Por Juventude da LER-QI USP
A luta contra a repressão volta a polarizar a universidade!Ç
A USP agora está polarizada pelo movimento contra a PM no campus e contra os processos a estudantes, trabalhadores e SINTUSP. Esse movimento escancarou que a polícia, que massacra o povo pobre nas periferias e executa um genocídio da juventude negra, não vem para proteger, e sim para reprimir, como parte da estratégia de Rodas de destruir a resistência ao seu projeto elitista, racista e privatista de universidade, com a terceirização, demissão em massa via PROADE, fechamento de cursos, precarização do ensino e mercantilização do conhecimento.
Um Ascenso do ME a partir da ocupação da FFLCH
Desde a ocupação da administração da FFLCH, em resposta ã repressão brutal da PM aos estudantes com bombas e balas de borracha cruzando prédios de aula, o movimento recebeu o apoio de importantes intelectuais e entidades, dos trabalhadores em greve da UNICAMP, - aos quais se somaram os estudantes do IFCH! -, construiu um ato com quase mil estudantes contra a repressão, num claro processo de ascensão, que no dia 1/11 culminou em uma assembléia geral com mais de mil estudantes.
“Lideranças Estudantis” negociam com a reitoria, pelas costas do movimento, a desocupação e o fim da mobilização.
Recentemente vazaram na internet documentos em que, no dia seguinte ã ocupação da Administração da FFLCH, 28/10, José Clóvis, assessor do gabinete do reitor, informa o Reitor Rodas sobre “reunião realizada hoje com algumas lideranças estudantis na História”:
“Prezado Professor João, (…) fui conversar com os setores organizados do movimento estudantil e professores. Desse encontro surgiram algumas propostas para colocar fim ã invasão do prédio da Administração da FFLCH: 1) Os alunos disseram que há dois grupos no interior do movimento sendo um organizado, ligado aos pequenos partidos de esquerda; o outro, composto de ultraradicais que não desejam sair. Porém, se a Congregação for convocada extraordinariamente para segunda-feira (…) e for discutida a invasão, os radicais talvez sintam-se acuados; 2) Para além da crítica ã invasão (o que certamente ocorrerá), os alunos entendem que a congregação pode encaminhar ao sr. e ao CO, uma proposta de reforma do Estatuto (…) 3) A proposta deles é que o sr. revogue o convênio com a PM, porém, discuti com eles que isso é pouco provável (…). Uma proposta que acredito a Congregação pode encaminhar e que eles acharam interessante é que um Fórum Permanente de Segurança possa ser constituído com a presença de representantes deles próprios, da PM, de ilustres professores e representantes dos funcionários. (...)”
É um absurdo! Quem são essas “lideranças estudantis”?! Não é muita coincidência que justamente a idéia de "desocupar" a Administração da FFLCH apresentada neste email tenha sido exatamente a mesma proposta que PSOL e PSTU (desocupação) que também por coincidência são lideranças estudantis na FFLCH? Inclusive,em outro documento que está circulando, de 2/6, Waldir Jorge, coordenador da COSEAS, escreve a Amadio, chefe de gabinete, sobre a moradia retomada, citando nomes: “Hoje tive reunião com alunos Adrian e Renan do DCE, (…) há uma grande possibilidade de avançarmos na recuperação desta área. (…) Há uma real vontade deles em acertarmos os ponteiros. Sugiro agendarmos uma reunião (…) e fecharmos mais este pacote de pepino”! Será coincidência que dois dias depois, em pleno domingo, o Conselho de CAs da FFLCH e o DCE tenham se reunido, votado uma exigência ã congregação, e um panfleto unificado com as propostas que no dia seguinte foram aprovadas na congregação? Será coincidência que os 5 CAs e o DCE tenham participado como convidados, o que nunca acontece, e inclusive ajudado a propor os professores que negociariam a desocupação, que só começou depois de uma plenária em que o CAHIS aprovou o programa votado na congregação e a proposta de desocupação?! Quem de fato participou dessa reunião com o assessor da Reitoria, e qual o alcance desse esquema nojento não é possível dizer. O fato é que todas as gestões dos CAs da FFLCH e do DCE, integradas por correntes do PSOL e pelo PSTU, levaram a frente essa política, em bloco.
Quem não organizou um combate contra a repressão e a reitoria durante todo o ano não começaria a fazer isso votando uma desocupação que pode inclusive ter sido negociada com a burocracia acadêmica para enterrar a mobilização por uma promessa de negociação! Querem negociar reformas, mas não estão dispostos a um combate real para expulsar a PM! Além disso, não querem que nada “atrapalhe” o calendário das eleições estudantis, que transformam em um obstáculo ã mobilização. Nós, da Juventude da LER-QI, que compomos chapas junto a independentes nas eleições, queremos ir na contramão dessa tendência, construindo uma campanha eleitoral militante contra a repressão e a precarização de Rodas, e chamamos os estudantes a votarem não somente nos programas, mas em uma prática política que expresse um novo movimento estudantil!
PSOL e PSTU dividem o movimento estudantil deslegitimando seus espaços
Foi como parte desta política que na assembléia de 1/11, após a deliberação da desocupação, em meio a uma votação, a mesa composta por PSOL(DCE) e PSTU(CAELL) declarou unilateralmente o fim da assembléia. Alegam que já estava tarde, que já se havia ultrapassado o horário limite e que havia "confusão". Mas o fato é que a assembléia estava muito cheia, e o horário não havia sido problema até que a posição da mesa foi derrotada na votação entre encaminhar a discussão do “calendário de lutas” ou da proposta de ocupação da reitoria, previamente apresentada na assembléia. Com a votação já realizada e repetida, e a vitória clara do encaminhamento sobre a ocupação da reitoria, PSOL e PSTU decretaram o fim da assembléia e se retiraram!
Então, quase 500 estudantes mantiveram a assembleia legitimamente, num movimento antiburocrático, e decidiram continuar a discussão votando a ocupação da reitoria. Na mesma noite, o prédio da reitoria foi ocupado por centenas de estudantes, que em seguida ratificaram as bandeiras da ocupação da FFLCH, contra a PM e os processos a trabalhadores e estudantes.
Estas organizações políticas tem disseminado uma campanha contra a ocupação dizendo que "não foi legítimo" e que "foi feita uma manobra" para aprovar a ocupação, num falso discurso sobre "democracia estudantil". Coincidentemente é exatamente o mesmo discurso de toda a imprensa e da Reitoria, que estão organizando um operativo repressivo contra esta mobilização, inclusive responsabilizando nominalmente a LER-QI e outras organizações políticas, apagando as centenas de estudantes que votaram e participam dessa ocupação, e nos expondo ã repressão. Como disse o professor Luiz Renato Martins, da Escola de Comunicação e Artes, em coletiva de imprensa apoiando a ocupação "essa é a linguagem da ditadura, dos delatores!". É urgente abrir um debate sobre os métodos e a concepção de movimento estudantil, pois com esse discurso falso o PSOL e o PSTU querem fazer parecer que os que enterram uma luta "democraticamente" são os "democráticos", e os que passam por cima das suas direções mantendo uma assembléia e seguindo a luta são "burocráticos". Uma péssima manobra de inversão de papéis para levar adiante um movimento estudantil anti-burocrático e combativo.
As entidades devem ser instrumentos do movimento, não seus inimigos
O DCE e os CAs são instrumentos de luta dos estudantes. Desgraçadamente estão nas mão de setores que entregam estudantes para a polícia – escoltaram os estudantes até o carro para levá-los ã delegacia! – e que podem ter negociado a traição do movimento; e precisam ser retomadas. Por isso, exigimos que as gestões dessas entidades compareçam ã assembleia geral de 3/11, em frente ã reitoria ocupada, ás 20h, para que se esclareça essa situação. É necessário organizar uma Comissão Independente para apurar os fatos e apresentar para todos os estudantes quem são as "lideranças estudantis" que negociaram com a Reitoria pelas costas do movimento a desocupação.
É preciso massificar a luta contra a repressão a partir da ocupação
Para essa luta, se mostram claramente 3 estratégias. A primeira, que já apontamos, é a estratégia do PSOL e do PSTU. Por outro lado, correntes como o MNN, que se absteve de qualquer luta durante o último ano, e parte dos setores que se reivindicam “autonomistas”, vêm a ocupação como um fim em si, como se fosse o bastante para derrotar a repressão, e por isso não dão um combate real contra a burocracia estudantil, ou seja, contra o apoio que ela tem em um amplo setor de estudantes – não a toa após tudo isso ainda se negavam a criticar as direções e defendiam um chamado a unidade eleitoral com esses partidos! -, além de desligar a luta contra a repressão da luta contra o projeto privatista e precarizante de universidade a que ela serve, e desligar a luta contra a PM da USP da luta contra o massacre protagonizado pela polícia da população nas periferias.
Para nós, por outro lado, é necessário massificar esse movimento, fazê-lo vivo em cada curso, em cada sala de aula, construindo assembléias e paralisações nos cursos, unificar-se com outros setores em luta, como os trabalhadores em luta e as greves na UNICAMP, e buscar aliados, como os professores Chico de Oliveira, Luizito e Souto Maior que declararam seu apoio ã imprensa, foram ã reitoria ocupada e estão levando suas aulas para lá, desmentindo a campanha da imprensa de que se trata de uma ação isolada, dizendo que “é a continuidade de anos de luta de estudantes e trabalhadores em defesa da universidade”
A luta nas estaduais paulistas continua forte com a greve dos trabalhadores da Unicamp, e agora com a greve dos estudantes do IFCH, também na Unicamp. Não fosse a atuação desta verdadeira burocracia estudantil com a ajuda do PSTU, a ascenção do movimento teria seguido forte, e seria possível já nessa próxima segunda-feira fazer um ato ainda maior. Mas o movimento resistiu as manobras e seguiu adiante com a ocupação da Reitoria e os apoios que já conquistou. Hoje a reitoria já anunciou que quer negociar com o movimento de ocupação. Não retrocederemos, e a assembleia de hoje será fundamental para debater a posição da reitoria, a massificação do movimento e a posição das direções do ME.
Juventude da LER-QI
04-11-2011
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