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Uma agenda imperialista com muitas pretensões e poucas ofertas
por : Eduardo Molina

28 Mar 2011 | A vinda do presidente estadounidense ã América Latina era aguardada com grandes expectativas em todos os meios burgueses da região, pois se especulava com grandes anúncios para relançar as relações hemisféricas.
Uma agenda imperialista com muitas pretensões e poucas ofertas

A vinda do presidente estadounidense ã América Latina era aguardada com grandes expectativas em todos os meios burgueses da região, pois se especulava com grandes anúncios para relançar as relações hemisféricas. No entanto, o desencantamento foi crescendo em cada uma das escalas – Brasil, Chile e El Salvador-. “Muito ruído pra nada”, reconheceram os analistas burgueses e no fim das contas o gesto mais claro e contundente no giro do democrata “Nobel da paz” foi a ordem de bombardear a Líbia enquanto Obama se distraia do protocolo oficial em Brasília. Nada poderia desmascarar melhor o conteúdo da retórica melosa de “direitos humanos, democracia, cooperação, livre comércio” com que envolveu a apresentação da agenda de interesses econômicos e políticos dos EUA que o visitante imperialista veio expor.

Obama no Brasil

Em sua parada brasileira, Obama e família foram recebidos pelo governo petista em grande estilo, apelando até aos ex-presidentes para mostrar que a aspiração do Brasil a um papel de ator reconhecido nos assuntos internacionais não é um capricho petista, mas uma “política de Estado”. Lula teve a tentação de desculpar-se de somente assistir para não ofuscar a nova presidenta nem recordar a rachadura das relações bilaterais no final de seu mandato (já que acabou tendo vários esbarrões com o governo de Obama, desde o golpe em Honduras até o veto norte-americano ã mediação com o Irã). No entanto, nada disso comoveu Obama, que se esquivou de dar qualquer apoio ã demanda de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU (como prometeu ã Índia, em visita recente), apresentou uma “associação” entre “as duas maiores democracias do hemisfério” mas sem se referir de maneira concreta à liderança brasileira nem descrever sua política latino-americana (o que deixou mais claras as diferenças entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto em temas como Honduras e Cuba, as bases na Colômbia, as relações com Chávez e Cuba, o papel da Unasul ou a “segurança” estratégica do Amazonas).

O chamado a trabalhar em conjunto como sócios não esconde que a pretensão de Obama é subordinar mais estreitamente a diplomacia do Itamaraty aos interesses da política mundial norte-americana, mostrando mais uma vez que considera o Brasil como um país de peso regional, mas não como potência global.

Mais ainda, sendo que Brasília se absteve na resolução da ONU, Obama deu a ordem de iniciar os bombardeios aeronavais sobre Trípoli em plena cerimônia oficial.

Dilma teve que engolir esses e outros sapos, ficando exposta a submissão de seu governo aos Estados Unidos, inclusive em gestos como o da segurança ianque ter submetido ministros do governo brasileiro a revistas humilhantes em seu próprio país. Outro sinal que sugere que de forma alguma as declarações de “igualdade” dever ser levadas ao pé da letra.

O discurso em Santiago

Foi a segunda parada escolhida por Obama para enunciar sua política para a América Latina, em um gesto calculado para contrapor o “modelo chileno” de economia aberta, democracia neoliberal e alienação imperialista à liderança regional brasileira e aos governos “populistas”.

Obama declarou, usando o antecedente da Aliança para o Progresso, que “hoje em dia, no continente americano, não há sócios principais nem sócios secundários; há sócios com igualdade de condições. Mas as sociedades equitativas, por sua vez, exigem um sentido de responsabilidade compartilhada. Temos obrigações recíprocas, e hoje em dia, os Estados Unidos trabalham com países neste hemisfério para cumprir com nossas responsabilidades em verias esferas importantes”.

Isso significa a exigência de que os países da região aceitem a agenda que os Estados Unidos querem impor para os mais diversos temas: as políticas policiais mais repressivas e com maior ingerência ianque em temas como o narcotráfico, as migrações, etc; o apego ao regime de democracia em termos neoliberais; a respeito dos investimentos estrangeiros e do “livre comércio”, entre outros.

Uma mostra disso é que os EUA nem sequer aceitaram comprometer a aprovação dos TLC com a Colômbia e o Peru, nem a ampliação do acordo com o Chile, decepcionando os neoliberais locais. Reiterando sua política de impor “abertura democrática” em Cuba, louvando seus agentes mais alienados, os regimes de países como México ou Colômbia e antes de tudo, o do próprio Chile, como exemplo a seguir. A fraseologia sobre Direitos humanos não lhe impediu de reconhecer o papel dos EUA no golpe de 1973, nem o dissuadiu de saudar a “transição ã democracia” sob a Constituição pinochetista e com impunidade para os crimes da ditadura.

Em El Salvador

Aqui, Obama, apressado – como ao longo de toda sua viagem,- pelos problemas domésticos e as operações na Líbia, encurtou a visita, deixando apenas exposta sua política de migrações (sem acordar com as preocupações locais pela situação de milhões de emigrantes, muitos dos quais, ilegais) e segurança para o México e América Central, ou seja, maior ingerência da Justiça, do FBI e dos serviços ianques em temas como o narcotráfico, as “maras” e as políticas repressivas em geral, e nenhum compromisso sobre as responsabilidades norte-americanas em uma “guerra” que pretende levar a cabo fora de seu território e como desculpa para uma maior penetração semi-colonial.

Como conclusão, a visita deixou poucos resultados e decepcionou muitos políticos e analistas burgueses que esperavam um programa mais concreto e favorável. “A visita de Obama acabou parecendo uma dessas superproduções falidas de Hollywood que- em que pese uma impressionante entrada em cena-apesar do imenso gasto técnico, dos portentosos preparativos e do elenco destacado, liderado por um ator popular com um desempenho prévio histórico, simplesmente não cativam o público” ironizou o jornal chileno La Tercera.

“Aliança para o Progresso”… dos interesses imperialistas

Contudo, Obama mostrou bastante claramente quais finalidades guiam o imperialismo em sua tentativa de recuperar influência econômica e política sobre a América Latina, fundamento da ofensiva que vem realizando desde o golpe em Honduras. Mas mostrou também as debilidades e contradições dessa tentativa, num marco geral de crise capitalista internacional e declinação da hegemonia imperialista norte-americana. Isso se expressou no fato de não ter conseguido acompanhar a agenda econômica e política que propôs com propostas concretas para “entusiasmar” as classes dominantes locais.

O que queremos dizer fica ilustrado na especulação falida, feita por vários analistas, de que Obama anunciaria uma espécie de nova “Aliança para o progresso” para recolocar as relações entre os EUA e a América Latina. Essa foi formulada por John Kennedy em 1963, como resposta ao triunfo da revolução cubana e ao crescente sentimento antiimperialista no subcontinente. Então, os EUA, estavam no zênite de seu poder econômico, político e militar e os monopólios ianques avançavam profundamente e quase sem rivais na semi-colonização das economias locais. Podia então, ditar condições, oferecer apoio quantitativo em “ajuda” e alinhar as burguesias locais a seu lado na “Guerra Fria”, assim como encobrir a preparação de golpes de Estado e operações “contra-insurgentes”. As condições atuais são muito distintas e não é causal que para além da alusão à quela “Aliança”, não tenha podido formular um programa comparável.

No entanto, em Washington se vê com preocupação o debilitamento de sua influência política e peso econômico sobre a América Latina, especialmente a América do Sul, patente na última década, na qual cresceram as margens de manobra das semi-colônias latino-americanas no calor do crescimento econômico e das relações de força sociais que possibilitaram o ascenso de governos traços centro-esquerdista e nacionalista. A América latina representa um quinto do mercado exterior dos EUA e, frente a crise capitalista internacional e as dificuldades da economia norte-americana, adquire importância como área de crescimento, produtora de matérias primas, reservatório de mão-de-obra barata e mercado. Atualmente, os EUA buscam aumentar suas exportações industriais e aproveitar o peso decisivo que suas corporações tem em áreas como o agronegócio, as exportações de alimentos e matérias-primas ou a industria automotiva e manufatureira local, fazendo frente ã concorrência das transnacionais européias ou asiáticas. Também pretende conter e desgastar o nacionalismo representado por Chávez e seus aliados da ALBA e forçar um realinhamento dos países da região em torno da política imperialista em aspectos decisivos (por exemplo, frente ao Irã, a Líbia e outros pontos candentes). E, na mesma região, em torno da aceitação dos temas chave para Washington como são a migração (há cerca de 45 milhões de pessoas de origem “latina’ nos EUA) e a “guerra contra o narcotráfico” segundo os parâmetros norte-americanos. A serviço dessa ofensiva, sustentou o regime golpista em Honduras e vem fortalecendo o dispositivo militar (IV Frota, facilidades aéreas e militares na Colômbia e outros países, exercícios conjuntos, etc.), coisa que não foi citada na visita.

Ficam bastante claras as finalidades, e também as debilidades e contradições nos meios de comunicação e a situação do imperialismo norte-americano para impô-las. As lamentações burguesas pela falta de uma “visão estratégica para a região” tem a ver com o fato dos EUA, enfrentando a crise e o declínio de sua hegemonia mundial, as prioridades estão em outras regiões do globo onde concentra esforços, como são a Ásia oriental onde busca conter a China, Europa e zonas chave do “Grande Oriente Médio”, enquanto está metido até o pescoço no Iraque e no Afeganistão e intervindo agora contra a “primavera dos povos árabes” com uma mescla de contra-revolução democrática, sustenta o estado de Israel e as ditaduras e monarquias aliadas como na Arábia Saudita, Barein ou Iêmen e intervenção na Líbia. É pouco o que pode oferecer para “seduzir” as classes dominantes latino-americanas, em que pese que essas se distinguem por seu entreguismo.

Servilismo progressista

As correntes “progressitas”, as direções sindicais e boa parte da esquerda deixaram claro seu abandono das mais elementares bandeiras antiimperialistas e não impulsionaram nenhuma campanha de denúncia e repúdio ã visita do chefe imperialista nem a suas ações contra a “primavera dos povos árabes” como o bombardeio aeronaval ã Líbia.

Em Brasília, a CUT e o PT se alinharam atrás da política de boa anfitriã de Dilma e engoliram todos os sapos com ela. No Chile, como explicam os companheiros do PTR, o PC e a CUT via seu seguidismo ã Concertación se disciplinaram ao regime que preparou uma grande recepção para Obama. Em El Salvador, o FMLN com o presidente Mauricio Funes ã frente, estendeu o tapete vermelho para o visitante. Isso permitiu que Obama pudesse voltar aos EUA salvando as aparências, como uma figura “popular” na região, depois do “beija-mãos” das elites nos países que visitou.

No entanto, a ameaça que a agenda imperialista enunciada por Obama representa para os povos latino-americanos está clara. Mais do que nunca, adquire importância a luta pela expulsão do imperialismo como chave da libertação nacional e social do continente. Não é com a política claudicante dos progressitas, “nacionais e populares” e reformistas que se enfrenta o imperialismo. Somente os trabalhadores, com seus métodos e seu programa, podem tomar em suas mãos e levar até o final a luta antiimperialista em escala continental, assentando com a mobilização revolucionária as bases da unidade econômica e política do continente em uma Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina.

Sob esta convicção, nossos companheiros do Brasil e do Chile realizaram diversas atividades e intervieram em ações com outras forças de esquerda, levantando as consignas de “Fora Obama” e nosso programa de apoio ã rebelião das massas árabes, rechaço aos bombardeios imperialistas na Líbia e pela derrubada revolucionária de Kadafi.

 

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