1- Para os que lutamos pela revolução operária e socialista, a participação nas eleições e a eventual utilização da tribuna parlamentar (se elegem deputados) serve se permite desmascarar frente ás massas as falsas promessas das distintas opções da burguesia, e incentivar a confiança na ação extra- parlamentar e na auto organização operária e popular, com a perspectiva estratégica de um governo dos trabalhadores e a expropriação dos expropriadores, única forma de terminar com a exploração e opressão. É uma tática (termo que provém da linguagem militar: preparar e conduzir operações ou batalhas isoladas, segundo Clausewitz [1]) em função da estratégia (articulação das batalhas para conseguir impor nosso objetivo político ao inimigo, quebrando sua vontade de resistência, “desarmando-o”) antes mencionada, para o qual é uma ferramenta insubstituível um partido revolucionário e internacionalista que agrupe a vanguarda operária e a juventude e intelectualidade revolucionária. Os objetivos de cada operação isolada dependem não só dos fins estratégicos, mas das condições particulares nas quais se desenvolvem.
2- A clara defesa da independência política dos trabalhadores e de um programa de luta tendendo ao governo dos trabalhadores e ao socialismo, e as referências ideológicas com o marxismo revolucionário anti-stalinista e anti-socialdemocrata (“trotskista”) dos partidos que integramos a Frente de Esquerda, abrem uma possibilidade inédita no país desde a queda da última ditadura: conseguir que uma parcela da classe operária e da juventude combativa se assuma como parte da esquerda classista em clara ruptura com o oficialismo kirchnerista/peronista, a oposição patronal e a centro-esquerda conciliadora com o grande capital. A experiência do MAS [2] nos anos 80 diluiu o apoio que recorria Luis Zamora em amplos setores operários e juvenis, nas alianças frente-populistas com o Partido Comunista, primeiro na Frente do Povo (em 85) e logo na Esquerda Unida (desde 89 até a explosão do velho MAS). Houve milhares de operários e estudantes que se reivindicavam de esquerda, mas diante uma estratégia frente-populista e eleitoralista. Hoje só ficaram pequenos restos daquela esquerda referenciada com o PC, reformista conciliadora, desmoralizados pela série interminável de derrotas que vão desde o desaparecimento de Moscou há 20 anos até a recente abafada divisão da CTA. Uns estão cooptados pelo governo (o próprio PC, a CTA-Yasky [3] ) e outros pela centro-esquerda pró patronal (CTA-Micheli [4] e demais aliados – via Projeto Sul [5] – dos sojeiros Binner e Juez [6] , arrastando os restos do MST e o PCR/CCC). Neste marco de decadência da esquerda reformista, a necessidade de quebrar a proscrição do novo regime eleitoral levou ao Partido Operário (PO) a aceitar ser parte da Frente de Esquerda que havíamos convocado (e conformado com as organizações que estiveram de acordo) nas duas eleições anteriores, surgindo assim um acordo eleitoral em base a um programa principista que aglutina toda a esquerda classista de alcance nacional, incorporando os dirigentes independentes da histórica gestão de Zanon e do sindicato ceramista, o mais avançado politicamente do país.
3– A situação política nacional não é a melhor para os trabalhadores: a grande burguesia ainda está aproveitando o crescimento econômico, que lhes permite algumas concessões econômicas menores nas paritárias e que o governo instrumentalize o festival de subsídios e uma rede de assistência estatal que garante a paz social, ainda que o kirchnerismo conseguiu uma série de iniciativas políticas (incluindo o último “aporte a causa” de NK [7], não desejado certamente) se impor a oposição que o havia derrotado em 2009, e aparecer agora como “ganhador” aglutinando a todas as alas do PJ (com a grande burguesia apostando em seu interior, com Utubey, Scioli, Massa, De la Sota, Schiaretti, etc.). Sabemos que cedo ou tarde os bons ventos da economia terminarão (se vemos que Grécia ou Espanha se parecem cada vez mais com a Argentina de 2001, dá pra pensar que pode ser imediato). Inclusive ainda que siga o crescimento econômico, as próprias contradições do regime e do governo podem levar, no segundo mandato de CFK [8] , a crises políticas e choques da luta de classes (como lhes antecipam os acontecimentos de Bolívia, aonde a ultra-oficialista direção da COB [9] teve que fazer uma greve geral a “seu” governo de Evo Morales sem mediar uma recessão econômica).
A própria CFK busca adiantar-se a esses acontecimentos e aproveitar o certo conformismo que impera nas grandes massas trabalhadoras (que com razão querem consumir o máximo que podem porque historicamente estes momentos duram pouco) para tentar impor um clima reacionário de condenação ã “ação direta” (greves, bloqueios de estradas, etc.). A Justiça interpreta este discurso incentivando os processos judiciais aos delegados e dirigentes combativos. Mas os petroleiros de Santa Cruz não se amedrontaram, pararam até conseguir suas reivindicações e destituíram a burocracia cúmplice, fazendo retroceder o governo. Alguns patrões, com a cumplicidade da burocracia, tratam de exercer seu “direito de propriedade” ditatorial nas fábricas despedindo os ativistas que detectam, sobretudo quando estão desorganizados. Mas assim que pretendem “ir para além” e atacar um ativismo organizado, se encontram com a parede de luta operária, como vimos na gráfica Donnelley.
4– Se a relação de forças geral impõe uma atitude defensiva frente ao governo e as patronais na luta de classes, vale a pena voltar a Clausewitz para lembrar que defesa e ataque, embora são formas da guerra que têm características específicas diferenciadas, são termos relativos, já que a defesa absoluta (ou passiva) implica o fim da guerra, pois um lado deixa de apresentar resistência. Então, toda defesa deve ser ativa, conter aspectos de ataque, até que estejam dadas as condições de passar a ofensiva generalizada.
A politização massiva que implicam as eleições gerais, o endireitamento do governo, a debilidade da oposição patronal e de centro-esquerda, e a novidade da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, permitem uma atitude ofensiva no terreno da luta política para conquistar em cada fábrica, empresa, bairro, escola ou faculdade, uma parcela de trabalhadores e estudantes que nos apóiem e ajudem a superar o teto prescritivo nas primárias de agosto e, se conseguimos, sejam parte em outubro da campanha da esquerda operária e socialista.
5– A burocracia sindical dá conta de seu enorme desprestígio, procurando criar alas ou reposições “progressistas” (como a que encarna Facundo Moyano [10] , apesar de carregar a máfia/patota/Triple A que leva seu nome, de acordo com ‘La Cámpora’ e o Movimento Evita) que tenta dialogar com milhões de operários e trabalhadores jovens que rechaça, ao “sindicalismo tradicional” peronista (não por coincidência decidiram chamar a sua formação “Juventude Sindical” a secas). Aparecem assim companheiros nas fábricas e empresas que honestamente (retirando os acomodados ninhos de burocratas) defendem ao governo “contra a direita” sem ver que Cristina está fazendo todo possível para colocar mais setores de direita em seu próprio governo e na sua chapa eleitoral.
Nos deparamos assim com uma disputa política que enfrenta os delegados e comissões internas combativas, referenciados na Frente de Esquerda, diretamente com o kirchnerismo. Na indústria e nos grandes serviços (ferroviários, aeronáuticos ou coletivos, por exemplo) não têm representantes da centro-esquerda sojeira ou o sabatellismo. Talvez os únicos sindicatos onde estejam as correntes seja o dos docentes, do metrô e um pouco em estatais.
No movimento estudantil universitário e secundarista, com Sabatella suspenso dos K, Solanas procurando descolar-se de Binner e uma ampla simpatia para a FET [11]], se torna insustentável para o amplo intervalo de correntes que se reivindicam da “esquerda independente” (Mella, FPDS, ec.) sua habitual indefinição política nacional.
As organizações operárias e estudantis que se reivindicam “democráticas”, e claro as consideradas de esquerda, uma tarefa básica é exigir a seus dirigentes que organizem e impulsionem o debate político antes das eleições, com mesas redondas o ciclos de debates onde participem todos os partidos, e que assumam uma posição de repúdio explícito a tentativa de prescrição da esquerda. Sobre esta base desenvolveremos a campanha de apoio a FET.
6– O novo número do periódico operário ‘Nossa Luta‘, impulsionado pela ala classista do sindicalismo de base, com seus dirigentes e militantes de Zanon, Stefani e outros ceramistas; de Kraft, Pepsico, Stani e outras alimentícias; do Metrô, UTA e ferroviários; de Donnelley e outras gráficas, de Alicorp (ex Sabão Federal) e outras indústrias de sabão; metalúrgicos, metalmecânicos, docentes, estatais, da saúde, papeleiros, aeronáuticos, telefônicos e tantos outros, é uma grande ferramenta político-sindical para impulsionar de forma ampla esta luta. Muitos de seus dirigentes serão candidatos da FET em distintas províncias. O objetivo do jornal é que os trabalhadores que são partes das agrupações que o impulsionam, que são centenas nos setores mencionados, o tomem em suas mãos como instrumento militante, para chegar a outros trabalhadores, amigos e familiares, desenvolvendo uma extensa rede política que debata não só as experiências de luta e organização operária em todo o país, mas que também organize o apoio a FET, combatendo as pressões a restringir a atividade somente aos problemas sindicais. Já o número anterior do fim de março foi tomado com entusiasmo por muitos companheiros e companheiras, mas foi só um primeiro passo na difícil batalha pra gerar uma militância política consciente nas novas gerações operárias. Os militantes do PTS colocamos todas nossas forças a serviço de estender a distribuição do ‘Nossa Luta’ e aprofundar a organização desta corrente político-sindical que construímos junto com companheiros e companheiras independentes, uma vez que organizamos o trabalho com nosso jornal partidário, ‘A Verdade Operária‘, que desenvolve aspectos da luta política e ideológica de maneira diretamente partidária e quarta-internacionalista, como o objetivo de construir o próprio PTS com novos militantes e simpatizantes.
Por sua vez, a Juventude do PTS acaba de publicar o Manifesto votado na Conferência Nacional que se realizou no final de março com mais de 1.000 companheiros e companheiras de todo o país, que aborda os aspectos programáticos do novo projeto político impulsionado. Já estão impulsionando em todo o país, além de assumir como próprio no movimento operário o projeto de ‘Nossa Luta’ e impulsionar as lutas e campanhas específicas juvenis, a formação de comitês de base da FET em conjunto com as outras correntes que integram a Frente. Nas universidades e colégios a luta política com o kirchnerismo e o regime eleitoral prescritivo está começando a golpear, e são amplos os setores “progressistas” que vêm com simpatia a FET e repudiam a tentativa de prescrição da esquerda que impõe o sistema de internas abertas com teto. A rápida e ampla adesão ã declaração de intelectuais, docentes e personalidades da cultura de apoio a FET, é uma expressão da campanha iniciada.
Claro que um posicionamento eleitoral é só uma expressão elementar de consciência política, mas como “contagem global de forças” (Engels) - pode indicar se a esquerda classista ganha terreno na vanguarda operária e jovem. Conquistar esta “porção de território do inimigo” é o desafio que nos propomos nestes meses. Isto não “suspende”, pelo contrário pressupõe, a clarificação fraternal das diferenças de programa e prática política (um aspecto essencial da estratégia, é dizer, como levar adiante a luta pelo programa) entre os integrantes da FET, sem que isto se constitua num obstáculo para dar a batalha em comum contra o governo, a oposição patronal e a centro-esquerda.
[1] Carl Von Clausewitz (1780-1831): general prussiano e teórico militar cuja principal obra (Da Guerra) foi referência inevitável não só para o “arte da guerra” mas também para a política em geral, e a revolucionária em particular.É o autor da famosa “fórmula”: “a guerra é a mera continuação da política por outros meios”.
[2] MAS (Movimento ao Socialismo) - Partido morenista a partir do qual rompe uma das tendencias nos fins dos anos 80 pouco antes da sua explosão, que daria origem ao PTS (Partido dos Trabalhadores pelo Socialismo - organização irmã da LER-QI na Argentina). (Nota do Tradutor)
[3] Hugo Yasky, Secretário Geral da CTA (Central de Trabalhadores da Argentina). (Nota do Tradutor)
[4] Pablo Micheli, presidente da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) que compõe a CTA. (Nota do Tradutor)
[5] ‘Projeto Sul’ - Projeto centro-esquerdista burguês, expresso em uma frente eleitoral que defende a construção de uma nova centro-esquerda, encabeçado pelo cineasta Pino Solanos, que para nós chama a novas frustrações e não dá respostas aos problemas dos trabalhadores e da nação oprimida. Projeto do qual o MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores) Argentino faz parte (Corrente ligado ao MÊS, tendência interna do PSOL cuja principal figura é a ex-deputada federal Luciana Genro) e PCR/CCC (Partido Comunista Revolucionário e Corrente Classista e Combativa, organizações maoístas). (Nota do Tradutor)
[6] Hermes Binner (Governador de Santa Fé) e o Luis Juez (Senador), ambos representantes de um setor da burguesia oligárquica sojeira. (Nota do Tradutor)
[7] NK - Nestor Kirchner, ex-presidente da Argentina. (Nota do Tradutor)
[8] Cristina Fernández de Kirchner - Presidente da Argentina. (Nota do Tradutor)
[9] Central Operária Boliviana - COB. (Nota do Tradutor)
[10] Presidente da Juventude Sindical e filho de Hugo Moyano - um líder sindical argentino, atualmente secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho na Argentina (CGT) e 1° vice presidente do Partido Justicialista da Província de Buenos Aires. (Nota do Tradutor)
[11] Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, composta pelo Partido dos Trabalhadores Socialistas(PTS), Partido Obrero(PO) e Izquierda Socialista(IS). Além deles, ainda compõe a Frente uma série de outras organizações menores, entre elas, a sessão Argentina da LIT, organização-irmã do PSTU brasileiro. (Nota do Tradutor)
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