DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
A TV estatal egípcia mostrou imagens de mais de 2.000 manifestantes, que, pela primeira vez desde o início dos protestos contra o ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, empunham cartazes a favor da manutenção do regime.
Aos gritos de "Sim a Mubarak", "Estamos ao seu lado" e "Queremos você como presidente", os milhares de egípcios organizam-se a poucos metros da praça Tahrir, que há uma semana é campo dos maiores protestos contra o governo das últimas décadas.
O local deste protesto se encontra rodeado por militares, que foram encarregados de manter o controle nas ruas durante o toque de recolher decretado pelas autoridades, das 15h ás 8h no horário local (11h ás 4h de Brasília).
As fontes acrescentaram que os partidários de Mubarak preparam uma nova manifestação para terça-feira em resposta ã convocação pela oposição de uma passeata na qual esperam reunir um milhão de pessoas.
As autoridades egípcias ordenaram nesta segunda-feira o fechamento imediato das estradas que levam ao Cairo e do porto de Alexandria, no norte do país, além da suspensão dos serviços de trens em todo o território.
O primeiro sinal de apoio por parte da população ao regime de Mubarak ocorre apenas horas depois de o vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, chamar a oposição a um "diálogo imediato" e prometer reformas.
Em pronunciamento ã nação, Suleiman disse que o novo governo está disposto a iniciar um diálogo "imediato" com todos os partidos políticos, e que entre as mudanças que devem ser propostas estão reformas constitucionais e legislativas —demandadas pela oposição.
REFORMAS
Uma das principais críticas dos manifestantes, que diz respeito ás restrições das leis egípcias que limitam quem pode se candidatar ã Presidência do país, será contemplada pelas reformas, disse Suleiman. O Egito deve ter eleições presidenciais em Setembro.
"O presidente me pediu hoje para imediatamente fazer contatos com as forças políticas para começar um diálogo sobre todos os assuntos levantados [pelos manifestantes] que incluem reformas constitucionais e legislativas de tal forma que tenhamos como resultado claro as propostas de emendas e um prazo específico para sua implementação", disse ã TV estatal.
Vice-presidente do Egito Omar Suleiman chamou a oposição um diálogo "imediato" e prometeu reformas cruciais
O pronunciamento de Suleiman chega momentos após o Exército egípcio afirmar que não usará a força para conter o megaprotesto convocado pela oposição para a terça-feira.
Analistas afirmam, no entanto, que as propostas não devem ser suficientes para conter a ira dos manifestantes que já deixaram claro que os protestos não devem cessar até que o ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, deixe o país.
O saldo de mortos durante os sete dias de confrontos já está em 138, segundo a agência Reuters. Dada a situação caótica no país, no entanto, os números são desencontrados e não há dados oficiais confiáveis.
EXÉRCITO
As Forças Armadas do Egito divulgaram um comunicado nesta segunda-feira admitindo o direito dos manifestantes de reivindicarem suas demandas ao informarem que não usarão a força para conter os protestos, indica a agência estatal de notícias Mena.
De acordo com a Associated Press, no texto divulgado ã imprensa, o Exército reconhece "a legitimidade das exigências do povo", indicando que deve permanecer passivo frente ã grande manifestação convocada pela oposição para a terça-feira. Desde o início da crise este foi o sinal mais forte dado pelos militares indicando que devem apoiar os protestos.
O papel dos militares na crise política egípcia tem sido alvo de debates. Desde o início os soldados têm cumprido ordens de conter os protestos, primeiramente com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, embora em certos momentos tenham usado munição real.
Manifestantes sobem em tanque do Exército egípcio durante protestos na praça Tahrir, no centro do Cairo
De maneira geral, no entanto, o Exército tem sido passivo ao deixar que manifestantes colem cartazes nos tanques e em muitos momentos as tropas sinalizam que apoiam os protestos.
No sábado, Mubarak nomeou duas figuras ligadas ás Forças Armadas para ocupar os dois cargos mais importantes do governo abaixo do seu e formar um novo gabinete de ministros.
Omar Suleiman, ex-diretor dos serviços de inteligência, passou a ser o primeiro vice-presidente do Egito dos últimos 30 anos, e Ahmed Shafiq, ex-general e ministro da Aviação, ocupa agora o cargo de primeiro-ministro.
No domingo, ao lado de Suleiman, Mubarak reuniu-se com a alta cúpula do Exército egípcio no Centro de Operações das Forças Armadas, no Cairo.
Horas depois, diversos jatos de guerra sobrevoaram o centro da capital dando um sinal de que os militares se aproximavam das ordens do novo governo, buscando assustar os manifestantes. Os voos rasantes, contudo, não intimidaram os protestos.
ESTRANGEIROS
Nesta segunda-feira os esforços para retirar estrangeiros do Egito se intensificaram. Governos de vários países, companhias aéreas e agências de turismo trabalham em conjunto para retirar as pessoas que tentam deixar o país.
A embaixada dos EUA no Cairo disse que começou a retirar os cidadãos do país que desejem seguir para países na Europa. A secretária-assistente de Estado para assuntos consulares, Janice Jacobs, disse que cerca de 2.400 americanos pediram ajuda para deixar o Egito. Mais de 52 mil estão registrados junto ã embaixada no Cairo.
De acordo com um porta-voz da embaixada, citado pela mídia local, oito aviões devem deixar o Egito hoje levando cerca de 1.000 passageiros.
Pessoas aguardam em fila no Aeroporto Internacional do Cairo; estrangeiros tentam deixar o Egito
Companhias aéreas europeias —como a Lufthansa, a Austrian Airlines e a Air Berlin— dizem estar usando aeronaves maiores que as usadas geralmente no Egito, e concordaram em fazer voos adicionais, como pedido pelos ministérios de Relações Exteriores de vários países.
Autoridades da Turquia e do Chipre estão se preparando para receber turistas retirados do Egito, e ajudar a fazer com que cheguem rapidamente aos seus destinos finais. Três companhias chinesas — Chinese airlines, Air China e Hainan Air— prometeram enviar voos fretados para o Cairo para trazer cidadãos chineses para casa. Há ao menos 500 chineses retidos no Aeroporto Internacional do Cairo, de acordo com a Embaixada chinesa, que falou ã agência Reuters.
Pessoas se reúnem no aeroporto do Cairo; embaixadas tentam retirar cidadãos em meio aos protestos
Testemunhas relataram cenas de caos no aeroporto neste domingo, com um grande número de pessoas —entre elas cidaãos egípicos— tentando embarcar em voos cada vez mais lotados.
"O acesso ao aeroporto foi muito difícil. Em uma rota de cerca de 20 quilômetros, passamos por 19 postos de controle", disse um cidadão grego que conseguiu embarcar para Atenas ã rede NET TV.
Em 2009, cerca de 12,5 milhões de turistas visitaram o Egito, gerando uma renda de US$ 10,8 bilhões. O setor do turismo cria empregos no país e é responsável por 11% do PIB.
Tanque do Exército passa em frente ás pirâmides; polícia volta ás ruas da capital Cairo
NOVO GOVERNO
O ditador do Egito, Hosni Mubarak, apontou nessa segunda-feira novos ministros do Interior e das Finanças para integrar um governo designado para neutralizar os protestos antigoverno que são realizados no país desde a última terça-feira (25). No entanto, milhares de manifestantes reunidos no Cairo continuam pedindo que o presidente deixe o poder.
O general Mahmoud Wagdy, que anteriormente chefiava o departamento de investigações criminais do Cairo, foi apontado como o novo ministro do Interior, informaram fontes.
Já o ex-presidente da Instituição Central de Estatística, Gawdat al Malt, foi apontado como novo ministro das Finanças.
As nomeações ocorrem depois que o governo apresentou sua renúncia no último sábado (29), dia que Mubarak encarregou o general Ahmed Shafiq de formar um novo gabinete.
RENÚNCIA
Mas ainda não está claro se o novo gabinete e promessas de reforma serão suficientes para acalmar grupos de oposição e manifestantes que pedem a renúncia do presidente.
Mais de cem pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança em episódios que mudaram a imagem do Egito como sendo um país estável, com um mercado emergente promissor e um destino turístico atrativo.
Mubarak, um aliado próximo dos Estados Unidos, respondeu oferecendo reforma econômica para tentar enfrentar a raiva da população devido ás dificuldades.
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