De 14 a 23 de agosto se realizou em Buenos Aires a VII Conferência da Fração Trotskista Quarta Internacional. Entrevistamos Emilio Albamonte, dirigente da FT-QI e diretor da revista Estratégia Internacional, sobre os principais debates que se realizaram na conferência.
LVO: A conferência começou debatendo sobre o marco estratégico dos revolucionários na atualidade, qual foi a discussão neste ponto?
EA: Para esta discussão apresentamos o documento “Nos limites da restauração burguesa” que escrevemos com o companheiro Matias Maiello, no qual partimos de definir que com a crise histórica que o capitalismo atravessa na atualidade está terminando as condições da etapa de restauração burguesa, durante a qual o avanço do imperialismo sobre as conquistas da classe trabalhadora e os povos oprimidos do mundo, diferentemente do resto do século XX, pode ser levado a cabo com métodos relativamente “pacíficos”. Quer dizer, não necessitaram nos EUA, Inglaterra, Alemanha ou Japão, para falar dos países mais importantes, nem de um Mussolini nem de um Hitler, nem romper com a democracia burguesa para destruir enormes conquistas da classe trabalhadora. As direções reformistas das organizações que surgiram no pós guerra ou foram cúmplices ou aceitaram como “mal menor” esses ataques.
Hoje, como vemos na Europa, o capitalismo se mostra cada vez mais incapaz de garantir sequer as condições elitistas do que alguns sociólogos chamam “pacto neoliberal”, com setores privilegiados das classes médias e os trabalhadores, especialmente dos países centrais. Vemos um ataque que implicou a fratura da própria classe operária, não só entre proletários de países imperialistas e oprimidos, senão também entre trabalhadores de primeira e de segunda (sejam precarizados, terceirizados, imigrantes etc), afundando estes últimos, que conformam a grande maioria da classe operária mundial, na miséria e ao amontoamento na periferia das cidades, junto com os desempregados que foram relegados ã assistência estatal para poder sobreviver.
LVO: Porque denominar ao neoliberalismo como “etapa de restauração burguesa”?
EA: Por um lado porque é necessário fugir de qualquer visão superficial e “alegre” de alguns setores da esquerda trotskista que vêem situações e triunfos revolucionários por toda parte. Os revolucionários temos que dar conta do que significou o avanço do imperialismo a escala mundial durante quase três décadas, que compreendeu tanto o retrocesso das conquistas que o proletariado havia arrancado do capital durante o século XX no Ocidente como a restauração dos estados operários burocratizados no leste Europeu, Rússia e o Oriente, particularmente China.
A restauração capitalista nestes estados não só significou a queda da burocracia governante, que se converteu ela mesma em capitalista, senão também a destruição das conquistas que se mantinham da revolução e um terrível retrocesso nas condições de vida das massas. Isso afetou também ã classe operária do Ocidente. Durante a etapa de restauração, a burguesia fez valer a incorporação de mais de 1,7 bilhões de novos proletários ao mercado capitalista para atacar as condições de trabalho em todo o planeta. Com a submissão dos trabalhadores chineses ou do leste Europeu a altos níveis de exploração, os monopólios imperialista “relocalizavam” sua produção e usavam isso para baixar os salários e avançar sobre as condições de vida da classe operária européia ou norte americana. A mesma ofensiva chegou ás semicolonias pela mão do chamado “Consenso de Washington”.
Foi um processo de conjunto. O que começou como uma ofensiva reacionária mediante a qual o imperialismo impôs uma série de contra reformas econômicas, políticas e sociais, que ficaram conhecidas como neoliberalismo, teve um salto qualitativo contra revolucionário com a restauração do capitalismo em aqueles estados onde se havia expropriado a burguesia. Isso serviu, por sua vez, para impor novas cadeias aos trabalhadores e os povos oprimidos do mundo. A este processo de conjunto é o que chamamos “etapa de restauração burguesa”. No entanto, apesar deste ataque generalizado, o imperialismo não conseguiu mais que postergar por um tempo suas grandes contradições que hoje volta a se expressar como uma crise histórica cujo epicentro está nas principais potências imperialistas.
LVO: China não desmente a afirmação de Trotsky de que a restauração do capitalismo levará necessariamente a uma involução política, econômica e social?
EA: Foram muito diferentes as conseqüências da restauração na URSS e na China. Se a URSS passou de ser a segunda potência a nível mundial a um país altamente dependente das exportações de gás e petróleo, um país onde foi desmantelado o aparato industrial e as condições de vida das massas retrocederam décadas, a restauração capitalista na China se beneficiou do atraso do país que para isso então ainda tinha mais de 80% da população vivendo no campo. Sobre a base da unidade nacional conquistada pela revolução de 49 se realizou um desenvolvimento industrial sem precedentes impulsionado pelo capital financeiro internacional que a transformou na “oficina” do capitalismo mundial. Em menos de três décadas foi liquidada as condições de vida do velho proletariado estatal, entre 100 e 200 milhões de camponeses emigraram ás cidades formando um novo exército de trabalhadores urbanos.
No entanto, longe das expectativas de quem via neste desenvolvimento o surgimento da nova potência hegemônica do século XXI, o certo é que a China mantém contradições cada vez mais explosivas. Ainda que em termos de PIB sua economia seja a segunda do planeta, se o produto é dividido pela quantidade de habitantes se localiza apenas a frente do Congo e Angola, com 400 milhões de habitantes que vivem com menos de dois dólares diários como renda per capita.
O desenvolvimento chinês das últimas décadas, ao ser motorizado pelo capital financeiro internacional, diretamente ou através do Estado, tem dado como resultado um desenvolvimento exponencial da classe operária, com mais de 400 milhões de trabalhadores urbanos, tendo como correlato o surgimento de uma burguesia muitíssimo mais débil. Com a nova divisão mundial do trabalho da qual é parte fundamental a China, também voltou a se mundializar a luta de classes.
A conferência analisou a existência de dois movimentos operários com dinâmicas diferentes. Por um lado o proletariado do Oriente, que é produto da expansão das economias dessa região nos últimos anos, que sofre altos níveis de exploração e que começa a dar suas primeiras grandes lutas, como por exemplo na China, onde apesar de que não existe o direito a greve nem ã organização sindical independente, os trabalhadores protagonizaram uma onda de lutas que teve os operário da Honda na província de Guandong como seu ponto emblemático depois de manter a planta paralisada durante duas semanas e se estendeu a outras regiões como mostraram os enfrentamentos dos trabalhadores de KOK Machinery nas redondezas de Xangai com a polícia. Este novo movimento operário se estende por países como Vietnã, Camboja ou Bangladesh, onde 800 mil operárias têxteis vêm de protagonizar recentemente uma heróica greve que comoveu o país. Por outro lado, o proletariado do Ocidente, que domoinado pela burocracia dos grandes sindicatos, com a exceção parcial da Grécia, ainda não tem dado exemplos desta magnitude frente ã crise, ainda que apostamos que a greve geral convocada no Estado Espanhol para 29 de setembro possa se converter em um grande pronunciamento da classe operária contra os planos de ajuste de Zapatero.
Todos esses processos estiveram presentes nos debates da conferência assim como a continuidades da crise mundial, a qual, não só deixou para trás toda a série de especulações sobre a pretensa recuperação econômica, senão que deu um novo salto plasmada na crise européia. Ao que temos que somar a situação de crise que o imperialismo norte americano tem no Afeganistão – que fez Obama abandonar as promessas de retirar-se, reconhecendo que a ocupação militar vai se estender como mínimo até 2014 -, ao mesmo tempo em que a publicação dos informes em WikiLeaks sobre a matança de civis, os bombardeios indiscriminados e toda uma série de crimes perpetuados pelas tropas norte americanas e da OTAN mostram a verdadeira cara do governo de Obama.
LVO: Aqueles ataques que mencionava ás conquistas e ás condições históricas da classe operária no Ocidente, que mudanças produziram na consciência dos trabalhadores?
EA: Do ponto de vista subjetivo o traço distintivo da etapa de restauração burguesa foi que as múltiplas conquistas parciais que o proletariado havia obtido no período anterior, ao não serem utilizadas como pontos de apoio para o avanço da revolução em escala mundial foram se transformando em seu contrário, uma atrás da outra. Não somente a burocracia dos estados onde foi expropriada a burguesia passou por completo ao bando da restauração, senão que no resto dos países as direções históricas da classe trabalhadora, como os PS e os PC foram os aplicadores diretos das contra reformas neoliberais e as cúpulas dos sindicatos foram cúmplices ou se mostraram impotentes para frear essas mudanças. Na Argentina a reconversão em chave neoliberal do peronismo durante os 90 foi parte desse fenômeno. Este processo teve como efeito imediato a desmoralização nas fileiras da classe operária, a perda de confiança nas próprias forças, que abriu espaço a uma onda de triunfalismo burguês e de pessimismo histórico sobre as capacidades do proletariado, que paradoxalmente se produzia em uma etapa em que a classe operária conseguia uma extensão, em termos objetivos, como nunca antes na história. Hoje são mais de 3 bilhões os trabalhadores assalariados e a população urbana supera a rural pela primeira vez na história.
LVO: Como estava o próprio trotskismo nesta etapa?
EA: Depois da segunda guerra mundial as correntes trotskistas se foram distanciando do legado de Trotsky, alguns esperando uma auto reforma da burocracia, e na maioria dos casos atuando como conselheiros ou depositando suas expectativas no avanço do socialismo das mãos de diferentes stalinismos nacionais, como Mao ou Tito, ou direções nacionalistas burguesas.
No entanto, ainda que naqueles anos onde o mapa parecia “pintar-se de vermelho”, como dizia quem foi talvez o principal dirigente do trotskismo argentino, Nahuel Moreno, era evidente que inclusive nos lugares onde houve grandes revoluções como na China, Iugoslávia ou Cuba, a inexistência do proletariado mais concentrado como sujeito social, a falta de organismos de auto organização das massas e a condução dos processos por partidos únicos de tipo stalinista, significavam ao mesmo tempo um freio para o desenvolvimento internacionalista da revolução e o avanço para o socialismo. Mais ainda, essas organizações, frente ã ofensiva do capital, demonstraram seu caráter contra revolucionário submetendo-se aos ataques.
Quando isso finalmente se deu, a resposta foi um tipo de “social-democratização”, com alguns mantendo nos papéis o programa e outros diretamente rompendo com o trotskismo. Foi um novo salto na adaptação aos cenários do regime burguês, seja ao sindicalismo “normal”, ás eleições cada dois anos, ã vida universitária etc, e junto com isso se desenvolveu uma visão derrotista para com o movimento operário.
Nós achamos, desde o ponto de vista subjetivo, que somente revoluções clássicas com o proletariado como sujeito e com formas de auto-organização podem conduzir o avanço ã revolução internacional e desta ã mundial, enquanto isso que com “direções qualquer” por mais conquistas que se consiga, cedo ou tarde se não são colocadas em função deste objetivo se transformarão novamente em seu contrário.
LVO: Em que consistiu a discussão sobre a América Latina?
EA: Por um lado na situação geral existem duas dinâmicas: uma ao norte do canal do Panamá, onde há mais governos de direita e mais ingerência do imperialismo como vimos em Honduras, ou com a invasão militar no Haiti ou os exercícios militares da IV Frota na Costa Rica e outra na América do Sul, onde sem crise econômica aguda mas tão pouco luta de classe aguda, a burguesia conseguiu, por enquanto, manter certa estabilidade depois dos levantamentos populares e camponeses de começos da década. Entretanto o projeto mais ofensivo das burguesias latino americanas para o regateio com o imperialismo, que foi a ALBA, agora está em crise. Vemos que ao que assistimos atualmente é o fim do ciclo de lutas em que o campesinato e os pobres eram hegemônicos e o proletariado começa a dar suas primeiras lutas independentes: rebeliões fabris na Bolívia, lutas na Venezuela (que foram freadas na conjuntura mediante os assassinatos de líderes sindicais por capangas), o sindicalismo de base na Argentina etc. Quer dizer, o proletariado começa a mostrar-se como uma classe independente do bloco popular de conjunto, ainda que lentamente e sem constituir-se ainda, pelo baixo nível de luta de classes, em um perigo para a estabilidade burguesa “reformista”.
Por outro lado discutimos como um ponto chave da situação latino-americana a encruzilhada que vive na atualidade Cuba e de cuja resolução depende o avanço ou não do imperialismo impondo novas cadeias de dominação ã região. Consideramos que a defesa ativa das conquistas da revolução cubana contra o imperialismo e os planos restauracionistas da burocracia é uma tarefa de primeira ordem para os revolucionários na atualidade.
Tanto as posições que identificam a defesa das conquistas da revolução cubana com a defesa do regime burocrático, justificando o curso restauracionista do governo, como aquelas que sustentam que a questão passa por mudar o regime para obter liberdades democráticas formais, reproduzindo as campanhas demagógicas do imperialismo, expressam duas formas distintas de apoiar a algum dos agentes da restauração do capitalismo em Cuba, seja a burocracia governante ou diretamente o imperialismo. A Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT) tem assumido abertamente a variante socialdemocrata colocando como eixo a “luta frontal contra a ditadura” e reclamando “liberdades democráticas para os burgueses”.
Os revolucionários ao mesmo tempo em que enfrentamos o bloqueio imperialista e defendemos as conquistas que se mantêm da revolução, temos que lutar por uma revolução política que seja capaz de estabelecer as bases de um estado revolucionário.
A conferência discutiu um documento especial sobre Cuba que faz uma apreciação atual da relação de forças e a situação na ilha, que publicaremos proximamente, e resolveu lançar uma grande campanha pela defesa de Cuba frente ã burocracia restauracionista e o imperialismo, que consideramos que deve ser uma das tarefas fundamentais dos revolucionários na América Latina. Como parte destas iniciativas vamos inaugurar um portal especial sobre Cuba para que todos os trabalhadores possam seguir cotidianamente a situação na ilha e onde expressaremos os principais debates aos quais me referia.
LVO: Não acham que frente ã crise teria que chamar uma conferência ou congresso de dezenas de grupos nacionais e tendência internacionais que em todo o mundo se reivindicam trotskistas?
EA: Se surgiram reagrupamentos deste tipo não te caberia a menor dúvida que participaríamos e tentaríamos discutir um programa marxista revolucionário conseqüente e orientá-los para uma fusão com o mais avançado da vanguarda operária. No entanto, isso é altamente improvável porque nestas últimas décadas as diferenças, teóricas, políticas e estratégicas se aprofundaram entre todos os componentes do chamado “movimento trotskista” e ninguém tem hoje o projeto de fazer esse tipo de conferência internacional. Em linhas gerais, as distintas tendências e organizações, ou bem continuam atuando em forma conservadora como se nada tivesse acontecido, combinando distintos graus de oportunismo e sectarismo, como é o caso da LIT dirigida pela PSTU do Brasil que segue com um projeto estreito de “reagrupar o morenismo” em nível internacional; ou bem tem se transformado em grupos “liquidacionistas”, como é o caso do Secretariado Unificado (mandelista), que aposta em diluir-se em partidos amplos com setores reformistas mundo aflora liquidando a estratégia de formar partidos operários revolucionários.
LVO: O PO, no entanto, não coloca o desenvolvimento de uma tendência senão de uma unificação em uma organização que eles chamar Coordenadora pela Reconstrução da IV Internacional...
EA: Historicamente o PO tinha sua própria tendência latino americana junto com o POR boliviano de Guillermo Lora. Esta tendência explodiu já faz muito tempo. Nos último anos se produziu uma ruptura com o principal grupo solidário com o PO que era a Causa Operária do Brasil. A partir de então começaram a reforçar a política da CRCI de que falam. Durante muito tempo sustentaram que teria que organizar a todos os que aceitassem quatro pontos programáticos, tendo como eixo central a ditadura do proletariado. Desde que surgiu a crise mundial entraram em contradição com o grupo italiano, um dos três ou quatro grupos que conformam a CRCI, já que segundo Altamira estes não compartilham a caracterização sobre a crise. Recentemente têm colocado com a assinatura de Grisolía, o dirigente do grupo italiano (que agora parece que sim compreende a crise), que: “A caracterização da crise mundial capitalista e as tarefas que se desprendem dela são o eixo de delimitação política na esquerda e o trotskismo. Sem outras condições que esta base teórica e a correspondente ação prática, reiteramos nossa concepção de refundar a Quarta Internacional”.
Este chamado, se fosse sério, deveria conter as linhas orientadoras do programa e a estratégia para enfrentar a crise. Muito receamos que isso seja somente uma manobra, e que, em última instância, o PO se guarde como sempre o direito arbitrário de determinar em forma sectária quem “compreendem” ou não a magnitude da crise, como fez com Grisolía. Não necessitamos clarificar que o PTS e a FT em seu conjunto não só caracterizam e sustentam o caráter histórico da crise senão que lutam em todos os países onde existem para unir-se com a vanguarda proletária em base ao programa de transição e a estratégia do trotskismo. Mas as razões pelas quais o PO exclui ao PTS e ã FT de seu chamado não se devem a nenhuma diferença sobre “o caráter histórico da crise” senão pelo simples fato de que viemos tendo mais êxito que o PO e seus amigos em nos fusionar com os melhores elementos da vanguarda operária que sai a luta nesta crise, como se demonstrou no último ano a participação em Kraft na Argentina, o papel de liderança de nossos companheiros do Brasil na heróica greve de mais de 50 dias do SINTUSP ou a intervenção na luta dos eletricistas mexicanos de nossos companheiros da LTS. Se a direção do PO e os grupos da CRCI não iniciam uma discussão séria com o PTS e a FT ficará claro que sua “proposta” não é mais que um mero “charlatanismo” para aparecer como internacionalistas frente a seus militantes.
LVO: Por último, o ato no 70 aniversário do assassinato de Trotski demonstrou não só um PTS, senão uma organização internacional (a FT-QI) dinâmica. Que relação você estabelece entre o desenvolvimento da FT e a reconstrução da IV Internacional como partido mundial da revolução socialista?
EA: Na verdade o ato ao que assistiram milhares de companheiros, representantes do sindicalismo de base de nosso país, do movimento democrático, estudantil etc, e onde falaram diversos oradores da América Latina e Europa, foi a culminação de uma conferência onde se viu o desenvolvimento de jovens organizações marxistas revolucionárias que deram um novo salto no último ano, como no caso do México – contra a corrente -, do Brasil ou da Argentina. No entanto, sempre sustentamos que a construção de um partido mundial da revolução socialista não será o produto de uma desenvolvimento evolutivo das pequenas organizações – inclusive o PTS – que hoje compõem nosso agrupamento internacional.
Desde o estouro da crise mundial viemos insistindo em que o trotskismo, que concentra o melhor das experiências do marxismo revolucionário no Ocidente, só pode deixar de ser marginal se fusiona-se com os melhores elementos da vanguarda operária de todos os países. Nesse sentido, é um pequeno símbolo duplamente auspicioso a presença na conferência como convidado do companheiro Manuel Georget, dirigente da CGT de Chartres e líder da única tentativa de controle operário que se deu na França no último período. Digo duplamente auspicioso porque o companheiro luta também, como membro do NPA (Novo Partido Anti-capitalista) uma organização que conta com milhares de militantes, por formar uma tendência revolucionária dentro deste partido
Na França, desde a FT, primeiro coincidimos com os companheiros do ex grupo CRI na tendência CLAIRE, depois avançamos para o chamado a uma tendência revolucionária onde participam companheiros operários e dirigentes que foram referencias de lutas importantes. O giro enérgico ã rica luta de classes que tem ocorrido na França durante este período é o que permite esta confluência e temos a esperança de que maiores intervenções na luta de classes e uma intervenção comum no próximo congresso do NPA, que está planificado para fins deste anos, permita desenvolver uma corrente dinâmica neste partido, que seja uma alternativa ã orientação oportunista e eleitoralista da direção do mesmo. Quer dizer que a combinação de uma forte intervenção na luta de classes e de um combate nos novos fenômenos políticos, neste caso o NPA, poderá fazer surgir novos fenômenos progressivos que sejam muito superiores ã FT ou ás diversas organizações que se reivindicam do trotskismo em todo o mundo. E isso tem uma importância especial, já que a França não é só um lugar importante para a luta do movimento operário senão que é um dos países onde o trotskismo tem maior influência historicamente.
A FT nem considera que a IV Internacional vá surgir de sua evolução natural como tendência, nem aposta em “reorganizar” o movimento trotskista realmente existente através de conferências ou congressos, questão que consideramos utópicas pelas diferenças de todo tipo que assinalei antes. Nossa organização se constituiu na última década como um reagrupamento defensivo criado para sustentar a teoria, a estratégia e o programa do trotskismo principista em uma época reacionária, em que estes fundamentos foram atacados por todo tipo de revisionismos. Hoje, no entanto, é necessário dar passos concretos na reconstrução da IV Internacional. Por isso, o que está colocado é conseguir convergências a partir de políticas em comum na luta de classes, conquistando reagrupamentos, não só com o melhor da vanguarda operária “independente” nos “testes ácidos” da luta de classes, senão também buscando orientações em comum e acordos com aqueles setores marxistas revolucionários com os que começamos a compartilhar um programa e uma estratégia.
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