Horas após o discurso do ditador egípcio Hosni Mubarak, em que afirmou que não concorrerá ã Presidência mas deve ficar no poder até as novas eleições, o presidente dos EUA, Barack Obama, comentou a crise e disse que "uma transição ordenada no Egito deve começar agora".
Em pronunciamento, Obama revelou ter conversado ao telefone com Mubarak após o discurso, salientando a necessidade das mudanças políticas que devem ser implementadas no Egito.
"Após o discurso, falei diretamente com Mubarak. Ele reconheceu que o status quo não se mantém e que uma mudança é necessária", afirmou.
"O que é claro, e que eu indiquei para o presidente Mubarak, é que o processo de transição deve ser ordenado, em direção ã democracia, e deve começar agora", disse.
O presidente americano destacou a atuação do Exército egípcio, por "ter permitido que os protestos ocorressem de forma pacífica".
Obama destacou ainda a importância das eleições no país. "Somente o povo egípcio pode escolher seu novo governo, nenhum outro país pode determinar seus governantes".
INFLUÊNCIA DOS EUA
Mais cedo, diplomatas americanos informaram sob condição de anonimato ao "The New York Times" que Obama teria pedido ao ditador do Egito para não concorrer nas próximas eleições presidenciais de setembro, tornando público a retirada do apoio de Washington ao regime.
A emissora de TV Al Arabiya, citando fontes não identificadas, antecipou a notícia de que Mubarak faria um discurso anunciando que ficaria de fora da disputa ã Presidência.
A informação chegou horas depois de o enviado especial dos EUA ao Egito, Frank G. Wisner, reunir-se com o ditador.
De acordo com a reportagem do "Times", diplomatas informaram que Wisner teria levado ao ditador egípcio a mensagem direta de Obama pedindo que ficasse ã margem do pleito de setembro.
O pedido não menciona uma renúncia imediata, diz o jornal.
Ainda de acordo com a reportagem do "Times", as informações repassadas pelos diplomatas não deixam claro como o governo americano pretende influenciar a política egípcia até que as eleições ocorram.
Washington ainda não indicou se favorecerá um governo interino composto por membros do atual regime —liderados pelo vice-presidente Omar Suleiman— ou se dará preferência a um governo de transição formado por novas forças políticas, provavelmente sob o comando do líder da oposição Mohamed ElBaradei.
CONTATOS
Em meio ao maior protesto registrado nos últimos oito dias nas ruas do Cairo o líder da oposição egípcia, Mohamed ElBaradei, conversou com Margaret Scobey, embaixadora dos EUA no país, e o secretário de Defesa americano, Robert Gates, falou com Hussein Tantawi, encarregado das Forças Armadas egípcias.
As conversas ocorrem "como parte de nosso esforço público para transmitir nosso apoio a uma transição ordenada no Egito, a embaixadora Scobey falou hoje com Mohamed ElBaradei", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, P.J. Crowley, em sua conta no Twitter.
Já o Pentágono esclareceu que os chefes da Defesa dos dois países conversaram ao telefone na manhã desta terça-feira.
O contato "é parte de um esforço em curso para manterem-se mutuamente atualizados sobre a situação", disse o porta-voz do Departamento da Defesa, o coronel Dave Lapan.
REAÇÃO NAS RUAS
Pouco após o ditador egípcio Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, afirmar que não concorrerá ã Presidência mas que comandará o país até que um novo governo seja eleito, os protestos no Cairo e em Alexandria ganharam novo fôlego e confrontos com munição real foram registrados. O líder da oposição, ElBaradei, classificou o anúncio como um "truque".
Embora inicialmente as declarações de Mubarak tenham sido comemoradas, a multidão logo mostrou-se enfurecida com o prospecto de que o ditador mantenha-se no poder até o resultado das novas eleições, por mais que ele tenha prometido antecipar o pleito marcado inicialmente para setembro.
Em Alexandria houve um confronto entre os manifestantes e grupos de apoio ao ditador na praça Mahatit Masr. Segundo a emissora Al Jazeera, com base no Qatar, jovens atiraram pedras e em resposta ouviram-se tiros de metralhadoras.
Assustados pela proximidade dos tanques do Exército, muitos se dispersaram e não houve relato de mortes.
Em reação ao pronunciamento de Mubarak, o líder oposicionistas ElBaradei falou ã CNN, classificando o anúncio como "um truque" para permanecer no poder.
O Prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica da ONU) disse ã emissora americana que preferiria que o ditador renunciasse imediatamente e instalasse um governo interino até que as novas eleições sejam realizadas.
A Irmandade Muçulmana, principal partido islà¢mico egípcio, também mostrou-se descontente. "Ninguém ficou satisfeito com suas palavras. Os protestos continuarão", declarou um porta-voz do grupo ao jornal "The Wall Street Journal".
No Cairo, manifestantes enfurecidos reagiram aos gritos de "onde está o Exército egípcio?", indica a emissora britânica BBC.
"A multidão aqui está furiosa e desapontada. Eles estavam esperando que o presidente Mubarak renunciasse hoje ã noite e estão chocados que ele não tenha feito isso. Eles continuam relutantes e vão ficar na praça até que suas vozes sejam ouvidas, afirmam", diz a repórter da emissora na praça Tahrir.
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