No dia 29 de setembro as duas principais centrais operárias do Estado espanhol (CC.OO. e UGT), convocam a paralisar o país contra os ajustes do Governo de Zapatero.
Nos três anos de crise capitalista centenas de milhares de demitidos compõem uma taxa de desemprego superior a 20%, mais de 4,6 milhões, 1,5 milhões dos quais não recebem subsídio algum. A burocracia sindical de CC.OO. e UGT tem mantido uma criminal política de paz social com o Governo e o isolamento e a negociação de indenizações nas fábricas, assim como a não defesa dos demitidos temporários ou precários.
Desde o estouro da crise grega, Zapatero decidiu colocar em marcha um plano de ajuste draconiano. É o maior ataque anti-operário desde a ditadura franquista, que pretende acabar com as conquistas que a classe trabalhadora ainda conserva, como os convênios coletivos. Primeiro foi o rebaixamento dos salários dos trabalhadores públicos (- 5%), o congelamento das pensões e os cortes de prestações sociais e agora acaba de se aprovar uma contra-reforma trabalhista que abarata e facilita a demissão e converte em papel molhado as condições salariais e trabalhistas fixadas nos convênios. Mas isto não é mais que o aperitivo. Já se anuncia o aumento da idade de aposentadoria, a liquidação da negociação coletiva e mais cortes e demissões na administração pública.
Os desafios que a greve colocam
A dureza do ataque forçou a burocracia sindical a chamar ã mobilização geral. Uma greve, que coloca importantes desafios, sobretudo para quem apostamos que se converta em um despertar inicial.
A paralisação de massas e a divisão das fileiras operárias em centenas de categorias tornam necessário articular um programa para unificar a classe para a luta. Levantando a divisão das horas de trabalho sem redução salarial para dar emprego aos desempregados, a igualdade salarial e em direitos políticos e econômicos para os trabalhadores estrangeiros, e incorporação dos trabalhadores temporários e subcontratados ã planta da fábrica e sua passagem ã condição de trabalhadores efetivos... definitivamente somar ás demandas contra os planos do Governo as reivindicações específicas dos setores da classe mais explorados: os trabalhadores estrangeiros, a juventude e a mulher trabalhadora.
Além do que há uma campanha tatcheriana brutal por parte dos meios de comunicação burgueses, do PP e do Governo. Por um lado Zapatero, fazendo uso de um regulamento franquista, pretende impor fortíssimos serviços mínimos. Por outro lado, e apoiando-se no rechaço que muitos trabalhadores mantém contra a política da burocracia sindical (muito desprestigiada pela criminosa paz social destes últimos anos), a burguesia pretende se fazer cargo do terreno para que os trabalhadores aceitem futuros ataques contra os sindicatos e organismos operários. Desgraçadamente algumas correntes políticas seguem o jogo a este discurso. Assim, sindicatos como o anarco-sindicalista Solidaridad Obrera (com influência no Metrô de Madri), não convocam o dia 29S aludindo que é uma greve “de CC.OO. e UGT”.
Contra esta política sectária e destruidora, que acaba beneficiando ao Governo e ã ofensiva anti-sindical da burguesia, outros muitos sindicatos opositores ã política da CC.OO. e UGT estão se somando ã greve, na perspectiva de convertê-la em um pontapé inicial de uma luta maior e prolongada no tempo, que consiga impor o fim definitivo da paz social.
Desde Clase contra Clase somos parte deste processo. Estamos participando nas agrupações que se dão nesta vanguarda, como a Plataforma “Que a crise seja paga pelos ricos” em Zaragoza ou a Assembléia de Barcelona. Esta última reuniu no passado dia 15 de setembro 800 jovens e trabalhadores, e votou participar dos piquetes em favelas e em pólos industriais no dia 29S, concentrar um bloco combativo no centro da cidade ao meio dia e voltar a reunir uma nova assembléia em outubro.
O descontentamento crescente com a política do CC.OO. e UGT abre a possibilidade de que estes agrupamentos possam conflui com setores da base destas duas centrais majoritárias. A política “alternativista” de algumas correntes políticas e sindicais, que terminam abstendo-se de dar luta política contra estes burocratas para disputar a direção do movimento operário, míngua o potencial desta vanguarda. Contra isto desde Clase contra Clase nos opomos a necessidade de lutar nos centros de trabalho pela mais ampla democracia operária, com assembléias gerais para discutir o dia 29S e sua continuidade, assim como buscar confluir com estes trabalhadores nos piquetes e manifestações que se organizem no dia da greve. Em Zaragoza a burocracia da CC.OO. e da CGT proibiu expressamente que estes setores operários participem na manifestação central, colocando inclusive em aviso a Polícia Nacional que esse dia atuará como o piquete da patronal. Seus temores são um sintoma da potencialidade que encerra este fenômeno.
Novas lutas que alimentam a perspectiva de um outono quente
A perspectiva de continuar o combate depois de 29S conta além do mais com importantes pontos de apoio em alguns setores operários em luta. Esta batalhões demonstram que ainda que os ajustes possam passar no parlamento, depois terão que ser impostos setor por setor ou inclusive fábrica por fábrica. Esta situação coloca em apuros as intenções de “volta ao diálogo social” da burocracia sindical majoritária. A luta mais importante neste momento é a da mineração. Por um lado as grandes empresas estão deixando de pagar os salários aos mineiros, além disso estes vivem sob a ameaça de fechamento da carvoaria em 2014 (decretado pela UE e aceito por Zapatero). Dezenas deles mantém encerrados e 200 iniciaram uma marcha a pé que pretende chegar ã cidade de León (capital de uma região mineira) no dia 29S. Além disso, nos dias 22, e 23, 28 e 29, todas as minas do país estarão em greve pela defesa da fonte de trabalho.
Mas também outros setores mantêm pulsos permanentes contra as intenções do Governo. Em Madrid os trabalhadores da CNMV (Comissão Nacional do Mercado de Valores) estão em greve contra a redução de seus salários, o mesmo se passa nos Trens de Cercanías de Catalunya, que mantém um calendário de paralisações durante todo o mês de setembro pelo mesmo motivo e que vem levando adiante ações de boicote contra os serviços mínimos. Em Zaragoza os condutores de ônibus urbanos pretendem estender a greve a toda a semana do dia 29, e chamam ao resto dos trabalhadores da cidade a apoiar sua medida e sustentar seus piquetes.
Acabou a paz social de Zapatero?
Na terça-feira passada Zapatero se reunia com diferentes magnatas do Wall Street em Nova Iorque para “lhes vender” seus ajustes. No momento sua principal preocupação é contentar aos mercados de capitais para garantir os bons negócios da patronal e a banca espanhola.
Entretanto, há importantes sinais de que a partir de 29S outros fantasmas lhe podem começar a tirar o sono. Dentro de uma semana a classe trabalhadora, e sobretudo seus setores mais concentrados, lhe vão dirigir um primeiro golpe a seus planos. A dureza de seus ataques e a inicial emergência de setores operários que não engolem mais “diálogo” e “paz social” abrem a perspectiva de que se inicie um giro na situação política e a classe trabalhadora saia em cena.
A preparação da greve geral de 29S e os seguintes conflitos que lhe podem seguir devemos tratar de convertê-los em “escolas de guerras” onde a classe operária vá recompondo sua capacidade de organização de luta. Neste processo, para conseguir derrotar o capitalismo espanhol e seus governos (sejam do PP ou do PSOE), para sepultar o regime herdeiro do franquismo e poder construir uma sociedade sem classes, no próximo período se aponte a necessidade de levantar um programa para fazer com que a crise a paguem os capitalistas e dar passos na construção de um partido revolucionário de trabalhadores. Esta é a perspectiva na que os companheiros de Clase contra Clase estamos intervindo no reverdecer da luta operária nas terras da Revolução Espanhola.
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