APÓS A BRUTAL REPRESSÃO DE EVO MORALES AOS INDÍGENAS DO TIPNIS
No dia 25/9 após a brutal repressão do MAS contra a VIII marcha indígena, se abriu uma importante crise política. Renunciaram a Ministra da Defesa, o Ministro de Governo, e dois vice-ministros, e a demissão de vários quadros médios do governo. Televisionada por alguns canais, vimos a prisão de centenas de indígenas, feridos, amordaçados, separando de forma criminosa os filhos das suas famílias. Imediatamente, nas principais cidades do país se generalizaram as vigílias em apoio a TIPNIS (Território Indígena Parque Nacional Isiboro Secure, onde vivem três povos originários, Chimanes, Yuracares e Moseten), se produziu um bloqueio mobilizado em San Borja que obrigou a polícia a retroceder com centenas de detidos após reconduzidos a Rurrenabaque onde aviões da força aérea os levariam a Trinidad. Porém, se produziu uma revolta popular que terminou com a fuga da polícia e a libertação de quase 300 indígenas que foram atendidos pela população na praça principal do povo. O povo de Rurrenabaque impediu a saída de aviões ou a chegada de outros com uma impressionante coluna humana nas pistas do aeroporto local.
O que defendem os indígenas do TIPNIS?
A demanda indígena questiona os planos imperialistas das transnacionais para a região, o programa IIRSA, (elaborado em finais dos anos 90 pelos governos neoliberais da região que bisca a integração na infra-estrutura para desenvolver o comércio entre os dois oceanos) assim como também as intenções das petroleiras de explorar os hidrocarburos e das madeireiras que vem uma fonte milionária no TIPNIS. Ficou para trás a retórica descolonizadora, democrática e popular, dando lugar ás velhas práticas pró-imperialistas e colonizadoras como as do MNR após 1952, de continuar destruindo povos, culturas, direitos e ecologia a serviço das petroleiras, dos traficantes de madeiras e espécies e de um plano de desenvolvimento regional que tem a Bolívia só como local de trânsito e como provedor de matérias-primas. As acusações sustentadas pelo governo e a cumplicidade do PCB e PCML (maoísta) de que a marcha seria uma manipulação dos EUA e da direita para deslegitimá-lo não se sustentam de nenhuma maneira, já que o IIRSA não só beneficia ás transnacionais e burguesias locais que comercializam entre os dois oceanos, mas que está financiado pelos governos locais.
Por qué Evo Morales reprimiu?
Foi o resultado da preocupação governamental frente ã proximidade das eleições judiciais de 16/10, e a tentativa de evitar que a marcha chegue a La Paz mediante um golpe de força. Estas eleições que o governo apresentou como um passo para a democracia nacional, entretanto tem a particularidade de que um grupo de trabalhadores não pode apresentar seus candidatos, mas todos devem ser eleitos no parlamento e onde a totalidade dos candidatos foram eleitos pelo MAS. Diante deste cenário um arco-íris de setores sociais, sindicais e políticos chamam a votar nulo. A chegada da marcha indígena em La Paz que dia a dia foi conquistando mais e mais solidariedade, questiona as eleições, e para evitar este resultado é que o MAS se lançou na intervenção. Vendo os resultados hoje, há que dizer que a repressão e a posterior resposta do movimento de massas abriram uma das mais profundas crises políticas do MAS, e põem uma sombra sobre o que pode suceder daqui até 16/10.
A greve da COB e a mensagem de Evo: uma corrida contra o relógio
No dia 28/09 após uma esclada de mobilizações espontâneas em todo o país, a burocracia sindical oficialista da COB se viu obrigada a convocar a uma paralisação nacional não só contra a brutal repressão aos indígenas, mas também exigindo o cumprimento dos acordos salariais de maio que não foram cumpridos pelo MAS. A paralisação ainda que parcial, tem sido uma das mais importantes convocadas pela central nos últimos anos: saúde, mineiros, escolas e colégios parados, transporte e comércio irregular, universidades paradas e mobilizadas. Segundo diversas fontes, a quantidade de mobilizados em La Paz chegou a 50.000 pessoas. Esta paralisação mobilizada pôs o conflito de TIPNIS em um âmbito nacional, e aprofunda a crise política aberta ante a convocatória da COB de chamar para 30/09 uma reunião ampliada das organizações em que se colocaria a possibilidade de greve geral por tempo indefinido, com bloqueios de estradas. Mesmo assim, setores sindicais da confederação camponesa afirnaram que marcharão em respaldo ao governo. Ante este cenários, após a finalização da marcha, Evo Morales se desculpou pela repressão aos indígenas, afirmou não ter dado a ordem de fazer isso e se manifestou “consternado” pelo acontecido, já que jamais haviam pensado que em seu governo se poderia tratar desta forma aos “irmãos indígenas”. Com estas desculpas e colocando que há que corrigir erros, o governo convidou as direções das organizações indígenas a dialogar e encontrar uma saída para a estrada de TIPINIS. Porém, a marcha anunciou sua rearticulação e início novamente, além de exigir que se declare a suspensão definitiva da construção desta estrada. O chamado de Evo Morales a dialogar, quando já fracassaram 8 tentativas de diálogo, sem oferecer nada concreto ás 18 demandas dos povos indígenas em centenas de milhares de votos urbanos e colonizadores, pode converter-se em um novo fracasso. A prolongação da crise, o aumento das mobilizações e bloqueios podem não só provocar o fracasso das eleições judiciais, como aprofundar a debilidade de um governo que vem perdendo apoio popular de forma acelerada.
Faz falta um plano de luta nacional elaborado democraticamente
Entretanto, nesta escala de conflitos vemos velhos figurões de partidos burgueses tentando limitar as demandas das mobilizações. Tentam reduzir esta luta a ecologia, mas desvalorizando a luta contra as transnacionais, pelos direitos ã autodeterminação dos povos indígenas. Estes mesmos setores que limitam o programa também buscam limitar os métodos da luta e da ação, e tem medo de que a mobilização indígena se solidarize com os trabalhadores mineiros e fabris, com as manifestações operárias e populares como se deu na última semana. A partir da LOR-CI consideramos, porém, que só se pode vencer se a marcha indígena se une e se fortalece com a ação comum dos trabalhadores, camponeses e do povo pobre. Só em uma luta clara contra os que pretendem saquear o TIPNIS como são as transnacionais petroleiras e madeireiras se pode pensar em um plano de desenvolvimento a serviço das grandes maiorias nacionais. A paralisação da COB deve se converter em um primeiro passo de uma escalada de mobilizações que deve estar orientada por um verdadeiro plano de luta para garantir as demandas do TIPNIS e de todos os trabalhadores e do povo. Este plano de luta devemos elaborá-lo democraticamente e para tal fim consideramos urgente a formação de uma coordenadora nacional de organizações operárias, indígenas e camponesas em luta. Esta coordenadora deveria ser composta por delegados de fábricas e empresas das comunidades, única forma de que se reflita genuinamente a vontade dos trabalhadores em luta. Só assim se pode garantir uma direção a serviço da mobilização combatendo a burocracia sindical e separando de um só golpe os arrivistas e oportunistas que pretendem trair novamente o movimento indígena.
29 de setembro de 2011
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