A decisão do Banco Popular da China de flexibilizar o sistema de tipo de câmbio foi recebida com otimismo pelos Estados Unidos, União Européia (UE), e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na segunda 21/6, este anúncio provocou a maior subida do yuan em 21 meses, assim como fortes lucros nos mercados, entre eles Wall Street, em vésperas do começo da reunião da Reserva Federal dos EUA (FED – Banco Central) sobre a política monetária, estimulando as expectativas de crescimento e a confiança na recuperação econômica mundial. Entretanto, o entusiasmo inicial foi se temperando logo depois da caída do Yuan com relação ao dólar de 0,3% na terça-feira 22, depois de sua subida de 0,4% na segunda. O que podemos esperar desta decisão de Pequim?
O banco central chinês anunciou durante o fim de semana uma maior flexibilização do sistema de tipo de câmbio, o que foi aplaudido pelos EUA, pela UE e pelo FMI. O governo norteamericano, que vinha pressionando por uma alta do yuan, sobretudo depois do amplo superávit comercial chinês de maio [1], viu a medida como positiva, buscando evitar uma confrontação com a China. Isto, em momentos em que a Casa Branca tem numerosas frentes abertas no exterior, além de um cenário interno complicado frente ao desastre ambienta do Golfo do México e as dificuldades de aprovar novas medidas de relançamento econômico no marco de uma pálida recuperação da economia dos EUA. Entretanto, este primeiro anúncio foi matizado posteriormente pelo órgão responsável da política monetária chinesa, apontando que a anunciada flexibilização da divisa do gigante asiático será gradual e que o tipo cambiário “se manterá a um nível razoável e equilibrado”. “Na atualidade não existem motivos para permitir maiores flutuações ou mudanças no tipo cambiário do renminbi (yuan)”, afirmou o banco central em seu último comunicado de domingo 20/6.
Estes movimentos das autoridades chinesas poderiam estar já acordados ou refletir a pressão existente e não resoluta entre o banco central da China, que está por mais flexibilidade, questão ã que se opõe os Ministérios do Comércio, além dos governos de Guangdong e Jiangsu, que dão conta da maioria das exportações chinesas. Portanto, apesar de tanto alvoroço, não se mostra um grande giro de Pequim, nem uma medida que ajude a reequilibrar a economia chinesa nem mundial, como rapidamente saíram a dizer em coro alguns analistas. Levemos em conta que o superávit comercial que vem registrando a China (como porcentagem do PIB mundial) é, de longe, o mais alto registrado nos últimos 100 anos (aproximadamente 0,6-0,7% do PIB mundial). Isto é tanto mais surpreendente se se considera que os dois recordes anteriores se registraram em economias muito maiores: Estados Unidos a fins de 1920 (com um superávit comercial que equivalia aproximadamente a 0,4% do PIB mundial) e Japão a fins de 1980 (0,5% do PIB mundial). Os EUA representavam mais de 30% do PIB mundial a fins de 1920, e Japão representou 15% do PIB mundial a fins de 1980. Pelo contrário, a China representa 8% do PIB mundial na atualidade. Isto significa que inclusive se a China se decidisse a sair desta posição superavitária – questão que não é o caso -, teriam que fazê-lo pouco a pouco a risco de provocar um descalabro do comércio mundial. Efetivamente, em ausência de uma política cooperativa entre as grandes potências imperialistas e um país em ascensão, ainda que se mantenha dependente como a China, a solução (ou melhor dito, a falta de solução) deste brutal desequilíbrio existente na economia mundial poderia ser enormemente traumático.
Com este transfundo, a decisão de Pequim parece ser um delicado compromisso político com mira a desativar a crescente crítica internacional de seu tipo de câmbio, especialmente nos EUA, provavelmente encaminhada a evitar sua catalogação por parte do Congresso norteamericano como manipulador de divisa ao tempo que reflete a falta de apoio interno para uma moeda muito mais forte devido aos problemas em curso na Europa, que afetam negativamente o comércio entre esta e a China, o principal destino de suas exportações [2]. Neste marco, de aprofundamento da falta de saídas ã enorme sobreacumulação chinesa, é difícil que vejamos uma importante revalorização do yuan como deseja os EUA, o que a mediano prazo implica que as tensões a enfrentamentos comerciais na economia mundial não se dissipam enquanto seguirem crescendo os superávits comerciais chineses. Em outras palavras, ao fazer esse anúncio, a China se comprometeu a fazer...absolutamente nada. É por ora só uma medida simbólica, que pode ser usada eventualmente para controlar as tensões inflacionárias que assomam no país (a inflação aumentou em 3,1% em maio, superando os 3% fixados pelo governo) e que tem sido um dos motivos que deram vida ã recente onda de lutas operárias por aumentos de salários, processo que continua ainda depois do triunfo da greve na Honda.
Entretanto, a medida que deixa indefinida sua direção, duração e gravitação em relação com a moeda verde poderia também ser facilmente utilizada para justificar uma mudança da flutuação suja [3] de sua moeda contrariamente do dólar (que agora é relativamente forte e seguirá sendo assim enquanto a zona do euro está em um curso de austeridade) um maior peso ao euro em sua cesta [4], o que poderia levar a uma desvalorização frente ao dólar... sob o guarda-chuva dessa maior flexibilização, com objetivo de manter a competitividade de suas exportações ã UE. Uma ação, por conseqüência, que agravaria os desequilíbrios da economia mundial.
Chaves
– A China representa 8% de todo o PIB mundial. Tem 1,3 bilhões de habitantes.
– O yuan ou renminbi tem um câmbio fixo desde 2008. O câmbio atual é de 6,7 yuanes por cada dólar.
– O governo norteamericano sustenta que o yuan está “subvalorizado” e que a China “especula” com um yuan baixo para baratear suas exportações. Por esse motivo, os EUA e a UE vem insistindo em uma revalorização do yuan.
– 16,3% das exportações chinesas têm como destino a Europa, seguida pelos EUA com 13%.
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