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O futuro da União Européia não se decide na cúpula de Bruxelas, mas na luta de classes
por : Juan Chingo

07 Nov 2011 | A resistência dos trabalhadores europeus ao planos de ajuste, que tem sua vanguarda os trabalhadores e as massas gregas, está servindo de obstáculo para a política da burguesia de descarregar a crise sobre suas costas.

Artigo publicado no jornal La Verdad Obrera N° 451, órgão semanal do Partido dos Trabalhadores Socialistas PTS (Argentina).

A resistência dos trabalhadores europeus ao planos de ajuste, que tem sua vanguarda os trabalhadores e as massas gregas, está servindo de obstáculo para a política da burguesia de descarregar a crise sobre suas costas. A decisão de Papandreu (primeiro-ministro grego) abriu uma situação de incertezas que pode colocar a Zona da Euro ã beira do abismo. Se o plano de resgate for negado com o referendo, será o golpe de fatal para o governo grego e haverá a possibilidade de um default desordenado, sendo este o pior cenário para a estabilidade da UE. Este cenário incluiria a saída da Grécia do euro. Esta jogada arriscada de Papandreu, na tentativa de recuperar alguma legitimidade diante ã crescente manifestação dos trabalhadores e das massas que vêm radicalizando suas lutas setoriais, e que em 19 e 20 de outubro obrigaram as burocracias sindicais a convocar dois dias de greve geral, têm deixado instáveis os “líderes” europeus, que estão classificando a ação como de “total irresponsabilidade”.

Estes, que ainda devem se colocar de acordo nos detalhes mais escabrosos dos planos de resgate votados na última cúpula, vêm sendo tomados de surpresa pela manobra despreparada e aventureira de Papandreu, que quebrou a “solidariedade européia” entre dirigentes e países capitalistas. Buscando sua sobrevivência (ou uma saída menos desonrosa?), e tentando ganhar tempo e conter a crescente cólera que depois dos acontecimentos de 28/10 que se tornou fortemente incontrolável [1] e que fez tremer os pilares do estado burguês, o primeiro ministro grego tenta pressionar seus homólogos europeus para conseguir novas concessões ã Grécia, como uma quitação superior de sua dívida e um plano de reestruturação de termos mais favoráveis ã Grécia sobre a dívida pendente, uma vez que seria um plano para reavivar sua economia, apostando nesta intervenção para evitar a ameaça de um voto contra. Mais uma vez, a velocidade da crise da crise é maior que a capacidade dos políticos burgueses dar uma resposta a mesma. Porém, apesar de seu nervosismo e o dos mercados, que mostra que o grande acidente político como o da Grécia pode desestabilizar a estratégia de saída da crise da eurozona, o plebiscito é uma medida reacionária de Papandreu, que já adiantou que a pergunta será se a Grécia deve permanecer na eurozona. Desta maneira, busca chantagear as massas gregas com duas opções que são igualmente onerosas: ou uma brutal reestruturação dentro da eurozona ou a falência estatal com a reintrodução do dracma (moeda nacional antes da entrada do euro).

O que se sucederá na Grécia no próximo período? Todos os cenários estão abertos: que Papandreu se veja obrigado a renunciar devido o isolamento que têm ficado; que perdesse o voto de confiança no parlamento na próxima sexta-feira frente ã demissão de PASOK (Partido Socialista Grego) de novos parlamentares [2]; que se chame eleições antecipadas, como pede o partido de oposição conservadora Nova Democracia; ou que Papandreu retroceda e anule a convocação do plebiscito. Inclusive o primeiro ministro grego destituiu todo estado maior das Forças Armadas, havendo especulações de que isso seria uma tentativa de golpe de estado. Enquanto isso, os líderes europeus tratam de salvar o que resta de seu plano, recusando-se a negociar os requisitos para um segundo resgate da Grécia, e eventualmente bloqueando a ajuda urgente de 8 bilhões de euros do primeiro plano de assistência até que Atenas não ratifique seus compromisso de aplicar os ajustes exigidos.

No entanto, no marco de tanta incerteza, uma coisa está clara: os trabalhadores e as massas gregas têm alcançado um limite com a austeridade, como mostram as 15 greves gerais do último um ano e meio. Frente ã armadilha do plebiscito é necessário levantar um programa para que a crise seja paga pelos capitalistas, começando pela nacionalização dos bancos e dos grandes monopólios sob controle dos trabalhadores, que prepare o caminho ao poder operário e popular. A Grécia anuncia tempos convulsivos.

Se a burguesia dos distintos países da Europa começa a perder as rédeas da crise, mais cedo ou mais tarde se verá obrigada a uma dura opção: ou um colapso do euro ou uma intervenção abusiva do BCE (Banco Central Europeu), com um custo político imprevisível, já que para a Alemanha esta medida seria difícil de digerir politicamente. As tensões políticas, geopolíticas e de luta de classes no interior de cada estado, e entre eles, podem escalar até o paradoxismo.

[1] O governo heleno se assustou com as manifestações de 28 de outubro, que acabaram por impedir a celebração do desfile tradicional da festa nacional pela primeira vez em 71 anos, colocando o primeiro-ministro em uma posição delicada.

[2] O PASOK, após a renúncia de dois parlamentares em 2/11, seriam apenas 151 os que passariam a controlar 300 cadeiras na câmara.

 

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