AS GREVES DOS TRABALHADORES BANCáRIOS E DOS CORREIOS ESTÃO ENFRENTANDO DIRETAMENTE A POlà TICA SALARIAL DE DILMA
Governo Dilma, justiça, imprensa, bancos, juntamente com a burocracia governista, estão jogando duro para impor um ataque ao direito de greve a partir do desconto dos dias parados, para colocar um teto miserável nas demandas salariais dos trabalhadores a nível nacional e para avançar na sua política privatista – através da MP 532 que privatiza a ECT e através de uma séries de medidas internas no Banco do Brasil, medidas que cedo ou tarde vão se estender para a Caixa Econômica Federal, onde a privatização por ora avança principalmente mediante a forma velada das terceirizações de serviços para correspondentes bancários e casas lotéricas.
A nova ofensiva começou na terça-feira, com a conciliação obrigatória no TST entre o comando nacional da greve dos correios e a direção da empresa. A “proposta” da justiça foi a mesma que a da empresa, e mais do que um acordo, é uma punição aos grevistas com o desconto dos dias e compensação aos sábados, domingos e feriados. A CUT/PT e a CTB/PCdoB, que dirigem o comando nacional aceitaram essa “proposta”, numa traição aberta aos trabalhadores. Rapidamente toda a imprensa saiu comemorando o final da greve, mas os combativos ecetistas não haviam dado sua palavra final. No dia seguinte, nos principais estados do país, os trabalhadores dos correios ameaçaram se rebelar e impuseram assim sua vontade ás direções governistas, rechaçando a traição do comando nacional.
No mesmo dia, a rebeldia dos ecetistas começou a contagiar a greve bancária, que até agora tem sido mais passiva. Na assembléia de São Paulo os trabalhadores também se rebelaram contra a política da direção (PT/Articulação) e impuseram a votação de algumas propostas contrárias a política da burocracia, que respondeu explodindo a assembléia.
A justiça do trabalho, numa mostra de que não é imparcial e que nos momentos decisivos se coloca ao lado dos patrões e do governo, determinou que pelo menos 40% dos serviços dos correios devem funcionar e adiantou para sexta-feira uma audiência que estava prevista para segunda, e mais uma vez defendeu um “acordo” que incluiu o pagamento dos dias, trabalho aos finais de semana e uma proposta de reajuste miserável. A Fenaban também acusou o perigo e soltou uma nota dizendo que para fazer uma nova proposta, queria garantias de que ela fosse ser aceita nas assembléias: uma clara tentativa de disciplinar a categoria e de fortalecer a direção conciliadora.
O governo e os patrões se preparam para a crise
A estabilidade lulista, que se apoiou no crescimento econômico, no alto preço das matérias-primas que o Brasil exporta, na entrada de capitais estrangeiros e, principalmente, nos empregos precários e com baixos salários, está chegando ao fim. Os ataques ao direito de greve, a tentativa de limitar as demandas salariais, os avanços na política privatista e os cortes no orçamento federal são algumas das primeiras medidas que o governo Dilma está tomando como forma de se preparar para a chegada inevitável na crise econômica ao Brasil e para ataques ainda mais profundos aos trabalhadores e ao conjunto da população. Em 2009 já vimos como Lula entregou bilhões para os banqueiros, enquanto as empresas demitiam centenas de milhares de trabalhadores. Agora vemos como Dilma ataca as greves, enquanto aprova uma série de incentivos para as grandes montadoras.
No dia 29 de setembro, pela segunda vez o Banco Central divulgou relatório em que se mostrava “preocupado” com os aumentos salariais, em especial com o aumento do salário mínimo que será no inicio de 2012 (de acordo com a regra do governo, ficaria em cerca de 14%), que seriam a principal pressão inflacionária do próximo período. O jornal Folha de São Paulo, em dois editoriais, se soma ã campanha do governo, exigindo um limite para as greves e medidas repressivas por parte da justiça do trabalho (que já está cumprindo seu papel) e responsabilizando o aumento de salários pelo provável aumento da inflação nos próximos meses.
Uma grande mentira, que visa colocar os trabalhadores que saem à luta por melhores salários na defensiva. Os culpados pela inflação são as empresas que repassam os reajustes de salários aos preços para manterem ou aumentarem suas margens de lucro ã custa da classe trabalhadora. Qualquer política do governo, com escalada inflacionária ou com medidas recessivas, será para atacar o salário. Não podemos cair na chantagem patronal e frente ã ameaça de aumento da inflação, devemos responder endurecendo as greves e levantando a demanda de reajuste automático dos salários a cada aumento do custo de vida.
Nós também precisamos nos preparar, superando o controle da burocracia governista sobre as nossas lutas
E a melhor forma de fazer isso é lutando para que as greves de bancários e dos ecetistas sejam vitoriosas nas suas demandas. Essas duas lutas, principalmente a greve dos correios, devem ser encaradas por todos os trabalhadores e pelos setores que se reivindicam classistas e revolucionários, como grandes batalhas de classe contra o conjunto da classe dominante e suas instituições (governo, justiça, grande midia). Contra a traição das direções sindicais governistas, que estão entregando as nossas greves, precisamos fortalecer as medidas de luta para realmente atingir os lucros dos bancos e da ECT e aplicar ações para que as bases tomem a direção das greves nas suas mãos. Em bancários, é preciso acabar com a farsa dos “piquetes terceirizados”, isto é, a prática dos sindicatos de contratar trabalhadores desempregados para substituir os bancários nos piquetes. Contra os “piquetes” terceirizados, devemos impor piquetes reais, combativos, constituídos por ativistas da categoria capazes de manter e aumentar a mobilização, desenvolvendo a consciência dos setores mais atrasados da categoria que não aderiram ao movimento, e enfrentando os fura-greves.
Impor a democracia operária nas assembléias, exigindo que a base tenha voz e que as votações sejam respeitadas, é apenas um primeiro passo que precisamos conquistar, mas ainda é insuficiente. Para levar nossas lutar ã vitória, a tarefa que se coloca na ordem do dia é formar comitês de base a partir de cada local de trabalho e de cada piquete combativo, garantido medidas efetivas para o fortalecimento das greves. Na medida do possível, esses comitês devem ser unificados, com os ativistas de cada categoria se somando, no dia a dia, ás atividades de greve da outra categoria, unificando nossas lutas pela base. Delegados eleitos pelas bases, nesses comitês e piquetes locais, mandatados e revogáveis a qualquer momento, poderiam ser a base da constitução de comandos regionais e nacionais para ambas as greves, avançando para que a direção da greve seja democrática e seja tomada pelos próprios trabalhadores que se colocam na vanguarda da luta.
As comissões de negociação, seja com a empresa ou a justiça, devem estar formadas por representantes eleitos nas assembléias na categoria para realmente representar a vontade dos grevistas nas negociações e evitar novas traições como do comando nacional dos ecetistas que aprovou um acordo sem nenhuma consulta ã base.
A impotência da direção da Conlutas (PSTU) e da Intersindical (PSOL)
Apesar da enorme combatividade dos trabalhadores dos correios e dos elementos anti-burocráticos mais uma vez expressos entre os bancários, as oposições são incapazes de se constituir como alternativa de direção pois não confiam na força dos trabalhadores. O PSTU e o PSOL mantêm uma política de convivência pacifica com a burocracia, o presidente do Sintect-SP (Diviza, do PCdoB) elogia a política “construtiva” das oposições em bancários e nos correios (reservando suas críticas apenas ao PCO). Nos correios a oposição aceita o acordo de não criticar a direção do sindicato para ter lugar no carro de som ao ponto de que na última assembléia dos correios um dirigente da Conlutas igualou essa central ã CTB ao afirmar perante todos os trabalhadores “se a CTB ou a Conlutas traírem (!?) vocês tem que passar por cima da gente...”. Tanto em Correios como em bancários, a oposição (e a responsabilidade recai centralmente sobre a CSP-Conlutas) não luta para que uma das demandas centrais das greves em curso seja a derrubada da MP352, contentando-se em fazer propaganda contra a privatização.
Em bancários, onde o peso da terceirização é enorme e o número de trabalhadores precários diretamente relacionados ás agências bancárias (sem contar as formas mais indiretas de terceirização) é estimado em 50% do tamanho da categoria, a oposição praticamente se cala quanto ao problema, enquanto a direção do Sindicato faz demagogia com projetos de lei para “regulamentar a terceirização”. Enquanto isso, a patronal avança na superexploração de centenas de milhares de trabalhadores, e na corrosão do poder de mobilização da categoria, cada vez mais incapaz de efetivamente parar os serviços bancários sem envolver o conjunto dos terceirizados e precários em uma só luta, por iguais salários e direitos.
Ao contrário de colocar peso nessa questão, o PSTU em bancários está “avançando no corporativismo”, defendendo a política de uma carta a Dilma para exigir negociação especifica para os bancos públicos, o que na prática poderia levar a romper a unidade da campanha salarial com os bancos privados (o mesmo conteúdo tem os acordos em separados que foram firmados em alguns bancos e que a oposição reivindica por terem conseguido índices maiores que os da Fenaban, ao custo da ruptura de uma greve unificada).
De fundo, vemos que uma concepção está por trás dessas ações. A consigna levantada pelo PSTU de “se o Brasil cresceu, eu quero o meu”, desarma completamente os trabalhadores para vencer as atuais batalhas e se preparar para os ataques do futuro. Do ponto de vista ideológico, é uma capitulação ao discurso patronal e da burocracia sindical, que faz o trabalhador se tornar refém e defensor do aumento dos lucros burgueses. Além disso, na atual conjuntura, ela é politicamente ainda mais perigosa, em que a crise se aproxima cada vez mais do Brasil e existe a ameaça de uma queda do crescimento e dos lucros patronais. De conjunto, essa política limita de antemão a possibilidade de radicalização política das greves e o avanço do movimento operário a posições de independência de classe. A tarefa dos revolucionários consiste em educar os trabalhadores na concepção de que todo o bolo pertence a nós, por que somos nós que produzimos todas as riquezas e de que o lucro, seja ele grande ou pequeno é um roubo por parte dos patrões, que não passam de parasitas do trabalho alheio. Se vamos arrancar mais ou menos ou qual vai ser o limite nas nossas lutas, nossa capacidade de mobilização e organização vai dizer, mas não podemos nos limitar a reivindicar uma pequena parte do bolo que cresce...
Terminamos com um chamado aos setores de oposição a romper com essa política de convivência passiva com a burocracia (que visa desgastar as direções governistas para obter ganhos eleitorais) e colocar toda a sua força (em bancários e em correios a oposição tem trabalhos históricos e grande responsabilidade) para organizar de forma democrática o ativismo combativo. Se as agências e departamentos em que a oposição é referência se tornassem exemplos de mobilização e auto-organização, com verdadeiros piquetes combativos, coordenação pela base, comparecimentos massivo nas assembleias e eleição de delegados com mandato para representar os trabalhadores nos comandos nacionais e nas negociações, isso seria um impulso enorme para podermos superar realmente as direções burocráticas que fazem dos nossos sindicatos meras correias de transmissão da política governista e dos interesses patronais.
A todos os ativistas que confiam nas oposições chamamos a debater essas questões e contribuir para forjar uma nova tradição, combativa, anti-burocrática e classista, nas categorias.
11-10-2011
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