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Uma nova “Sexta-feira da Ira” em Tahrir
por : Celeste Murillo

19 Jul 2011 | “Nossa revolução continua”, esta foi uma das principais consignas da última “sexta-feira da ira” no dia 8/7 que convocou centenas de milhares de pessoas em Tahrir para exigir que se acelerem os processos contra Mubarak...

“Nossa revolução continua”, esta foi uma das principais consignas da última “sexta-feira da ira” no dia 8/7, que convocou centenas de milhares de pessoas em Tahrir para exigir que se acelerem os processos contra Mubarak e seus funcionários, especialmente os policiais acusados pela morte de mais de 1000 manifestantes durante o levante de janeiro-fevereiro 2011.

Há meses, cresce a impaciência frente ao governo militar que não cumpriu muitas de suas promessas e, pelo contrário, manteve em vigência o estado de emergência que restringe as liberdades democráticas e promulgou novas leis e decretos reacionários, como a lei anti-greves que proíbe qualquer ação operária que obstaculize a economia.

Logo após a massiva mobilização de 8/7 e os contínuos protestos em Alexandria e Suez contra a polícia, o Governo Supremo deveu dar algumas “concessões” com respeito aos processos. No entanto, muitas organizações denunciaram ao mesmo tempo dos anúncios que só se tratavam de promessas para desativar os protestos.

O clima de descontentamento em Suez se vê potencializado ademais pela longa luta dos trabalhadores das empresas subsidiárias do Canal de Suez, que exigem iguais condições salariais e trabalhistas que seus companheiros empregados no Canal. Durante o fim de semana o Exército dispersou bloqueios próximos ao Canal disparando tiros para o alto e reprimindo os piquetes de trabalhadores. A greve de Suez preocupa não somente o Conselho Supremo das Forças Armadas, já que representa um cruzamento estratégico para o petróleo e qualquer interrupção geraria perdas milionárias. O Canal representa um dos principais ingressos do país: somente em maio 2011 arrecadou 436.600 bilhões de dólares. Por isso o Governo acedeu ã intervenção do Exército, uma instituição que tenta preservar e evita que participe na repressão dos protestos. A esta situação se soma o questionamento ã venda de gás a Israel e os recentes ataques ao gasoduto que conduz o produto a este país (o último aconteceu na segunda-feira, 11/7). Por sua vez, a luta do povo palestino ganha cada vez mais simpatia entre a juventude e o povo do Egito, e a exigência do fim das relações com o Estado de Israel ganha crescente eco nas manifestações.

A greve em Suez e a repressão do Exército despertou a solidariedade dos jovens que acampavam em Tahrir desde a sexta-feira, uma união que simboliza a aliança operário-popular que motorizou os protestos de janeiro-fevereiro e ao mesmo tempo destaca os dois setores que estão na vanguarda no enfrentamento ao governo de transição. São cada vez mais os setores que criticam o governo por sua dura política repressiva contra os ativistas e trabalhadores em greve e sua lentidão em julgar os políticos corruptos e a polícia.

Questionamento ã “transição democrática”

O atraso em responder ás expectativas democráticas e sociais e a repressão aos setores de vanguarda voltam a questionar a própria “transição (cada vez menos) democrática” liderada pelo Conselho Supremo das Forças Armadas. A repressão aos familiares das vítimas dos protestos contra Mubarak serviu como disparador do descontentamento existente em diversos setores, especialmente jovens, estudantes e trabalhadores. O crescente descontentamento se filtra inclusive nas organizações como a Fraternidade Muçulmana, que apesar de seu papel como garantidor da estabilidade da transição e sua defesa da ordem estabelecida, e ainda que adiantasse que não se somaria ã “sexta-feira da ira”, teve que participar na última hora por conta da massiva convocatória.

Na terça-feira, 12/7, marcharam a Tahrir, cantando consignas contra o Conselho Supremo das Forças Armadas; houve setores que inclusive começaram a cantar “Que se vá Tantawi!” (Mohamed Hussein Tantawi, presidente interino). O momento atual mostra dois aspectos contraditórios do processo revolucionário em curso. Por um lado, deixa a descoberto os limites das jornadas de janeiro-fevereiro que não chegaram a desarticular uma instituição chave do Estado como são as Forças Armadas, que, ao contrário, situou-se ã frente da transição “democrática”. Por outro lado, novas manifestações e a continuidade dos protestos mostram que o processo, cujo ponto alto foi a queda de Mubarak, continua aberto e as demandas que o motorizaram seguem mais vigentes que nunca, gerando uma grande instabilidade no governo de “transição”.

Uma vez mais milhares exigem o fim do estado de emergência, julgamento e punição aos responsáveis pela repressão e o respeito ás liberdades básicas como o direito de greve, hoje restrito por leis anti-democráticas. Assim como os trabalhadores foram protagonistas das jornadas que culminaram na queda do ditador Mubarak, voltam a ser aqueles que, em aliança com a juventude e o povo pobre, podem enfrentar a armadilha da transição “democrática”, das eleições e da continuidade do regime sem Mubarak.

Tradução por André Augusto

13 DE JULIO DE 2011

 

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