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Grécia: crises institucionais após a greve geral
16 Nov 2011 | Após a renúncia de Papandreu, os partidos patronais seguem negociando um governo de unidade nacional que lhes permita implementar os ajustes draconianos...

A crise grega deu um novo salto. Após a renúncia de Papandreu, os partidos patronais seguem negociando um governo de unidade nacional que lhes permita implementar os ajustes draconianos que os mesmos exigem da Alemanha, França e União Europeia para liberar os fundos de resgate. Para isso terão que derrotar a resistência dos trabalhadores, da juventude e dos setores populares que vêm protagonizando a jornada de paralizações e mobilizações mais massivas das últimas décadas. Para que nossos leitores possam ter uma visão de primeira mão dos acontecimentos, o jornal La Verdad Obrera (do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina) entrevistou Pauline, militante do grupo OKDE – Ergatiki Pali (Organização de Comunistas Internacionalistas da Grécia – Luta Operária, -OKDE.GR, em Atenas.


La Verdad Obrera: O que você poderia nos dizer sobre a renúncia de Giorgios Papandreou e as discussões para nomear um novo primeiro-ministro? Quais as perspectivas que a OKDE vê?

OKDE: A primeira coisa que temos que dizer é que logo depois da última greve geral de 48h, em 19 e 20/10, se abriu uma crise muito grande para o governo, que impactou a situação política geral do país. O que se colocou em evidência é que nenhum dos partidos pôde conter a situação, e como forma de superar esta crise, estamos de frente a uma tentativa de conformar um governo de unidade dos partidos majoritários, onde também poderiam participar partidos pequenos como o LAOS, de extrema direita, e a Nova Democracia, devido ao fato de que estes tenham se fortalecido. Era um plano que já estava preparado pelo governo e também porque o sistema político está muito distante das massas não contando com nenhuma legitimidade, e que não têm condições para controlar a situação. É isso que demonstrou a greve geral, que foi uma das três maiores greves dos últimos anos, onde se viu uma importante participação das massas. Cerca de um milhão de pessoas participaram das mobilizações, cifra que por sua massividade somente é comparável com as mobilizações que seguiram a queda da ditadura dos anos ’70. Poderia se dizer que estamos vivendo o que poderíamos chamar de uma “guerra social prolongada” e, nesse marco, esta greve foi um fato muito importante.

LVO: Qual o grau de resistência aos ajustes e como isso se expressa? Qual resistência há dos setores oprimidos e da juventude?

OKDE: A última greve e o movimento nas praças que surgiu em junho não cumpriram o objetivo imediato que tinham de que não se chamasse um referendo. No entanto, é importante mencionar que o nível das greves em todos os setores foi muito grande. Por exemplo, na segunda-feira antes da última greve geral de trabalhadores municipais e estatais, os estudantes, os taxistas, entre outros, protagonizaram ocupações de ministérios, locais públicos, municípios, fatos que precisam ser destacados porque, por exemplo, os trabalhadores do setor público há muito tempo que não aderiam a greves gerais tão grandes, com tanta combatividade. Junto ao movimento grevístico há assembleias nos municípios e nos bairros. Já não se faz mais assembleia geral na Praça Syntagma em Atenas, como aconteceu nos meses anteriores ao grande auge do movimento dos indignados, mas há muitas assembleias hoje em praças e nos bairros onde se discutem formas de resistir aos ataques da crise. Atualmente, entre outros temas, se discute a iniciativa de deixar de pagar os impostos. Existe um novo imposto sob a propriedade que está sendo considerado um ataque muito duro do governo, através do qual o mesmo quer obrigar a todos à queles que possuem uma propriedade a pagar um imposto muito grande. Nas assembleias de bairro discute-se o não pagamento deste imposto, o mesmo vale para certos insumos porque, por exemplo, existem pessoas que se negam a pagar a conta de luz e tiveram este serviço cortado, estando estes se organizando num movimento para que lhes voltem a fornecer o serviço e que não se corte o fornecimento elétrico.

LVO: Isto é apenas em Atenas ou em outras cidades da Grécia também? OKDE: É em toda a Grécia.

LVO: Quais os setores que saíram ã greve além dos trabalhadores do setor público, saúde e professores? Há participação do setor privado?

OKDE: Foi uma greve que não só contou com uma participação muito grande do setor público como também do conjunto da classe média com os trabalhadores. Este processo começou em 5 de maio de 2010 e agora estamos diante de uma confluência dessas classes nas ruas sendo a participação do setor privado total, muito grande.

LVO: É possível ver tendências a processos de auto-organização dos trabalhadores?

OKDE: Por fora do movimento de assembleias nas praças e bairros não há tendências de auto-organização dos trabalhadores. A base produtiva da Grécia é muito pequena, e fora do movimento das praças não existem tendências a auto-organização dos trabalhadores, não há nenhum tipo de processo de auto-organização em fábricas, nem ocupações.

LVO: Qual política levanta as direções reformistas que estão ligadas ou ao redor do PASOK (Partido Socialista) e do KKE (PC Grego)?

OKDE: Do PASOK não tenho nada a dizer, é um partido burguês que se no momento possui 15% dos votos é muito. É um partido que está em decomposição total, já não existe. Não possui nenhum apoio das pessoas. Os dirigentes sindicais que estavam ligados ao PASOK levantam uma política contrária ã de sua direção. São muitos poucos sindicatos que o PASOK controla com alguma relação organizativa. É uma situação muito peculiar, não se pode dizer que (o PASOK) controla algo ou que há sindicatos que apoiam essa política. Por sua parte, o KKE possui uma política totalmente sectária e agora, além disso, atua com uma política de atacar a esquerda, se dedicando a atacar a esquerda radical, não levantando uma política dentro dos sindicatos para estender a organização e desmobilizar a luta. Nos sindicatos controlados pelo PC há pouca participação da base e não há enfrentamento com a patronal. São sindicatos muito passivos e somente se preocupam com as eleições, com a manutenção de seus cargos nos aparatos e com as eleições do Partido Comunista, para manter o vínculo com este.

LVO: Poderia nos contar qual é a política de SYRIZA? Aonde intervêm e qual o grau de apoio ou simpatia possuem entre os trabalhadores e a população grega?

OKDE: SKN/SYRIZA é uma coligação, uma aliança de uma parte da esquerda radical com SYNAPSISMÓS, que neste momento, creio que qualquer um pode ver, o setor da esquerda radical não possui nenhum afeto nas políticas que SYRIZA leva adiante. SYNAPSISMÓS se fortaleceu dentro desta aliança, sendo a principal direção, e por isso não tem uma grande influência. Agora SYRIZA se limita a chamar as eleições e essa é sua política principal, isso em primeiro lugar. Em segundo lugar, o que faz é pedir ao Partido Comunista e ã esquerda em geral uma união eleitoralista para as eleições, nada além disso. SYRIZA também tem uma participação nas lutas, mas também é passiva, e não tem nenhum tipo de apoio verdadeiro para avançar nas lutas.

LVO: Porém as massas as veem como uma alternativa? Levando em conta que coloque em prática sua política eleitoral, chegam a ter simpatia porque lhes veem como uma alternativa?

OKDE: Bom, na situação em que estamos, por exemplo, os dirigentes do SYNAPSISMÓS que aparecem mais na televisão ou que saem em geral em lugares públicos conseguem mais simpatia do que os demais, sim, são melhor vistos que os demais políticos, isso é evidente. E também nas eleições teremos seguramente um aumento muito grande da esquerda. E podemos dizer que há uma simpatia... e também uma esperança das pessoas, de que existe um programa diferente, porém não podemos dizer que acreditam que podemos sair da crise com o programa da SYRIZA...

LVO: Nos conte sobre a política e o papel de ANTARSYA, o partido amplo anticapitalista na Grécia. O quão grande é? Onde intervém e com qual política?

OKDE: O ANTARSYA é também uma coligação da esquerda radical, criada há três anos, depois de 2008. Nós opinamos que está coligação está dando, aos poucos, passos ao reformismo. E esta situação não é nova, porque quando a crise se iniciou em 2007, as principais forças que participaram nesta aliança afirmavam que não havia crise. E durante os últimos três anos o que estão fazendo é levar adiante uma política que busca formar uma união em geral e fazer uma ampla frente da esquerda. Agora dizem abertamente que buscam uma confluência com as massas e com os setores do PASOK, e no geral uma ampla frente com SYRIZA e com o Partido Comunista. No último período, nas lutas que tem participado, se nota que não estão ã altura da gravidade das circunstâncias que estamos vivendo. E nós pensamos que essa política de frente ampla de esquerda é algo muito perigoso.

LVO: Por último, para que nossos eleitores possam conhecer melhor a OKDE, apesar da distência, poderia nos contar que política ou qual programa levanta a OKDE?

OKDE: Bom, o principal para nós neste momento é ajudar no desenvolvimento da auto-organização de todos os setores, da população nas praças, e como parte disto levantamos a perspectiva de um levantamento geral com a participação de todos, como alternativa diante das saídas institucionais, dos partidos majoritários e das saídas eleitorais. No nosso programa defendemos o cancelamento da dívida, o não pagamento aos órgãos internacionais e nos negamos a pagar os impostos que o governo impõe. Como parte do nosso programa levantamos a consigna de uma greve geral política como forma de derrubar o governo. Junto a isso levantamos demandas necessárias para a saída da crise como a estatização dos bancos e das empresas mais importantes, o estabelecimento de um controle estrito de capitais e de monopólios do comércio exterior do movimento, além de outras medidas anticapitalistas de “auto preservação”, como expropriação e estatização das grandes empresas, dos bancos... e também defendemos a luta por uma outra sociedade, pelo socialismo, pela revolução.

LVO: Quer agregar mais alguma coisa?

OKDE: Em geral esta “guerra de resistência prolongada” que vive o povo na Grécia é algo que tem um grande impacto na União Europeia e no mundo inteiro, e a luta dos trabalhadores da Grécia é a luta dos trabalhadores da Europa e de todo o mundo. Em todos os setores e em todos os países temos que apoiar a luta na Grécia. E buscamos solidariedade de todos os trabalhadores e todas as organizações, e mais ainda dos partidos revolucionários e das forças revolucionárias na Europa e em qualquer outro país.

10-11-2011

 

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