depois das duas jornadas de mobilizações populares e violentos enfrentamentos com as forças policiais, que deixaram dezenas de mortos (a imprensa já informa que seriam mais de 100). O levantamento anti-governamental começou dia 6 de abril na cidade de Talas, ao norte do país, quando uma manifestação ocupou a sede do governo local exigindo a renúncia do governo. O processo continuou no dia seguinte, 7 de abril, na capital, Bishkek, onde se registraram batalhas campais entre milhares de manifestantes e a polícia e o exército que protegiam o palácio presidencial. Inclusive alguns meios de comunicação informaram que os manifestantes teriam se apropriado de armas e de alguns veículos militares. Finalmente as forças de segurança foram superadas pelos manifestantes que ocuparam o parlamento, os principais edifícios governamentais e o canal nacional de TV.
Diante da queda do governo, os partidos da oposição tem formado um governo provisiório, encabeçado por Roza Otumbayeva, ex-ministra de relações internacionais do presidente Bakiyev e parlamentar do Partido Social-Democrata do Quirguistão. Ainda que em suas primeiras declarações tenha falado que o poder está agora nas mãos do governo do povo, a principal preocupação (como assinala a rede EurasiaNet) é que o chamado governo da confiança nacional enfrenta imensos desafios para restaurar a ordem em todo o país, e apesar de ter imposto o toque de recolher, continuavam os roubos e mobilizações.
As políticas anti-populares de Bakiyev, a corrupção de seu governo, seu giro bonapartista e a colaboração com EUA e Rússia, foram alimentando um grande descontentamento que explodiu com o aumento das taxas de eletricidade (170%) e caleifação (400%). Alguns analistas sustentam que o ataque dirigido pela Rússia contra o governo de Bakiyev como aliado norte-americano, que recrudesceu nas últimas semanas, foi um elemento de peso que detonou a mobilização e que agora Rússia poderia se beneficiar com a queda do governo.
A crise política nesse país da Ásia Central, um dos mais pobres das ex-repúblicas soviéticas onde 75% da população é muçulmana, pode ter importantes consequências regionais, já que em seu território está localizada a base aérea norte-americana de Manas, nos arredores da capital, que cumpre um papel fundamental para o abastecimento das tropas dos EUA e da OTAN no Afeganistão.
Bakiyev tinha assumido o governo depois da chamada revolução das tulipas em Março de 2005, num processo similar ás chamadas revoluções coloridas que tinha acontecido na Ucrânia e Geórgia, contra governos aliados da Rússia que culminaram com a instalação de líderes pró-ocidentais, aliados dos EUA. Durante os primeiros anos se manteve a base militar norte-americana na troca de uma importante soma de dinheiro. Porém, em fevereiro de 2009, Bakiyev anunciou sua intenção de finalizar o aluguel da base, aparentemente depois de ter recebido ajuda financeira da Rússia. Meses depois, Bakiyev deu novamente um giro para os EUA, depois que o Pentágono ofereceu um aumento significativo do pagamento mensal (de 17 a 60 milhões de dólares, além de pagamentos em outros conceitos).
A enorme instabilidade política esta pondo em dúvida a continuidade operativa desta base e além disso disparou uma série de criticas ã politica de Obama de negociar e sustentar Bakiyev, enquanto enfrentava um profundo descontento popular. A crise de Quirguistão é a última mostra das profundas tensões que percorrem esta região que tem tomado importância estratégica para os interesses do imperialismo.
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