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A luta sindical, a luta política e a luta eleitoral
por : Jonatan Ros

17 Aug 2010 | A tarefa dos revolucionários no movimento operário é impulsionar os fenômenos mais progressivos, potencialmente classistas e em perspectiva revolucionários, que vão se apresentando na luta de classes, como uma forma de colaborar na emergência de um movimento operário com independência política e de uma corrente revolucionária entre os (...)

Após a atuação do PTS – organização irmã da LER-QI na Argentina – no importante conflito da fábrica Kraft-Terrabusi, e de uma série de intervenções no movimento operário orientada no sentido de encarar cada luta como escola de guerra, e forjar alas revolucionárias entre os trabalhadores, agora acaba de se realizar o Encontro de Trabalhadores na zona norte de Buenos Aires, região de maior concentração fabril do país cidade. O encontro se realizou em 31/7 e contou com a presença de mais de 800 trabalhadores, com delegados sindicais de vários setores. A partir destas experiências apresentamos as seguintes reflexões sobre a atuação no movimento operário, que acreditamos ser de imenso valor para o debate sobre qual a política necessária a ser levada no movimento operário de nosso país, sobretudo após a explosão do Conclat.

A tarefa dos revolucionários no movimento operário é impulsionar os fenômenos mais progressivos, potencialmente classistas e em perspectiva revolucionários, que vão se apresentando na luta de classes, como uma forma de colaborar na emergência de um movimento operário com independência política e de uma corrente revolucionária entre os trabalhadores.

A disputa eleitoral, ainda que dentro das organizações sindicais, é essencialmente uma oportunidade para fazer agitação e propaganda das idéias classistas ou revolucionárias entre os trabalhadores, mas não substitui a experiência direta da luta. Esse limite é muito maior se as eleições acontecem “a frio”, como ocorre com as próximas eleições na CTA controladas pelas alas em disputa da burocracia sindical, onde as possibilidades de influir no resultado ou conseguir que se expresse por essa via uma fração classista preponderante são nulas.

As eleições para comissão interna da Kraft no ano passado foram diferentes, por exemplo, por que se deu depois de um conflito histórico onde, com a burocracia de Daer em bancarrota, a direção da fábrica era disputada entre duas correntes majoritárias: uma classista impulsionada pelos revolucionários do PTS junto a companheiros e companheiras independentes, e outra reformista orientada pela CCC maoísta que acabava de firmar a paz social com a empresa, e que havíamos combatido com políticas alternativas durante o curso da própria luta. Algo similar pode se dizer da eleição de delegados na Fate e na Seccional do sindicato dos operários das fábricas de pneus em 2007 e 2008, depois da grande luta na qual foi expulso o burocrata sindical Wasiejko no meio das ações. O caso da eleição na CTA – uma das maiores centrais sindicais do país – está mais distante dessa situação.

Por outro lado, estão surgindo fenômenos muito positivos entre os trabalhadores, em especial entre os precarizados que tentam levantar a cabeça, se organizar, sair da situação de exploração insuportável. A organização de uma assembléia de trabalhadores ferroviários terceirizados é no começo, toda uma odisséia. Uma série de obstáculos que tem que ir sendo superados. O corte de vias de 9 horas na ferrovia Roca que comoveu o cenário público semanas atrás, não foi uma erupção espontânea. Desde as conversas de um ano atrás, ás escondidas, dos grupos que se reúnem clandestinamente, passando ao primeiro chamado a uma assembléia em um local sindical que é “visitado” por uma gangue de uma torcida de futebol, até poder juntar a quantidade de companheiros necessários para sair ás ruas. Aí coloca-se em jogo o emprego, se expõe ã repressão policial e dos grupos da União Ferroviária vestidos de “passageiros”. E ali se interpela a população sobre a situação de milhões de trabalhadores na Argentina que são cidadãos de segunda, que recebem a metade que seus companheiros enquanto fazem o mesmo trabalho. Denuncia-se que os lucros dos empresários se baseiam nessa situação de precarização que foi imposta desde a ditadura militar, e se assentuou nos anos 90. Evidencia-se que o governo que fala contra “o neoliberalismo” garante a continuidade dessas condições de exploração, e que nisso, coincide com a oposição patronal da qual parece ser inimigo. A burocracia sindical, em todas as suas alas, mostra-se cúmplice dessa situação, mantendo os efetivos separados de seus irmãos de classe.

O grito de “igual trabalho, igual salário”, questiona toda essa situação. Se esse grito se estende, poderia atacar uma das principais conquistas do regime que garante os lucros dos patrões, grandes, médios e pequenos. Considerar essa, desde um escritório partidário, “como uma luta sindical” não pode ser mais equivocado porque essa luta além de desenvolver-se e estender-se, questiona as condições de exploração nas quais se baseia o capitalismo no país, e por isso enfrenta o governo e a burocracia.

A luta sindical é a luta reivindicativa que se dá dentro do que o regime burguês permite aos trabalhadores. Uma vez por ano se luta por acordos coletivos bastante “ordenadas” onde existe uma data para que comece “a rodada de negociações”. Os trabalhadores pressionam para ver se conseguem melhorar algo em sua situação. Dificilmente podem questionar o regime capitalista, apesar de algumas terem mais combatividade. Nessa situação de crescimento capitalista e ilusões de progresso evolutivo em amplos setores dos trabalhadores efetivos, a luta das paritárias pode servir para dotar os trabalhadores de uma aula de luta, para melhorar a organização, sua consciência e o enfrentamento com a burocracia, mas dificilmente podem transformar-se em lutas políticas.

As eleições sindicais habituais não são “lutas políticas”, no sentido que Lênin dava ao termo, nem desafio da ação da classe operária ao poder burguês, mas sim agitação das idéias classistas. As lutas políticas são em primeiro lugar, ações da classe operária que por sua disposição combativa e seu programa atacam o regime capitalista, o governo e o estado. Para isso, é necessário intervir nos combates de classe e tratar de dotá-los de um programa que, para dar resposta ás necessidades diligentes, não pode mais que chocar com as instituições do regime e o domínio dos capitalistas.

Desandar, por exemplo, as conquistas capitalistas que se impuseram mediante uma ditadura, primeiro, e com derrotas de grandes lutas contra as privatizações na década neoliberal, depois, precisa de ações operárias opostas da mesma intensidade. Para isso, a classe operária tem que ter em seu programa consignas que busquem a unidade de suas fileiras, que lhes permitam conseguir aliados para resolver de forma revolucionária seus grandes padecimentos. Os operários de Zanon o expressaram mil e uma vezes: “queremos a estatização sob controle operário da fábrica, para organizar um plano de obras públicas que dê trabalho aos desempregados e moradia ao povo”. Isto se contrapôs ás meras cooperativas de gestão, mas também ás correntes de esquerda que basearam seu trabalho nos movimentos de desempregados como colaterais partidárias com uma prática que imitava os métodos clientelistas, enquanto (em alguns casos) levavam a frente um sindicalismo estreito. Isso pudemos ver na mesma ferrovia Roca anos atrás, quando o PTS foi a única corrente que foi parte, desde os efetivos, da luta pelos postos de trabalho para os desempregados que por sua vez colaboravam nas lutas para recontratar os ativistas demitidos. É sintomático, porque o resto das correntes de esquerda que existiam na Ferrovia tinham trabalho entre os desempregados, mas jamais quiseram unir ambas demandas dando lugar a uma estranha orientação que poderia se resumir como “planos para os desempregados, aumento de salário para os efetivos”. Os partidos “super piqueteiros” jamais participaram das lutas que na Roca permitiram a entrada de dezenas de desempregados. A luta de toda a classe operária pela demanda da divisão das horas de trabalho foi trocada por um limitado sindicalismo que se acompanhou com a formação, ainda mais estreita, de “colaterais piqueteiras” que se mobilizavam, de fato e para além dos discursos, para manter os planos assistenciais.

Fazer um pouco de sindicalismo, um pouco de clientelismo e um pouco de eleitoralismo, é o contrário da luta política, mas é lamentavelmente a prática da maioria da esquerda, que em alguns casos é acompanhado por agrupações estudantis que se dedicam a gerir “centros de serviços” e se colocam numa perspectiva alheia à luta de classes. Por mais que seja necessário participar das lutas salariais, das eleições e denunciar sistematicamente o governo, considerar que se leva adiante uma “luta política” – dado que nas lutas salariais “normais” e nas eleições permitidas pelo poder se faz propaganda -, é um infantilismo absurdo. Dessa forma inorgânica, jamais se conseguirá que setores da classe operária avancem um passo real em seu enfrentamento com o governo, e portanto, tão pouco avance sua própria consciência política.

O PTS busca fazer de cada luta uma batalha de classe, subordina sua participação eleitoral ã intervenção na luta de classes, desenvolve um programa para cada luta real enfrentando de forma crescente o governo, o regime e o Estado e dá importância de primeira ordem à luta ideológica e teórica. Essa é a única forma de lutar para que setores da classe operária avancem ao classismo e sejam a base para a construção de um verdadeiro partido revolucionário.

 

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