“Fantástico, estudantes chilenos estiveram aqui dentro do IFCH”, se referia um estudante ã videoconferência que se realizou na Unicamp na última quinta-feira (18/08) : dois estudantes e um jovem professor, todos do Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR) e ativistas orgânicos dos processos de mobilização que vem envolvendo centenas de milhares de estudantes, puderam compartilhar com algumas dezenas de estudantes da Unicamp a rica experiência no processo chileno.
Numa conjuntura internacional em que vemos diversos processos revolucionários explodindo no mundo árabe, mobilizações massivas na Europa - como as greves gerais da Grécia, os indignados na Espanha, as lutas contra as reformas de Sarkozy na França e, mais recentemente, as explosões na periferia da Inglaterra –, as mobilizações que vemos no Chile são primeiras expressões do potencial reservado da força da juventude e dos trabalhadores na América Latina.
Assim, na teleconferência, os companheiros chilenos puderam colocar uma reflexão sobre algumas raízes dessas mobilizações em sua particularidade : num país em que a educação sofreu um ataque bastante concentrado, advindo dos anos duros de privatizações de Pinochet e da falácia da transição democrática - chegando ao cúmulo de ditador “deposto” se transformar em senador vitalício-, manteve-se castas burocráticas nas universidades e burgueses especulando através dos negócios privados da educação. Desse modo, a crise aberta no regime chileno, especialmente com o governo de direita de Piñera do Renovación (que, igualmente como anteriormente a frente Concertación, tem aprofundado os ataques), expressa uma situação limite na qual a juventude chilena quer dar um basta, colocando a plataforma da educação gratuita não como o ponto de chegada, mas como uma condição fundamental para questionar mais de fundo todo um sistema político que só tem levado a ataques ã juventude e trabalhadores de conjunto.
A questão do Chile também possibilita uma reflexão importante no sentido da falsa estabilidade, propagandeada aos quatro ventos pelos governantes, que as semi-colonias latino-americanas pareciam ter adquirido. Chile e Brasil eram tidos na América Latina como os países mais estáveis, onde o Chile era apontado, pelas relações bilaterais com o imperialismo (marca do governo “socialista” anterior de Bachelet) como um “exemplo” neoliberal na região. Nesse sentido, abrimos uma reflexão na videoconferência de como a estabilidade aparente da situação política brasileira pode sofrer mudanças bruscas, como tem ocorrido no Chile em que, desde Pinochet, não se via mobilizações de massas nas ruas como as que estão ocorrendo agora com centenas de milhares.
Do ponto de vista da conjuntura nacional e os ataques que temos visto no último período, vem se implementando um projeto acelerado de privatizações para o ensino superior no Brasil, com os governos financiando os lucros empresarias através de universidade pagas e precarizadas (fundamentalmente através do PROUNI) ; nesse sentido, as lições do processo chileno também contribuem para aprofundarmos a discussão de educação na conjuntura nacional, possibilitando campanhas que discutam mais profundamente que projeto de educação e de universidade a juventude deve reivindicar.
Para nós do ANEL ás Ruas esse processo passa por combater ferrenhamente esse plano de privatização, lutando por uma universidade aberta e a serviço dos trabalhadores (sem o filtro social do vestibular) e pela estatização dos monopólios privados da educação. O “Brasil potencia” mostra seus pés de barro em sua debilidade estrutural educacional, e a juventude tem que, como nas mobilizações chilenas, extrapolar o debate corporativo de educação, questionando os projetos do governo que vinculam a educação com a formação de força de trabalho precarizada, a serviço da hiperexploração via terceirizações e demais formas que vem mantendo os trabalhadores e a juventude em condições de vida degradantes, facilitando a extração de altos lucros para as multinacionais e o imperialismo.
Assim, a videoconferência propiciou ricos elementos para pensarmos nossa situação nacional e as contradições colocadas na falsa estabilidade do “Brasil potencia”, trazendo num outro sentido experiências fundamentais para avançarmos num movimento estudantil realmente internacionalista, que crie solidariedade orgânica com os processos internacionais e, ao mesmo tempo, aprenda e tire lições desses processos, forjando uma juventude revolucionária.
Festa em apoio ás mobilizações
No mesmo dia, como um “desdobramento” da teleconferência, os estudantes do bloco ANEL ás Ruas também impulsionamos uma festa temática em solidariedade aos processos internacionais, particularmente a Inglaterra e no Chile. Com iniciativas artísticas, os estudantes decoraram a festa com diversas frases, faixas e fotos dos processos em vigência, inclusive um telào projetava durante toda a festa fotos e vídeos das mobilizações internacionais.
A festa também contou com participação especial da banda “As Papoulas”, que deram o tom musical imprimindo o ânimo para uma festa diferente do tradicionalismo conservador que é imposto ã juventude, subvertendo a lógica da indústria cultural que com todas as pressões conservadoras mantém a arte refém da escória cultural burguesa.
Com isso, o bloco ANEL ás Ruas buscou fazer da festa e socialização um espaço dos estudantes que questione e aponte uma outra perspectiva para juventude, inspirada na “indignação” expressa no cenário internacional e que busque forjar uma novo espírito e nova subjetividade, em consonância aos novos tempos que se avizinham num marco de crise internacional capitalista, processos revolucionários e mobilizações em todo mundo.
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