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Entrada Explosiva da Juventude na Luta
por : Philippe Alcoy

22 Oct 2010 | Este problema da juventude que sente que não tem futuro é uma questão que vai além das reformas das aposentadorias e do governo de Sarkozy. É uma ameaça permanente para a estabilidade e a paz social burguesa na França.

Na escala Richter dos movimento sociais, os estudantes do ensino médio nas ruas, é um nível de alerta de seis ou sete pontos. É Raymond Soubie, conselheiro de assuntos sociais de Sarkozy, que lançava esta advertência em 15 de outubro, uns dias antes que dezenas de milhares de estudantes do ensino médio (secundaristas) e alguns universitários passaram a se manifestar junto a dezenas de milhares de trabalhadores do setor publico e privado. Há poucos dias, a jornada de greve e manifestações de 19 de outubro foi uma prova contundente de que a juventude já está toda empenhada na luta contra a reforma de Sarkozy, contra sua política reacionária e racista e contra a burguesia francesa.

Na semana passada iniciaram os primeiros piquetes de escolas, e essa semana se intensificou o movimento: de um total de 4.000 escolas em toda a França, dentre as quais estão piquetadas 380 segundo os dados do governo e 850 segundo as organizações dos estudantes do ensino médio. Algumas universidades também votaram piquetes em assembléias de centenas de estudantes, o que é um bom sinal.

Os piquetes de escolas estão sendo acompanhados por dezenas de manifestações diárias em varias cidades da França, e enfrentamentos entre estudantes secundaristas e a policia. Este é particularmente o caso das escolas dos bairros populares periféricos das grandes cidades, periferias, e onde se concentram as fileiras mais exploradas e oprimidas dos jovens, majoritariamente de imigrantes ou filhos de imigrantes das ex-colônias francesas. Os enfrentamentos ocorreram em Nanterre, oeste de Paris, em Seine-Saint-Denis, no norte da capital, e em Lyon. Houveram várias detenções e danos materiais.

Enquanto as provocações policiais [1] com seus escudos, gases e cassetetes são responsáveis por boa parte dos enfrentamentos e distúrbios, a partir da a imprensa – que a partir dos primeiros sinais de radicalização do movimento, deixou bem claro a serviço de quem se encontra – o governo leva a cabo uma campanha odiosa contra os “casseurs” (vândalos). Este termo, que retomam lamentavelmente os sindicatos e partidos de extrema esquerda, é utilizado para separar os estudantes do ensino médio (supostamente “bons e responsáveis”) dos “elementos externos” que vem das “cités” [2] e que devem ser expulsos das manifestações. Assim diz o jornal da direitista “Le Figaro”: “na esmagadora maioria dos casos os vandalos não são exteriores aos movimentos (…) Se tratam antes, dos mesmos estudantes secundaristas (…) nas manifestacões, os secundaristas (…) dos bairros pobres (difíceis) se transformam em “casseurs”. Colocam seus capuzes e começam a atirar pedras e a incendiar latas de lixo de plástico, e até carros” (Le Fígaro, 20/10). Se bem é verdade que existe uma decadência social, sobretudo nas cidades mais pobres, e que há agitadores infiltrados pagos pela policia para quebrar tudo e degradar a imagem dos manifestantes, a realidade é que a mídia tenta desacreditar os jovens estudantes, desarticular sua resistência e tentar evitar um cenário como o de 2006, quando, na luta contra o CPE, os jovens se uniram aos trabalhadores e fizeram o governo retroceder.

Um mau estar que vai além das aposentadorias

Muito se debateu sobre a legitimidade dos estudantes secundaristas nas manifestações contra a reforma... para não mencionar os piquetes das escolas. A burguesia e organizações de pais de estudantes “pró-governo”, entre outros, se indignaram denunciando uma “manipulação” e uma “simples vontade de não ir ás aulas” dos estudantes. No entanto, várias vozes se ergueram para lembrar que foi esse governo que baixou a idade criminal para 13 anos. Nesse sentido, a bandeira dos estudantes do ensino médio que fazem piquetes em suas escolas é: “aos 13 anos ã cadeia, aos 16 irresponsável, aos 25 desempregado, aos 70 morto... no trabalho”.

Mas a realidade é que a reforma do sistema de pensões fez aparecer outras preocupações mais profundas que se encontram latentes na juventude francesa. É que “esta geração é a primeira que, com segurança, entendeu que viverá pior que seus pais (…) no Maio de 68, uma juventude que não tinha por que se preocupar em encontrar um lugar na sociedade, protestava contra a mesma natureza da sociedade construída por seus pais. A geração de 68 não pode transformá-la, e deixou aos seus descendentes uma sociedade mais desigual, e menos acolhedora ainda”. (Rua 89, 19/10)

Hoje em dia, na França, o desemprego entre os jovens ativos de 14 a 25 anos é de 25%. Nessa estatística não se leva em conta os jovens estudantes, já que não são considerados como ativos. No entanto, 75% dos 2,2 milhões de estudantes universitários exercem alguma atividade remunerada. Finalmente, 12% dos jovens de 15 a 29 anos não estudam e também não possuem um emprego [3]. A estes dados deve-se somar o acesso a moradias: “de 1996 a 2009, os rendimentos disponíveis por família aumentaram 34%, enquanto que ao mesmo tempo os preços das casas aumentaram 130%”. (Le Monde, 15/10) Resultado: é impossível hoje em dia, para alguém que compra uma casa pela primeira vez, alojar-se nas mesmas condições que seus pais, ou mesmo em condições decentes.

Assim, a reforma da previdência, que é fundamental para o capitalismo francês, e que se faz, como não poderia ser de outra forma, ás costas dos trabalhadores, aparece entre os jovens como uma precarização suplementar que deverão sofrer no fim de suas profissões. É isto o que explica a entrada explosiva dos secundaristas e dos jovens de bairros populares no movimento. E as manifestações mais ou menos agressivas de uma parte desta juventude, muito mais do que ser uma simples manifestação de delinqüentes, reflete o único modo de expressão que eles encontram como conseqüência da política criminosa das direções sindicais e estudantis, que deixam de lado as preocupações e frustrações agudas destes setores, para se contentarem somente com ações de pressão sobre o regime. Como disse um deles: “Certamente Sarkozy não vai gostar que haja imagens em todo o mundo de jovens como nós queimando carros. Pela reputação da França, estará obrigado a fazer algo”. (Le Monde, 19/10)

Este problema da juventude que sente que não tem futuro é uma questão que vai além das reformas das aposentadorias e do governo de Sarkozy. É uma ameaça permanente para a estabilidade e a paz social burguesa na França. Os revolucionários devem ter uma política que tenda a unificar a luta desta juventude oprimida e a dos trabalhadores para barrar os ataques da burguesia francesa, como o atual ás aposentadorias, que permita ao proletariado recuperar sua forças para vencer em aliança com outros setores oprimidos da sociedade. Um pequeno exemplo disso foi nossa intervenção em Seine-Saint-Denis. Neste departamento, situado no norte da capital, que concentra as desigualdades mais importantes do território nacional, os estudantes do ensino médio entraram com tudo no movimento. Muitos piquetes foram de extrema violência. A vanguarda mobilizada que se reuniu no dia 20/10 em Assembléia para dar continuidade aos atos na terça-feira e na sexta-feira, adotou uma direção comum, chamando a unidade operária-estudantil contra o governo. Este é o caminho que devemos se seguir.

 

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