Com o fundo de uma crise econômica que não cessa e que se aprofunda dia a dia, a Itália viveu novas jornadas de mobilizações massivas em todo o pais. Em 7 de outubro em torno de 100 mil estudantes se mobilizaram contra os drásticos cortes orçamentários na educação, fazendo esta parte da greve geral que obteve elevado índice de adesão. Foi o maior protesto desde dezembro do ano passado quando a mobilização e os enfrentamentos de rua colocaram o governo em xeque.
Com o lema “Esta crise não é nossa e nós não a pagamos” os italianos viram marchas em dezenas de cidades, incluindo as mais importantes como Roma e Milào, que tiveram suas principais ruas e avenidas bloqueadas durante horas. Os estudantes apontaram durante as marchas os verdadeiros responsáveis pela crise, como em Milào, onde houve a tentativa de ocupar a sede da agencia de classificação Moody e atiraram ovos contra o edifício da UniCredit, o maior banco da Itália. No sábado dia 8, 20 mil pessoas voltaram ás ruas para participar da marcha dos trabalhadores estatais convocada pela central de trabalhadores CGIL contra o ajuste no setor público.
Berlusconi, novamente na corda bamba
Nas mobilizações também foi reivindicado a renúncia do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. O descrédito deste personagem é muito presente nas manifestações, e em dezembro de 2010 por muito pouco não foi obrigado a renunciar seu cargo. Seu governo está atravessando por inúmeros casos de corrupçãoo e abuso de poder, como o emblemático “caso Rubi” de prostituição de menores. Em 29 de maio e 12 de junho sofreu importantes derrotas eleitorais, perdendo o governo de várias cidades e os projetos de plebiscito. Il Cavallieri (quem é este cara?) também possui crescentes problemas com seus próprios aliados no governo, como com a ultra-direitista Liga Norte até com o ministro da economia.
Na terça-feira, 11 de outubro , na sessão do parlamento onde seria votado as contas do exercício fiscal de 2010 e uma lei que censurasse os jornalistas da oposição, Berlusconi queria se utilizar desta ocasião para mostrar-se forte e com apoio de sua bancada, mas a sessão se transformou em um duro revés político e abriu uma nova crise para o governo. Duas figuras chave, o titular do ministério da Economia Giulio Tremonti e o líder da Liga do Norte, Umberto Bossi, em um abierto desplante, não se apresentaram para a votação. Sobre esta base, os referentes dos partidos de oposição defenderam, mais ou menos diretamente (contraditório, não?), a renúncia do primeiro-ministro.
Uma reunião de todos os partidos com representação parlamentarista dicidiu na quarta-feira que Il Cavalieri deverá afrontar um “voto de confiança”, que se dá contrário ao primeiro-ministro e o obrigará a apresentar a renúncia ao Presidente da República, Giorgio Napolitano. Este último teria se convertido nos últimos dias na nova figura política do momento. Ele foi saudado terça-feira no Parlamento em que Berlusconi saía ao mesmo tempo derrotado e furioso, numa mostra de que amplos setores da própria burguesia imperialista italiana consideram que já é hora de uma substituição. Necessitam de uma nova figura que dê um novo ar ã um regime muito desgastado e que está levando adiante um brutal ataque contra as massas.
Crise econômica e ajuste contra trabalhadores
No mês de julho, Berlusconi votou no Parlamento (com uma grande colaboração da oposição) um brutal pacote de ajustes para que sejam os trabalhadores e o povo que paguem pela crise econômica e financeira. Há meses a Itália é um dos focos do ataque do capital financeiro que especulam com o risco de default de sua dívida pública. Em consonância com estes capitais e com a política do FMI e do Banco Central Europeu, o ajuste de Berlusconi pretende afundar a educação e os serviços públicos para pagar aos credores, para a casta política corrupta, para a Igreja Católica (que está livre de qualquer tipo de imposto e recebe subsídeos do Estado de 8 bi de euros anuais), nem sequer se questionaram. O corte atingiu a grandiosa soma de 80 bi de euros em 4 anos, incluindo um amplo programa de privatizações. Ainda que os maiores ajustes venham em 2013 e 1014 (passando a bola ao próximo governo), os cortes já afetaram substancialmente a saúde e a educação, as pensões e todo tipo de planos sociais e assistenciais, uma vez que impõem fortes aumentos impositivos.
Apesar dos ajustes draconianos, o ataque dos “mercados” é desenfreado e segue horadando as finanças e a economia italiana. A quarta maior economia da Europa têm uma dívida pública que supera 120% do PIB nacional, e seu financiamento se encarece cada vez mais, tendo que tomar crédito a altas taxas para uma economia imperialista, de 5 a 6%. Na semana passada a qualificadora Fitch voltou a “baixar a nota” da dívida italiana (um mecanismo que indica o grau de “confiança” em que um país pagará suas dívidas e que incide diretamente na taxa de interesse que se cobra para lhe dar créditos).
Il Cavallieri parece reconhecer as massivas manifestações e, provocativamente, reiterou seu “programa de reformas” e descreveu como “absurdas” os chamados de renúncia. Gozando da hipocrisia que o caracteriza, manifestou que para seu governo significa um grande “esforço pessoal” dirigir o país em meio a crise. Definitivamente, uma série de elementos que fazem prever uma situação muito dinâmica nos próximos meses.
13-10-2011
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